sábado, 18 de dezembro de 2010

Eleição no Gabinete do Prefeito

1 – Era demais supor que não houvesse interferência do Gabinete do Prefeito no processo sucessório da Mesa da Câmara. Como houve há dois anos, era absolutamente previsível que se repetisse. Carlos Nelson não entregaria de bandeja o comando do Legislativo. Interferir é sempre uma atitude de risco, mas é menos perigoso do que deixar correr solto.

2 – Do modo como as coisas caminharam nos últimos 30 dias, o desfecho tornou-se imprevisível. Com toda certeza, se prossegue na trilha pela qual caminhava, o racha da Casa, e não apenas do governismo, seria fatal. Poderia acontecer qualquer coisa. Como, por exemoplo, do tipo que sucedeu, há alguns anos, na Câmara dos Deputados, quando dissensões do situacionismo deram a presidência ao semi-analfabeto pernambucano Severino Cavalcante.

3 – A Câmara de Mogi Mirim não tem, entre seus 17 representantes, um só com capacidade de liderança. É uma colcha de retalhos, quase todos os representantes localizados no mesmo plano e atuando de maneira inteiramente individualizada. Não há ação de conjunto, orgânica, com focos identificados. Atira-se para todos os lados, sem qualquer noção global do que é o município.

4 – Esse fator – seja como causa ou conseqüência – levou à exacerbação das vaidades e à multiplicação das candidaturas. Há aquele que se considera no direito de subir à presidência porque foi o mais votado nas urnas. Outros sustentam-se no argumento de que, por já exercerem mais de um mandato, são a bola da vez para comandar a Casa. Existem os que vêem na presidência a rampa de lançamento para a disputa da Prefeitura e, por fim, os que querem porque querem, alicerçados no fato de que no plenário todos são rigorosamente iguais em deveres e direitos.

5 – Testemunhei muitas eleições para a Mesa, mas não me recordo de ocasião como a de agora, com tantos voluntários se oferecendo ao escarneante sacrifício de ocupar o posto mais alto da Casa. Em cenário dessa natureza, a probabilidade de antever o nome de quem seria eleito na quarta-feira era tão simples quanto acertar as dezenas da mega sena do dia 31.

6 – Ora, se uma coisa não se pode dizer de Carlos Nelson é que seja bobo. Quando se recolhe a momentos de estranho silêncio não é porque esteja desatento ou desinteressado. É porque está maquinando e olhando pelas frestas as fragilidades em que pode lançar seus dardos. E, se não bastasse ser possuidor de enorme esperteza política, é o dono da caneta e sabe da incapacidade de seus pares resistirem ao seu discurso. De um lado porque não dispõem mesmo de argumentação que suba a um palmo do chão. De outro, porque dependem.

7 – Por fim, esclareço: não estou dizendo que sabia que aconteceria o que se deu na noite de quarta. Não estou me vangloriando. Estou apenas dizendo que não me surpreendi com a engenhosidade que pôs todo mundo de joelhos. Deverá haver um preço a ser pago. Só bom argumento também não costuma resolver nestas horas e em tais circunstâncias. Mas, com o calculismo do prefeito, esse preço será bem menor que se deixasse o controle do Legislativo cair em mãos não confiáveis. A eleição, em resumo, foi no Gabinete.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Encruzilhada

1 – Depois da rejeição das contas de 2007 e dos projetos de ordem tributária, Carlos Nelson ficou diante de uma encruzilhada em relação à escolha da nova mesa da Câmara. Ou entra rasgando, na pressão, com garantia de que pode decidir a favor de seus interesses, ou tira o corpo fora e deixa que o andar de cima resolva sozinho. Uma intervenção mal-sucedida agora tornaria ainda mais deteriorada a já má-relação que acaba de ficar caracterizada.

2 – Aliás, não consigo prospectar nos subterrâneos da política momentânea qual dos fartos nomes lançados teria a preferência do prefeito. O mais caninamente fiel tem sido João Antonio Pires Gonçalves, que de Carteiro agora só carrega o apelido, uma vez que mudou de função na esfera dos Correios. João seria aquele que, na abertura das sessões, leria antes a bíblia de Carlos Nelson. O fato é o seguinte: está para ser dada a largada em um renhido páreo, com direito a puros sangues e parangolés.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Autofagia política

1 - Eu me recordo de ter escrito, no pós-eleição de 2008, que a maioria conquistada pelo prefeito Carlos Nelson na Câmara seria algo difícil de controlar e de manter. A Câmara havia sofrido ampliação em suas cadeiras, subindo de 10 para 17 e, nesse conjunto, 14 chegaram ao andar de cima do Paço montados na garupa do governismo. Em princípio, Márcia Róttoli, Orivaldo Magalhães e Benedito do Couto seriam vozes isoladas, considerando a dimensão da bancada situacionista. Dizia eu então que o difícil era saber quanto isso duraria. Que não duraria eternamente apostei desde o começo, me lembro que mencionando, entre as razões para o esgarçamento, a disputa de poder e de interesses.

2 – Hoje, para confessar, acho que o monolitismo foi longe demais. Foi à Câmara, afinal, não um grupo afinado partidária, programática e ideologicamente, mas o resultado de uma salada de frutas, ou numa outra visão, de uma grande feijoada, com ingredientes dos mais diferentes sabores. O governismo, em resumo, não foi construído sobre ideias e propostas. Erigiu-se sobre interesses. Suspeito haver, entre os eleitos, vereador que foi conhecer na campanha. Teria sido em cima do caminhão se comícios tivessem havido. Ora, essas construções não costumam mesmo resistir todo tempo, ainda que possam resistir até por anos. Pois resistiu por menos de dois. Constata-se o miserável grau de unicidade quando se verifica que, sequer dentro do próprio partido a que se encontra filiado o prefeito, há afinamento de posições. As contas do prefeito, relativas a 2007, foram ao ralo com votos tucanos. E não é de se estranhar, porque, no rigor das coisas, Carlos Nelson é mesmo um estranho no ninho.

3 – Restam a Carlos Nelson dois anos de mandato. De governo, um e um tantinho mais, porque quando o calendário virar de dezembro de 2101 para janeiro de 2012, estará aberta a temporada eleitoral e, a partir daí, salve-se quem puder. Não vejo como, exceto se na mais doce pressão, o prefeito vai conseguir reagrupar de novo as ovelhas desgarradas. A política costuma ser um Atlântico de enganos, mas certas posições estão me parecendo por demais consolidadas para que possam ser revertidas. Em alguns casos, a indisposição alcança o terreno pessoal. São fundas as queixas e muitas delas de ordem individual. Aí fica mesmo difícil.

4 – Para arrematar, não é a Carlos Nelson que deve caber necessariamente a tarefa de recuperar os infiéis. Ele, afinal, não estará na rinha. E a quem caberá tal encargo? Eis uma enorme interrogação sem resposta. O governo não projetou – ao menos até aqui – alguém com luz tão intensamente suficiente para contornar as diferenças e erguer-se com algum cacife para ser aquilo que se costuma chamar de ‘nome natural’. O governo não partilha virtudes. É exercido unipessoalmente, opera impositivamente. O que é, aliás, uma das causas das reações agora mais agudas e explícitas. O cenário, em resumo, não sugere a hipótese do refluxo. Ao contrário, sinaliza para crescente radicalização. E, por fim, sinaliza lá adiante com a perspectiva de uma eleição renhida, não improvavelmente num quadro de autofagia política.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A volta do prazer

1 – Que bom! Rivaldo vai defender o Mogi Mirim no próximo Campeonato Paulista. Todos nós o conhecemos, desde que foi revelado para o mundo vestindo a camisa vermelhinha. Aqui chegou desconhecido, mirrado. Foi uma aposta de Wilson Barros, que o descobriu como craque em apenas um olhar. Juntamente com ele, aqui aportaram os não menos desconhecidos Leto e Válber. Não sou capaz de dizer se Rivaldo é melhor que os dois ou o contrário. Mas, o fato é que acabou se transformando na pérola do Carrossel Caipira, alvo de cobiça e, por fim, senhor do mundo.

2 – Sob o ponto de vista de reputação e consagração, este Rivaldo de agora é outro. Não é mais a aposta, mas um campeão do mundo consagrado e festejado por vários continentes. Rico também – o que lhe é de direito. Este é o craque que estará deslizando pelos gramados paulistas, a partir de janeiro, envaidecendo e orgulhando os mogimirianos. E craque sempre é agradável de ver, mesmo que seja pagando um pouco mais caro. O melhor custa mesmo mais caro. Além disso, Rivaldo vai erguer o Mogi Mirim Esporte Clube a um outro patamar. As lentes das tevês com certeza estarão atentas a ele, torcedores não faltarão a lhe pedir autógrafos, uma camisa, o calção ou que seja a caneleira.

3 – Em resumo, pressinto que o craque-dirigente porá o Sapão da Mogiana, como gostosamente se referia ao time a inesquecível Zezé Brandão, em outra órbita. Atrevo-me a dizer que, com Rivaldo, o Mogi será o grande entre os pequenos. Excluídos Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos, não haverá entre os demais alguém com luz e ressonância semelhante. Quando o time jogar contra o Linense, por exemplo, não será um duelo de pequenos. Ao menos um grande estará em campo, ainda mais se Denílson e Paulo Isidoro forem capazes de jogar bola compatível com a do presidente. Pressinto mais: que teremos espetáculos de nível, agradáveis de serem vistos, compensadores de todos os sacrifícios. Por consequência, aposto em que, após anos de secura e estádio vazio, o torcedor voltará às arquibancadas. Creio que teremos os ingredientes para resgatar o gosto de ‘ir ao campo’, como é habitual dizer, ao contrário de ficar em casa diante da tela fria e impessoal da televisão.

4 – Para ser sincero, Rivaldo está me fazendo recuperar o entusiasmo pelo futebol – aquele futebol logo ali, pertinho, quase vizinho, que para assistir não é preciso viajar quilômetros e pagar pedágio. É só subir a Monsenhor Nora, um pulinho. Estou me convencendo de que, finalmente, a estiagem vai ter fim. Vamos ver toque refinado, o balão correndo bem rente à relva, como diziam nossos antigos locutores, a jogada feita com arte, inteligência, sutileza, malícia – com tudo que é próprio do futebol brasileiro. Quem garante? Ora, esse pernambucano esguio, algo tímido, por quem passei, há anos, dentro de um ônibus circular que seguia em direção ao Jardim Maria Beatriz, cuja personalidade parece não ser tido minimamente abalada pela glória e pela fama. Boa bola, Rivaldo.

sábado, 20 de novembro de 2010

Vazando pelo ralo

1 – A fidelidade política é aspecto comum à convivência de lideranças e liderados. É natural, portanto. Todavia, sempre cabe certo comedimento para que esse tipo de manifestação não ultrapasse certos limites, evitando ingressar no terreno da subserviência. Aí já é se transformar em vassalo. Pois é o que tenho percebido em certas manifestações, neste pós-eleições em que alguns quedaram derrotados e outros celebram efusivos. Algumas manifestações sinceramente me causam pena, por verificar até onde se desse para – rigorosamente – puxar o saco de figuras em evidência. Ora, uma das riquezas que o ser humano tem o dever de preservar é a personalidade própria, a altivez e a independência. Até mesmo porque, sobre a face desse nosso planeta, nada é definitivo e imutável. A vida dá voltas e, quando isso acontece, impõe certas cobranças difíceis de serem digeridas.

2 – Eu não me esqueço de trombadas monumentais entre figuras que hoje se beijam de língua, no que me parece ser uma relação falsa e cínica, pautada pela conveniência. Pode ser que a conveniência tenha pautado as duas situações. Não sei como reagiriam hoje, se fosse passado o filminho dos episódios que, ao menos de ouvido, testemunhei. Que os caminhos convergiram é evidente. Diz certa sabedoria que, quando não se consegue vencer o inimigo, o melhor a fazer é aliar-se a ele. Vejo bastante gente, e gente da grossa, como diria um especial amigo quando quer se referir a personalidades do andar de cima, praticando esse esporte.

3 – Objetivamente, a questão é a seguinte: instalou-se um deprimente endeusamento, despudorado, indigente, miserável. Não é por sinceridade, como é óbvio. É por cruzamento de interesses. Além do mais, quem anda puxando o saco de maneira tão desmesurada sabe o que está fazendo. E com quem está fazendo. Vai no cerne. Ataca no ponto. A vida me ensinou – muito embora eu tenha aprendido tão pouco na vida – que certas personalidades nasceram para o endeusamento, sobrevivem do orgulho, cultivam a soberba. É um direito, reconheço. E para estes não faltam os acólitos, aquele pessoal da fila do gargarejo, que baba ante o rei.

4 – Por natureza, costumo ser esperançoso. Acredito na ‘renovação da espécie’ política, sobretudo quando um ou outro exemplar põe a cabeça fora d’água, parecendo querer emergir para um porvir. De velho – digo eu mesmo – já me basto eu mesmo (nem sei se esta construção está muito certa, mas que vá). Penso que, quando faltam horizontes, esperanças, pouco se terá a fazer em cima desta bola. Mas, como se diz que as decepções costumam ser inversamente proporcionais, em sua dimensão, às satisfações, estou começando a achar que estou perdendo tempo.

5 – Por experiência própria, sei que o sistema é cruel e que as vaidades humanas são terríveis sob o ponto de vista destrutivo. Aqueles quinze segundos de glória nem sempre são administrados com sabedoria. De todo modo, tendo manter o otimismo até o extremo dos extremos. Mas, quando aquela mosca azul inocula a maldita seiva, não há remédio que consiga curar. Pois assim estou vendo o que supunha merecer a minha fé, escoar pelo ralo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Cada um dá o que tem

1 – Por hábito e por necessidade de ofício, utilizo permanentemente os serviços oferecidos através da Internet. Minha matéria prima, como de todo jornalista, é a notícia. No curso da recente campanha eleitoral, cometi alguns escritos e li muito. Mas, muito mesmo. E de tudo isso, uma enorme parte, senão a predominante, com fortes ingredientes de intolerância e de ódio. Vi gente de qualidade pondo à luz pobrezas escondidas. Nesse mesmo período, recebi mensagens indesejadas, seja porque não as pedi, seja porque de conteúdo rançoso e raivoso. Tudo isso foi me causando a sensação de que, um dos mais importantes instrumentos postos à disposição do cidadão, foi pessimamente utilizado, em muitas das vezes para externar frustrações e indigência mental.

2 – Agora, leio que a organização Safernet, que abriga denúncias de violações contra os direitos humanos, apresentou denúncia ao Ministério Público Federal acerca da prática de racismo e de apologia a crimes contra a vida. Por maior que venha a ser punição, se isso de fato ocorrer, será infinitamente desproporcional ao mal causado. No duplo sentido: da agressão a valores e da banalização de ferramenta tão útil como a rede mundial de computadores. Desde logo digo que as manifestações permitiram constatar a existência de demônios de todos os lados. Não houve só os bonzinhos de uma banda e os malvados de outra.

3 – Caramba, a liberdade de manifestação de idéias é uma bem de valor incalculável. E o é porque esse é um direito que não poderia ser sonegado a ser humano algum em qualquer parte que seja do planeta. Se você não pode se exprimir, para aplaudir ou para criticar, para expor o que pensa, para tentar influenciar como lhe cabe como cidadão, de que servirá o resto? O que me pareceu ficar patente é que boa parte dos seres humanos não sabe conviver com tais valores, supondo que eles sejam ilimitados no sentido de que, ao invés de opinar e exprimir conceitos, dão liberdade à exploração do terreno da ofensa, da agressão, do ataque vil e de outras condutas em total desacordo com os padrões de convivência humana.

4 – Sabe-se que os bens que a sociedade cria para si mesma nunca estão livres dos preços e dos efeitos nocivos que podem dar causa, dependendo do modo com que sejam utilizados. E a internet, desgraçadamente, oferece um vasto território para ocultar a face, para dar o tapa e esconder a mão, para assacar calúnias e não ser alcançado pelos braços da lei. Na campanha eleitoral da qual acabamos de sair, verificou-se uma demoníaca exacerbação dessas condutas, quando respeito pelo outro foi atirado à podridão dos lamaçais. A velha sabedoria diz que “cada um dá o que tem”. É uma triste e desgraçada realidade. Acho que ao tropeçar em uma pedra, até os padres soltam um palavrão. É a reação da hora. Não é aquilo que está por dentro dele. Já os que se esconderam atrás dos teclados dos computadores para expressar seus maus instintos nada mais fizeram do que dar o que tinham.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Projetando para 2012

1 – Há alguma relação a fazer entre o resultado do segundo turno da eleição presidencial e o futuro político mais imediato da cidade, considerando o desempenho alcançado pelo candidato José Serra, que bateu em 72% da preferência dos mogimirianos contra apenas 28% de Dilma Rousseff? Uma coisa pode ser projeção para outra? Em linguagem mais direta: 2010 pode ser um sinal para 2012? Responder assim num bate-pronto de sim ou não é uma imprudência. Talvez até mesmo tolice ou, quem sabe, uma irresponsabilidade.

2 – Aos resultados eleitorais nem sempre se reproduzem nas diferentes hierarquias, do federal ao municipal. O pleito local tem nuances muito próprias, além do natural aquecimento das disputas que ganham contorno, muitas vezes, até pessoais. Só isso já é o bastante para não estabelecer, de imediato, paralelo entre uma coisa e outra. Todavia, há casos e casos. Tomo Campinas: elege em repetição um aliado de Lula, Hélio de Oliveira Santos, para a Prefeitura, e prefere o tucano José Serra na disputa presidencial. Tomo Mogi-Mirim: habitualmente vem elegendo nomes contrários aos da corrente lulista. Desta vez, por exemplo, foi o que se chama de resultado acachapante. Ou goleada, no jargão futebolístico.

3 – Explicações, sim, haverá para o fenômeno. Além do que pode ser a preferência natural do eleitor mogimiriano, sem influência alguma de lideranças ou conselheiros, é claramente presente a desigual relação de forças políticas no ambiente do município. Relação de forças que, além de ser partidária, é grupal. O governismo de hoje na cidade, por exemplo, não expressa uma majoritariedade partidária, mas de grupo. Em torno da administração estão reunidas correntes de muita, pouca ou nenhuma afinidade. E isso pesa. A oposição, ao contrário disso, é absolutamente fragmentada em legendas. Portanto, não orgânica enquanto conjunto e desorganizada enquanto individualmente.

4 – Dito isso, penso que se os comportamentos de 2010 se reproduzirem em 2012, o que me parece difícil, a tendência será de que os resultados também se reproduzam. Com alguma escala de diferença, mas com grande probabilidade de não serem diferentes no sentido de vencedores e perdedores. Aliás, entre outras razões, já foi por isso que, há dois anos, os oposicionistas só conseguiram enxergar o vencedor pelo binóculo, tal a distância entre eles e este.

5 – Ora, o que aconteceu este ano pode tender a se repetir na disputa local, em outubro de 2012, se dois fatores não estivessem em mira. Um deles é a previsível fragmentação, agora, do grupo governista, tantas são as ambições, no seu próprio seio, para a sucessão de Carlos Nelson. Com certeza o prefeito vai segurar alguns, mas improvavelmente não será capaz de amansar todos. O outro fator é a perspectiva de que os contrários à atual gestão, depois do que aconteceu em 2008, tenham aprendido a lição. Não é possível, afinal, que não conheçam a velha sabedoria de que errar é humano, persistir no erro...

sábado, 23 de outubro de 2010

Quase um pigmeu

1 – Não são todos os políticos que se esforçam por zelar por sua biografia. Ora exacerbam na sua dimensão e se erigem nos senhores de todas as coisas, todas as vontades, todos os saberes. Ora dão um belíssimo pontapé em sua história, no desespero por uma conquista, um mandato, um degrau a mais de poder. As eleições deste ano estão deixando para a posteridade uma exemplar demonstração do quanto a visão embaça quando a iminência do fracasso parece um oceano roçando os lábios, pronto a levar a vítima à morte por afogamento.

2 – Precisamente, refiro-me ao ex-governador José Serra, a estas alturas com tantas probabilidades de vencer a eleição quantos são as de quem aposta na Mega Sena. Os números teimam em não lhe favorecer. Ou, melhor dizendo, a maioria dos eleitores insiste em negar-lhe adesão. Mantenho certas cautelas, porque pesquisas, afinal, são pesquisas. Mas, não me parece crível que em uma semana dê a volta na opositora. Voltando às ideias, Serra vai sair da disputa com estatura inferior, mas muito inferior em relação àquela com a qual entrou. Por que?

3 – De uma figura com presença histórica reconhecida até pelos contrários, portador de uma biografia respeitável pelas funções ocupadas em décadas de presença na vida política, não se poderia esperar que resvalasse para varejo tão mesquinho, descendo às profundezas dos apelos eleitoreiros nitidamente de ocasião. Para traçar um paralelo, não me surpreenderia com promessa de Maluf de elevar o salário mínimo a cinco mil dólares. De Maluf se pode esperar tudo e um pouco mais. Mas, foi espantoso ver um ex-governador conhecido por seu rigor com os números acenar com mínimo de 600 reais, 10% de aumento para aposentados, pagamento de um bolsa-família extra, semelhante a um 13º salário, e coisas do gênero. A seus adeptos convictos e sinceros, Serra deve ter causado arrepio dos pelos e dos cabelos. Com perdão da ofensa, mas esteve próximo de igualar-se aos Levy Fidelix da vida, que nos aborrecem teimosamente em todas as campanhas para governador e presidente, com suas excentricidades e seus absurdos.

4 – É verdade que Dilma Rousseff, até ontem (me acautelo porque a campanha ainda não acabou), foi incapaz de fazer verter uma única ideia em que pudesse estar presente seu DNA. Repetiu o que lhe mandaram dizer e surfou comodamente a onda de Lula. Por isso mesmo, Dilma nem precisa mesmo trazer à luz grandes ideias. Ao contrário de Serra, por duas razões. Primeiro, porque teria que contrapor soluções convincentes às praticadas pelo atual governo para poder inverter o girar da roda. Em segundo lugar, pela reputação de que desfruta, de agente competente, com longa experiência política e administrativa acumulada ao correr de anos, desde que tenro jovem presidiu a UNE.

5 – Serra preferiu a contramão da direção que teria por obrigação seguir. Cedeu aos apelos politiqueiros. Subordinou-se às regras das quais lançam mão os habituais promessões – no que, aliás, se transformou. Pena. Que me perdoem seus admiradores, mas se essa campanha foi uma porcaria, o foi por substancial contribuição de Serra. Que, por isso mesmo, sai dela menor, mas muito menor do que entrou. Quase um pigmeu.

sábado, 16 de outubro de 2010

Até quando, Lula?

Caramba. O governo vai terminar e Lula continua insistindo na tese divisionista entre ricos e pobres. Em Minas, disse que as elites ainda não o absoveram enquanto metalúrgico na presidência da República.

“Agora é preconceito e medo de uma mulher ganhar as eleições”, afirmou. Que coisa mais atrasada, inteiramente fora de contexto histórico.

Lula foi eleito duas vezes. E em situação a não deixar qualquer dúvida quanto à preferência dos brasileiros. Será que é capaz de identificar os eleitores que o escolheram, de modo a supor que, fora da categoria dos pobres, os outros todos foram contrários?

Fosse assim e não se elegeria uma única vez. O argumento é usado como se, agora, houvesse uma conspiração das tais elites contra a candidatura de Dilma Rousseff.

Quanto bobagem. São Paulo já teve duas prefeitas. Aliás, ambas do PT. Fortaleza também. Santos também. O Rio Grande do Sul tem uma governadora e o Rio Grande do Norte também já foi conduzido por uma mulher.

Preconceito? Isso é tese com validade vencida. Se Dilma ganhar, como parece mais provável, será por uma série de atributos em que, penso, pouco pesará o fato de ser mulher. Mas, se perder, com certeza não será pelo fato de ser mulher.

Lula está na história do Brasil por múltiplos fatores, inclusive o de ter sido o primeiro operário a ter galgado a presidência do país. Não será, todavia, por esse discurso que, ao contrário do que diz Dilma, nada tem do espírito tolerante do brasileiro.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Arremesso de lama

1 – Quando foi diferente? Desgraçadamente, as eleições não conseguem se livrar do componente denunciatório. Porque eleição é cercada de elementos cruéis. Para vencer, vale tudo, até difamar a mãe do adversário, que na campanha é transformado no pior dos inimigos. Compreendam bem: não estou aplaudindo, mas apenas fazendo um resgate do que os anos me mostraram. Esse esporte de arremesso de lama no concorrente é praticado em todas as esferas. De cima em baixo, de cabo a rabo. Já aconteceu muito por aqui. Às vezes, funciona, produz efeito. Em outras, a superior vontade dos cidadãos ignora essas condutas.

2 – Trato do tema pelo quanto ele foi recorrente no debate entre Dilma Rousseff e José Serra, domingo à noite, na TV Bandeirantes. Dilma se antecipou no tratamento do assunto, sobre o qual Serra também não deixou de pôr o dedo. Na Internet, verte um tsumani de denúncias, acusações, ofensas e calúnias. Como a tal rede mundial de computadores oferece essa facilidade, boa parte do que é vomitado não tem origem definida ou autor identificado. Com certeza – isso é claramente perceptível – parte de ambos os lados. Talvez alguns mais virulentos. Mas, nessa matéria ninguém é santo.

3 – Esses procedimentos dignos da idade da pedra é tão incorporado às campanhas eleitorais que os marqueteiros acabaram por descobrir que aí está um fator com tendência a favorecer seu candidato. É sabido que o sentimentalismo dos cidadãos pende quase sempre em favor do injustiçado, do ofendido, do que seria, portanto, teoricamente o mais fraco. Pois então por que não usar os episódios como se fossem maldades disparadas contra alguém indefeso? O que vi nestes primeiros dias das escaramuças do segundo turno me parecem demonstrar que a campanha de Dilma adotou a estratégia. Ou isso não ficou absolutamente transparente no confronto com seu opositor na noite de domingo?

4 – Para não deixar o assunto perdido, com cabeça mas sem pé, vou ao que considero as consequências da exploração do expediente. Este pode servir mesmo à candidata de Lula pela penetração espontânea de que ela desfruta junto ao eleitorado de condição sóciointelectual menos privilegiada. As pessoas simples são mais suscetíveis a emoções, pelo quanto de dificuldade curtem na própria vida. Em tese, pois, são levadas a se solidarizarem com quem consideram estar sendo injustiçado. No caso, injustiçada, tratando-se de Dilma. Sendo assim, colar em Dilma o rótulo da caluniada pode render adesões preciosas nessa faixa do eleitorado.

5 – A questão é saber a eficácia que esse expediente possui junto ao grupamento dos eleitores mais frios, mais racionais, aqueles que examinam os candidatos não por sensações emocionais, mas em face do conteúdo de cada um. Não se trata de dizer que estes não se emocionem ou sejam incapazes de chorar. Trata-se apenas de não ignorar a porção que estes possuem de carapaça capaz de evitar o arrepio dos pêlos e o amolecimento do coração. Na noite de 31 deste mês saberemos tudo isso, quando soubermos quem será o sucessor de Lula da Silva.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Divagações pós-eleitorais

Conhecido o resultado das urnas, construí a impressão de que as candidaturas genuinamente de Mogi Mirim foram conduzidas com certo grau de ingenuidade.

Faço a seguinte comparação: para se eleger vereador, não basta pintar muros e fazer barulho pelas ruas. É preciso ir aos fundões, conhecer lideranças, amarrar alianças e apoios, o que em geral não se consegue de graça. Porque eleição pressupõe custos.

As candidaturas a deputado obedecem – ao que entendo – exigência semelhante. Esparramar santinhos por outros municípios e sair em fotografias com prefeitos e outros personagens é muito pouco, senão nada mesmo, para arrancar votos em terra estranha.

Nesse sentido, se estou certo no que suponho que tenha acontecido, os cinco candidatos foram primários. Ou, ao contrário do que juraram durante a campanha, estavam mesmo é fazendo teste para a disputa municipal de 2012 – o que, sinceramente, considero o mais provável.

Para onde irá Marina

Supor que os quase 20 milhões de votos obtidos por Marina Silva são dela é laborar em erro. Ela é titular de parte. Da maior parte. Mas, parcela disso é voto migrado e de última hora, por desencanto com Dilma e Serra. Talvez mais com Dilma.

Esses votos migrados, portanto, teoricamente não têm destino certo para o segundo turno. E os votos dos quais Marina é titular podem ter uma tendência, mas com certeza não de forma homogênea. Se Marina Silva assumirá posição explícita ainda é uma incógnita.

Penso que, com a responsabilidade de uma liderança que emergiu do primeiro turno, Marina não poderá ficar em cima do muro. Precisará se expressar, ser o farol do seu eleitorado.

Mas, também será erro crasso antever que a palavra da candidata conduzirá seus liderados para o lado que pender. Como se sabe, o que vai pela cabeça do eleitor é insondável. Só o sabe ele mesmo. E nós, aqui, só ficaremos sabendo na noite de 31 de outubro.

sábado, 25 de setembro de 2010

Falsa generosidade

Que a instalação de unidades da antiga Febem, agora Fundação Casa, causaria problemas a Mogi Mirim nunca houve dúvida. Ainda mais que uma delas abriga rapazes de longo histórico de ‘atos infracionais’.

Afinal, por que seria diferente aqui? Acho que há uma questão a examinar no caso. Fossem as unidades aqui plantadas após estudos e critérios bem objetivos que o justificasse, seria explicável, ainda que desagradável do mesmo modo.

Todavia, não foi o aconteceu. A instalação das unidades foi claramente um preço exigido para a instalação da Fatec e a transferência do fazendão da antiga Febem ao patrimônio da Prefeitura.

Não nos esqueçamos, além do mais, que a compreensão recorrente, na ocasião, era de que Mogi Mirim receberia uma unidade de menores primários. Até mesmo o prefeito Carlos Nelson foi surpreendido, certo dia, quando recebeu um emissário do Estado e este deu a má nova de que, ao invés, de uma seriam duas.

A generosidade do Estado para com a cidade não é bem a que tanto se alardeia. Houve uma relação de troca. Com ganhos. Mas, com um pesado preço.

Umas e outras

1 - A Secretaria dos Transportes já pode reinstalar a placa da praça do pedágio de Santo Antonio de Posse, que mandou retirar sob o pretexto de que não continha todas as informações sobre a obra. Não há nada mais que temer. Nem prejudica Alckmin, que parece com a fatura liquidada, nem ajuda Serra, que cumpre tabela na eleição presidencial. Aliás, sob o ponto de vista político, a implantação do pedágio, na hora em que foi anunciada, parece ter sido obra de elefante em loja de cristais. Nem inimigo faria maldade tão bem feita.

2 – Nos últimos dias, me dediquei a ouvir, aqui e acolá, previsões de votação dos concorrentes locais a deputado. A julgar pelo que ouvi, Mogi Mirim precisará ter um colégio de mais de 100 mil eleitores. As contas não batem dentro dos 62 mil inscritos. Não desconsiderando um detalhe: a perda de votos em eleições proporcionais, especialmente de deputados, é muito grande.

3 – Aparentemente, houve efeitos predatórios dos escândalos da Casa Civil na candidatura de Dilma Rousseff. Ao menos em algumas faixas do eleitorado, mais sensíveis a esses episódios. Mas, ao que tudo indica, nada que exija mais do que um band-aid para fazer o curativo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Samba do crioulo doido

1 – Há alguns meses, nas preliminares da campanha eleitora, o Gabinete do Prefeito serviu de sede ao PSDB para a aclamação do nome do deputado federal Silvio Torres como o estuário dos votos do tucanato local. Foram enaltecidas as virtude do parlamentar, bem com a contribuição que ofereceu à cidade, nos últimos anos. Ele seria, portanto, ‘o cara’. E até que começou assim mesmo. Mas, na última quinzena, venho sendo bombardeado por informações de que o barco de Torres sofreu alguns desembarques. E gente de peso, tucanos de rica plumagem, que foram se alojar na embarcação do também já deputado federal Carlos Sampaio, cujo mandato atual deve, por mais de 5 mil votos, a Mogi Mirim.

2 – Por efeito desse fenômeno, como me disse um amigo, segunda-feira, os bois não podem mais ouvir falar em eleição que saem voando do pasto. É que o consumo de filé mignon tem subido à alturas inimagináveis nos últimos dias, aqui e pelas bandas de Mogi Guaçu, para reunir adeptos em torno de Sampaio. Haja espeto para tanta carne. Já bocas, naturalmente, não faltam.

3 – Aliás, ouvi mais. Até mesmo o deputado federal Paulo Teixeira, do PT, também teria sido recepcionado num evento politicamente ecumênico, com representantes de confissões políticas as mais diferentes. A informação tem nexo. Teixeira andou abrindo algumas portas em Brasília para o governo local encaminhar pleitos. E tem mais nexo ainda quando parece não haver mais dúvida de que o Planalto continuará a ter por inquilino, a partir de janeiro, o mesmo PT de agora, representado por Dilma Rousseff. Portanto, faz bem ter um parlamentar petista à mão.

4 – O fato é que a atual campanha eleitoral está um verdadeiro samba de crioulo doido, como na letra de Sérgio Porto, que se assinava Stanislaw Ponte Preta, na coluna que publicou por anos na Última Hora. Tem para todos os gostos e para as combinações mais esdrúxulas. Tucano apoiando tucano por cima e pepessista por baixo. Pedetista apoiando pepessista por baixo e pededista por cima. Tem tucano renegando tucano. Enfim, a esbórnia é geral. Para explicar: uma das traduções para esbórnia é orgia. E o que está acontecendo não é muito diferente.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Escala Richter

1 – O epicentro foi desde logo identificado: a Casa Civil do Palácio do Planalto, um andar acima do gabinete do Presidente da República. Foi lá a origem do terremoto. O que ainda não foi determinado é o grau de sua intensidade na Escala Ricther. Disso vai depender, e muito, o encaminhamento das eleições nos próximos 16 dias. Estrago o terremoto vai fazer. Ouso supor que, nestas alturas e em face do sinistro mais recente, a decisão vai acabar no segundo turno.

2 – São por demais claras as evidências contrárias à ex-ministra Erenice Guerra, tida, até outro dia, como o braço direito de Dilma Rousseff, enquanto esta permaneceu na boléia do Palácio do Planalto. Os Guerra de Erenice tomaram conta e, ao que parece, agiram com a sensação da impunidade, originada na certeza de que as maracutaias – para usar terminologia do Lula deputado federal – jamais seriam descobertas. Com uma agravante: sabe-se agora que as operações tenebrosas já se processavam às costas de Dilma, quando Erenice ainda era sua imediata. Não vai faltar potencialização do escândalo, pela mídia e pelos opositores do governo, suficiente para pôr algumas, ou muitas, cabeças em dúvida. A propina que corria na Casa Civil é de muito mais fácil entendimento, até pelas pessoas mais simples, que a violação de sigilo de contribuintes do Imposto de Renda.

3 – Não creio que as possibilidades de Dilma se tornar sucessora de Lula se reduzam à impossibilidade. Ainda penso que, no fim, leva o título do campeonato. Mas, acredito que, doravante, mais sofridamente. As últimas pesquisas já captam certa migração de intenção de voto em camadas mais esclarecidas, muito embora ainda não toque, nem de leve, na vantagem da candidata petista, que segue sustentando folgada vantagem em relação a José Serra. Sob a ótica da lógica – embora seja certo que, como em futebol, na política a lógica de nada serve – a tendência é de intensificação desse movimento, pondo em risco a margem de folga para Dilma levar já em 3 do próximo mês.

4 – Necessariamente, entretanto, o estuário dos decepcionados não será o concorrente tucano. Estou inclinado a pensar que os trânsfugas vão correr para os braços de Marina Silva. Ela oferece a aparência da candidata mais ética, que não ataca e não sofre contestações, o que poderia ser natural considerando que a candidata do PV foi governo. De forma direta, Dilma e Serra também não expõem fraquezas. Apresentam-se como fichas limpas. Não há escândalos conhecidos que os envolvam. Mas, de digladiam, o que não costuma agradar certa fatia do eleitorado, avessa a esse tipo de conduta agressiva. Marina trafega em faixa própria, martelando um discurso que, se não encanta, também não assusta.

5 – Para quem votaria em Dilma por absoluta rejeição a votar em Serra, Marina é, portanto, o caminho. É difícil que, mesmo se beneficiando desse movimento, vá a um provável segundo turno. Mas, não é desprezível considerar que haverá segundo turno exatamente por ‘culpa’ de Marina. Mais um pouquinho e a soma dela com Serra e com os do subsolo pode ser o bastante para tirar das mãos de Dilma o troféu para o qual ela já arrumava lugar na estante. Tudo vai depender do grau que o terremoto da semana alcance na Escala Richter.

sábado, 11 de setembro de 2010

Inquietações para o pós-eleição

As campanhas eleitorais não revelam. Ao contrário, escondem. Confrontados com temas críticos, os candidatos escorregam pelas laterais para não sofrerem arranhões. Seja do lado governista, seja do lado oposicionista.

A eleição presidencial está resolvida. Se não for no primeiro, Dilma Rousseff vai vencer no segundo turno e receberá a faixa de Lula.

E então, pergunta? O que pensa Dilma? Que soluções tem em mente para as encruzilhadas inevitáveis e as crises tão certas quando a sucessão do dia pela noite?

Fará um governo de mera continuidade ao atual? Não creio que inverterá rumos, mas terá que possuir seu próprio receituário para a condução do país num cenário em que governar é, cada vez mais, uma tarefa internacionalizada.

Inquieta também saber que, por ter indicado o vice-presidente, o PMDB deverá agir com muito maior voracidade no abocanhamento de cargos, o que é algo muito perigoso. O DNA do PMDB é suficientemente conhecido.

Michel Temer disse, embora depois tenha tentado conversar, que o próximo será um governo de quatro mãos. Terá Dilma Roussef o jogo de cintura e, quando necessário, a autoridade suficiente para conter a volúpia do maior cotista do consórcio?

Tenho dúvidas. Só isso: tenho dúvidas. Ou: não tenho certezas. As circunstâncias em que Dilma Rousseff vai chegar ao Palácio do Planalto são muito especiais. Chegará pelo amparo de um presidente com espetacular aceitação popular. Jamais deve ter imaginado a hipótese de, um dia, se tornar a chefe da Nação.

A questão, pois, é saber como se conduzirá quando Lula sair de cena (ou não sairá) e se perceber diante da responsabilidade de escolher soluções e adotar decisões por aquilo que sua cabeça recomenda.

Tomara que tudo que esteja escondendo em sua campanha seja um virtuoso cabedal de sabedoria que surpreenda os brasileiros a partir de janeiro. Para o bem.

Quando conversar não é perda de tempo

Conversar é o meu esporte preferido. Não tive o tempo que gostaria, mas pude trocar algumas impressões com o candidato ao Senado pelo PV, Ricardo Young, na redação de O POPULAR, que visitou na quinta-feira, dia 9.

Passamos por alguns temas em velocidade de Fórmula 1. Necessariamente, nem divergimos, nem convergimos. Nem ele me pediu o voto, nem eu me comprometi nesse sentido.

Penso que esse tipo de decisão não se toma a partir da primeira impressão. É por isso que existem as campanhas: para ouvir, refletir e optar. Mas, não posso esconder minha confissão: foi agradável e proveitoso conversar com um personagem que jamais houvera visto na minha frente.

Tenho para mim que as conversas são úteis quando me locupletam, ocupam o vazio das minhas carências. E o breve diálogo com Young foi produtivo nesse sentido.

O varejo esteve longe de suas abordagens, assim como as picuinhas comuns à política em época de caça ao voto. Não nos ocupamos de voto.

Para este pobre escriba, foi uma rara ocasião estar diante de alguém com visão de país e com preocupações de nação, quando o cotidiano é composto de questões periféricas.

Ricardo Young sabe que não vai ser senador. Pelo menos desta vez. Assim, pareceu-me alguém entregue a uma tarefa de longo prazo. Alguém disposto a sair por aí para inocular ideias e compartilhar reflexões, sacerdócio de que este país tanto se ressente.

Findo o rápido encontro, pensei: está aí alguém que, como candidato a deputado federal, se elegeria com certeza. E que, no Congresso, ofereceria importante contribuição à nacionalidade. Ao menos, torço que não desista ao final dessa primeira experiência.

As voltas que a política dá

Ao se afastar da Prefeitura de São Paulo para assumir o governo do Estado, José Serra deixou em seu lugar o vice Gilberto Kassab. Portanto, o favor que Kassab lhe houvera feito, levando o DEM à coligação na eleição para governador, estava pago. E bem pago.

Veio a eleição municipal. Geraldo Alckmin lançou-se candidato à prefeitura paulistana. Kassab à reeleição. Serra largou Alckmin sozinho pedindo carona na beira da estrada. Kassab se reelegeu.

Vieram agora as eleições gerais. Serra e Geraldo novamente na disputa. O primeiro à presidência, o segundo a governador.

Pois bem. Quando começou a perceber que era um paciente quase terminal, uma vez que até no seu estado está perdendo para Dilma Rousseff, o que fez Serra?

Foi agarrar-se ao pescoço de Geraldo Alckmin, tentando beber da água que jorra generosamente em favor do candidato a governador.

Geraldo deve estar rindo por dentro. Ainda mais porque, com o fracasso de Serra, o PSDB estadual vai cair em seu colo.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Só não vê quem quer se iludir

Escrevi em meu twitter, outro dia, que os métodos políticos de José Serra são pesados, cruéis. Do tipo é na goela. Implacável.

Um tucano se aborreceu. Pelo conceito emitido, identificou-me como dilmista e antiserrista.

Errou duas vezes. Para decidir em que vou votar tenho até 3 de outubro.

Fora minha condição de eleitor, portanto com direito de escolher a quem eu considere melhor, sou pretensioso observador da cena política.

Nessa tarefa, em muitos casos, me valho das informações, algumas até tratadas em forma de confidência, que recolho no banco da Praça Rui Barbosa.

Para o caso que abordei, no que diz respeito aos métodos tratorais utilizados por Serra, há um exemplo local que reforça meu convencimento.

Foi com o estímulo e o aval de Serra, em reunião palaciana, que Carlos Nelson estuprou o PSDB local.

Lideranças tucanas históricas foram olimpicamente desprezadas. Tanto que, hoje, o partido revive o não saudoso tempo das sublegendas. Por aqui há o PSDB-1 e o PSDB-2. Só não vê quem quer se enganar. E por obra e graça de quem?

O futuro está próximo

Nas eleições de 2006, o governo municipal moveu suas forças em prol da candidatura de Carlos Sampaio.

Por obra de Carlos Nelson, ele levou 5 mil votos de Mogi Mirim e depois deu uma majestosa banana à cidade.

Foram esquecidos, mesmo com fortes relações locais, Nelson Marquezelli, do PTB, e Silvio Torres, do PSDB, apoiado lateralmente por tucanos não subordinados.

Agora, o governo da paróquia move todas suas baterias em apoio ao nome de Torres.

Uma conversão que tem suas explicações na linha que o horizonte está traçando.
Se Alkmin for mesmo eleito para o Palácio dos Bandeirantes, o controle do governo e do partido no estado vai migrar do PSDB-JS para o PSDB-GA.

Sabidamente, Silvio Torres é dos tucanos mais influentes nas redondezas de Alckmin. Inclusive se indispôs com o outro lado quando, em 2006, esteve entre os primeiros a defender a candidatura de Geraldo para a presidência.

Ele, portanto, será a chave para abrir as portas do palácio e dos cofres do Estado com Alckmin na boleia. E, sabido é, o governo municipal de Mogi Mirim não sobrevive sem o oxigênio das verbas do Estado.

Então, resolvido: todo o gás a Torres, pois suas mãos é que conduzirão ao pote da felicidade. Torres não é bobo. Já percebeu. Não pode recusar os votos que venham a ser capturados em seu favor por aqueles que o menosprezaram solenemente há quatro anos.

A questão é saber a resposta que dará. Não deve bloquear os dutos por onde escorrem as verbas de São Paulo para Mogi Mirim, mas possivelmente eleja outros interlocutores.

O futuro pertence a Deus - dizem fiéis a convicções religiosas - mas está próximo. Logo saberemos.

Bastava apenas responder

1 – Passada a tormenta, que aliás não moveu um só fio dos meus já ralos cabelos, é hora apropriada para refletir sobre a questão da hora: a troca de hidrômetros. E parto de uma indagação que me fez o repórter Kaique Barretto: sou contrário à providência que o Saae está adotando? Respondi convictamente: não.

2 – O Saae está coberto de razão quando argumenta ser necessário otimizar o uso da água. Disso, aliás, O POPULAR já se ocupou mais de uma vez em editorial. Perdas que se verificam, entre outros fatores, pelos ralos uma de uma rede de distribuição que, em alguns pontos, já celebrou jubileu de ouro. Não escapam também os vazamentos internos nas propriedades dos usuários. Então, a autarquia resolveu fazer e fez. Não creio que sem a noção das consequências que a medida iria produzir. E produziu.

3 – Por medirem com maior precisão, os novos equipamentos levam obviamente ao aumento no valor das contas. É de lógica elementar. Porque aferem integralmente, gota a gota, a água que passa pelo cano. Sendo assim, pois, quem gasta 20 mil litros mensais e não sofrer desperdício por vazamento, vai pagar pela precisão do volume consumido. É injusto? Não. Injusto é gastar 20 mil e pagar 15 mil, o que provavelmente ocorre em muitas, em centenas, talvez em milhares de situações. Daí advirem os murros no estômago que muitos usuários estão sofrendo. A intensidade dos casos em que a agressão ao bolso possa ser produto da anormalidade no funcionamento dos novos aparelhos é desprezível. Não é a causa, mas mero acidente.

4 – Por ululante obviedade, a providência adotada vai concorrer para o aumento da receita. É o que admitia ainda em fevereiro o engenheiro Pauloroberto Silva Junior, ao assinalar que a iniciativa do Saae iria minimizar as perdas aparentes em vários bairros da cidade, “aumentando o faturamento da autarquia”. Claro. Num exemplo ao acaso, um bar que, pelas peculiaridades de sua atividade, gasta 15 mil litros de água por mês, vai arder com uma conta maior, tomando por certo que seu consumo era submedido. É, pois, mais recursos no caixa. Questão cristalina, como a água que o Saae capta, trata e serve.

5 - Por tal circunstância, era – e continua sendo – inteiramente procedente saber quando o Saae iria – e vai – ganhar com o procedimento que adotou. Uma sobreposição de faturamento, considerando o reajuste generalizado promovido nas tarifas no final do primeiro semestre e os 25% do ano passado. Pela mesma razão, era procedente perguntar se o reajuste tarifário não seria dispensável, tendo em vista as perspectivas de aumento no faturamento com a medição mais apurada do consumo. Em outra hipótese, ofenderia perguntar por que não aplicar um redutor de modo a minimizar o efeito em cascata da troca dos hidrômetros, se o objetivo não era arrecadatório? Se estou equivocado em minhas concepções e, com alguma probabilidade minhas inquietações refletem as mesmas de uma meia dúzia de pessoas, bastaria me convencer. Com respostas.

sábado, 21 de agosto de 2010

O candidato que Lula queria

Quem tem alguma proximidade com a política ouve, com frequência, que os métodos operacionais de José Serra são pesados, beirado ao cruel. Ai de que atravessa seu caminho.

O problema é que isso funciona quando se tem o poder nas mãos. Em busca de conquista, como é o caso presente, funciona na direção contrária. Coopta, mas não agrega.

É o preço que Serra está pagando. Interpôs todas as dificuldades possíveis a Aécio Neves, até alijá-lo. Queria ser o candidato a presidente, na suposição de que seu inventário político seria imbatível ante uma mulher de currículo modesto.

Menosprezou Lula. Ignorou o quanto podia um presidente quase à beira da unanimidade. Banalizou a escolha do vice, sob a pretensão de que ele é que importava. Ele venceria, ainda que a seu lado se fincasse um poste.

A tudo Lula foi contemplando com seu sorriso malandro de líder curtido na vida sindical, enquanto Serra não descia se sua soberba.

Serra foi construindo, passo a passo, a candidatura de oposição que Lula queria. E, inebriado pelo cheiro de naftalina de seus acólitos, o ex-governador seguiu impávido e colosso.

Colheu os frutos das sementes que lançou em terreno infértil. Alcançou o destino que erigiu para si mesmo.

Lula há de lhe ser grato eternamente. Porque não precisava de um candidato ideal, mas de um adversário ideal. Serra foi, portanto, tudo que Lula queria. Sim, queria, porque a eleição acabou.

domingo, 15 de agosto de 2010

Carlos Nelson foi apenas Carlos Nelson

1 - O conceito deste jornal acerca do prefeito Carlos Nelson Bueno não sofreu alteração alguma em consequência dos destrambelhos que proferiu durante a semana contra esta publicação. Nem a conduta editorial de O POPULAR vai se mover um milímetro sequer, para o seu lado ou contrário ao seu, em face do mesmo episódio. Afinal, este jornal não se move por humores de ocasião, mas pelas reflexões que faz em torno dos fatos de interesse dos mogimirianos.
Do mesmo modo, o nosso conceito acerca do político Carlos Nelson Bueno não se altera em uma vírgula, posto que uma coisa é autoridade e a forma que ela se conduz no exercício de seus misteres e outra é a personalidade e os métodos políticos e pessoais que emprega na relação com os cidadãos em geral.
Começando pela segunda vertente, o sr. Carlos Nelson Bueno é, como de todos sabido, um exemplar proeminente na fauna política que adota a prática do ataque e da ofensa a quem – segundo seu confuso juízo – ousa atravessar o seu caminho e não lhe reconhece como o único onisciente sobre a face da terra. Erige-se, como conta seu largo histórico, na condição de infalível, como se um ente diferenciado fosse no conjunto da humanidade. Por essa razão, em tudo quanto não lhe agrada ou o incomoda, há maldade como mote.
Nesse aspecto, ao proferir a logorreia noturna de terça-feira, em seu programa de televisão, pago com dinheiro dos cidadãos, Carlos Nelson Bueno nada mais foi do que Carlos Nelson Bueno. Sem tirar nem por. Dele se aguardem sempre manifestações desse jaez. Daí porque O POPULAR dá o fato como encerrado, considerando a inutilidade de que se revestiria o alongamento da discussão, sob o ponto de vista do interesse do leitor.


2 – Cabe, agora, uma palavra relativamente ao desempenho do desafeto gratuito desta publicação como gestor da cidade, que é de fato o que interessa. Pois, em seu governo e meio, Carlos Nelson Bueno nada mais tem sido do que Carlos Nelson Bueno. Semelhante ao que fez em Mogi Guaçu, aqui também planta obras pela cidade. E, diga-se por justiça, nesse aspecto constrói um saldo positivo, sobretudo no que diz respeito ao âmbito urbanístico, em que promoveu cirurgias importantes no tecido urbano de Mogi Mirim.
Faz, segundo avaliação deste periódico, um bom governo. Mas, a isto não é capaz de agregar a humildade necessária para considerar o contraditório e ao que soma uma exuberante dose de arrogância, como se todos devessem, por dever de plebe, se curvar ante os decretos do rei. Mas, isso também é o de menos.
É imprescindível lembrar, todavia, que nem por isso a sociedade lhe deve gratidão e mesuras. Fazer é do dever. Fazer bem feito é responsabilidade inalienável a quem se oferece para gerir os interesses dos cidadãos. E, no caso do sr. Carlos Nelson Bueno, é dever maior ainda, posto que, notoriamente, usou Mogi Mirim como abrigo para suas intermináveis ambições de poder, quando se viu compelido a se exilar de sua cidade de origem, defenestrado que foi exatamente em consequência de seus anacrônicos procedimentos políticos.
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Editorial de O POPULAR, edição de 14 de agosto de 2010, sábado

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Os humores dos poderosos

1 – Quando a soberba fica maior que o personagem é um caso sério. Tem gente que não percebe já terem se exaurido seus 15 minutos de glória – se é que duraram tanto. São aqueles que sobem ao ponto mais alto do pódio da vaidade e se lambuzam em falsa sabedoria que, por trás, esconde cavalares doses de ignorância e de arrogância. É do gênero humano, como observo sempre. É questão de dar tempo ao tempo. Um dia passa e, aí, a realidade é dura e cruel.

2 – Em Mogi Mirim, o poder funciona assim – até rimou. Quando alguém quer saber alguma coisa, o poder silencia, se fecha em copas e adota o monólogo, custeado pelo dinheiro do contribuinte para dizer o que lhe convém. Aí, quando ele quer falar, se oferece generoso. Caso de agora.

3 – O POPULAR não obteve resposta alguma às 10 perguntas que encaminhou ao presidente do Saae, Rodrigo Sernaglia. Perguntas pertinentes. Todas. Inclusive quando tocava na questão política, uma vez que a natureza do cargo de presidente da autarquia, como de diretor de departamento, é política. A indicação é política. Voltando ao fio da meada, entre outros temas, o jornal tentou obter esclarecimentos acerca da troca de medidores de água em que o Saae se meteu, com os reflexos de todos conhecidos. Segundo as mal-traçadas linhas que chegaram à redação, na semana passada, a questão estava sendo tratada por diversas formas pela Assessoria de Comunicação. Sendo assim, a entrevista convocada para hoje deve estar no rol das “Outras alternativas estão sendo estudadas”, conforme o texto oficial que aqui desembarcou na quinta-feira. Porque a entrevista se destina a “reforçar detalhes do projeto de troca de hidrômetros na cidade”.

4 – Rubens Ricupero, então ministro da Economia, disse ao jornalista Carlos Monforte, da Globo, mais ou menos o seguinte: “o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente joga debaixo do tapete”. Mutatis mutandis, parece ser o caso presente. O que convém a gente fala, de preferência sem ninguém enchendo o saco com perguntas. Sobre o que não convém a gente silencia, escapa, foge, dá de ombros. Deve ter chegado o momento da conveniência de falar.

5 – Em todo esse episódio, uma vez mais ficou evidente como o poder transforma a personalidade das pessoas. E o que é pior: para pior. Como não posso acreditar que Rodrigo Sernaglia tenha se recusado a enfrentar as questões postas pelo jornal por medo, pusilanimidade, sobra a alternativa da subserviência, da subordinação. E os indicadores nesse sentido são mesmo fortes, na medida em que as indagações de O POPULAR transitaram antes pelo Gabinete do Prefeito, ao qual é adstrita a Assessoria de Comunicação. O presidente do Saae recebeu ordem de não falar. Ou, numa hipótese um pouco benevolente, curvou-se a convincentes conselhos no sentido de que se mantivesse de bico fechado.

6 – A hipótese é perfeitamente crível, porque há históricos. Houve momento, há algum tempo, em que nada, nem só um pio poderia sair dos bicos tucanos do governo municipal que não fosse sob aval do prefeito. Pouco a pouco, a ordem se tornou putrefata como um defunto, que agora parece ter sido exumado com todo mau cheiro inerente a tal.

sábado, 7 de agosto de 2010

Apego e descompromisso

1 – Os cargos públicos, aqueles aos quais os ocupantes têm acesso pelo mérito do companheirismo, são muito ambicionados. Muitas vezes há luta feroz para abocanhar o naco. É do sistema e é da natureza dos políticos. Há raros casos de personagens que vão para o poder para servir aos interesses dos cidadãos. Ao contrário, lá se aboletam para se servirem. Cargo comissionados dão status, projeção para futuros projetos eleitorais e, em geral, salário não desprezível num mercado de baixa remuneração. O servidor público, como se sabe, ganha mal, muito embora não faltem os que não deveriam ganhar melhor mesmo.

2 – Contraditoriamente, do mesmo modo que os chamados cargos de livre provimento são alvo de grande apego, também são tratados com absoluto descompromisso. Vejamos no quadro local o que vem acontecendo não de agora. Fábio Mota se afastou em 2008 para disputar as eleições. Desapegou-se. Eleito, mandou o mandato de vereador às favas e voltou ao lugar de onde saíra. Rogério Esperança idem. Sai, entra, briga para voltar e, daqui a pouco, dá um pontapé na cadeira e vai para as ruas pedir voto para tentar se eleger deputado. Absoluta falta de compromisso com o interesse público. Moacir Genuário fez, da Subprefeitura de Martim Francisco, trampolim semelhante. Acho que estou esquecendo de alguns. Mas, não faz diferença.

3 – Pois agora, não é que agora o número 1 do governo, Gerson Rossi Junior, também expressa o mesmo menosprezo pela função e resolve – por deliberação ou por imposição – trocar o posto por função na campanha eleitoral do deputado estadual Barros Munhoz. Lembre-se que Gerson chegou a se afastar do Gabinete, no final de março, para viabilizar legalmente sua candidatura à Assembléia, atropelada exatamente por Munhoz, quando o ex-prefeito de Itapira resolveu refluir suas ambições e abandonou o projeto da candidatura a deputado federal. Ali criou-se um nó. Como de dentro de um governo do PSDB poderia sair um candidato que se defrontaria com um candidato ao PSDB? A corda roeu do lado óbvio.

4 – Não consigo, certamente pela minha parca capacidade de entender e interpretar os fatos, encontrar uma explicação plausível para essa sandice. E para o que, sem tirar nem por, é um absoluto descompromisso para com as altas responsabilidades que detém. Ou detinha. Que certamente deterá de novo, assim que passar a campanha eleitoral. O cargo, assim, vai se transformar num brinquedo, daqueles que, na nossa infância, a gente se esquecia por algum tempo e, pouco depois, o elegia de novo como preferido.

5 – Peço licença para baixar o nível: é uma esculhambação. O pior é quando figuras de boa reputação, com credibilidade e respeitabilidade, se prestam a tal serviço. Ou a tal vassalagem. E o que é pior. Cultivo a suspeita de que Gerson vai exercer um papel de ‘regra três’. Será o operador da campanha de Munhoz em face da ausência, por rompimento, do então fiel escudeiro Carlinhos Bernardi.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Pode ser na primeira bateria

1 – Como é natural da época, o que mais perguntam é o que acho que vai acontecer em outubro, na disputa pelo Palácio do Planalto. Um tucano de primeiríssima plumagem, por exemplo, admitiu estar pensando na hipótese de que Dilma Rousseff vai levar já no primeiro turno. A perspectiva que traça é derivada, claro, dos resultados das últimas pesquisas, que põem a candidata do PT alguns substanciais pontos à frente de José Serra.

2 – Penso não ser desprezível a possibilidade de que a ex-ministra liquide a fatura já em 3 de outubro, dispensando um segundo embate no final do mês. É algo difícil, considerando que a campanha vai se abrir mesmo a partir da exposição nos programas de televisão. Mas, chama a atenção a regularidade da posição de Dilma, que subiu e ficou. E faltam menos de dois meses para a eleição. Desdenhada pelo tucanato mais soberbo, ela parece definitivamente consolidada.

3 – Hoje, o que a faria despencar da privilegiada situação de liderança? Somente um grande, mas um enorme escândalo que a envolva. O que não parece algo sinalizado no horizonte, até pela carreira política relativamente modesta da ex-pedetista. Dilma é quase aquilo que costumo chamar de ‘político imaculado’. Por não possuir extensa história, possui poucas manchinhas pretas no coração. Lembram-se que nossos avós diziam que, quando pecávamos, ficava uma marca preta no coração?

4 – Necessariamente, o histórico de José Serra, de origem bem anterior ao de sua oponente, não o faz mais ameaçado por tropeços cometidos ao longo das décadas em que está na estrada. Mas, inegavelmente, Dilma está muito mais a salvo. E se a candidata não possui registros inconfessáveis que possam incomodá-las, tenho para mim que a outra via para despencá-la, que seus adversários insistem em utilizar, seja inútil: bater em Lula. É perda de tempo.

5 – Lula não tem seus gargalos? Claro que sim. Em dois governos,é impossível não abrir flancos. O mensalão, por exemplo, transitou pelas suas cercanias, rondou alguns fios mais longos de sua barba. Mas, não o afetou. Nem a mais tênue mancha produziu em seu paletó, que não tenha sido removida com um sutil peteleco, um pirarote. Além disso, o assunto é página virada, matéria vencida. Não tem a menor importância contextualmente na disputa que agora se trava. Não tira voto de um e nem dá a outro.

6 – Concluo, pois, que Lula está blindado. Quem sofre a bateria de críticas que ele enfrenta e resiste com índice de aprovação na beira dos 70% está quase imune. Criou um anticorpo invencível. Vai deixar Brasília sob consagração. Gostem ou não os que não gostam dele. Em sendo assim e como o ex-‘sapo barbudo’ – na definição do finado Leonel Brizola, quando ambos andaram se estranhando – é não só o fiador como o maior animador e avalista da candidatura de Dilma, a ex-ministra se põe mesmo em condições muito privilegiadas. Acho que será um fato excepcional, mas não estranharei se ela der a volta em Serra logo na primeira bateria do grand prix eleitoral, dispensando a volta às pistas.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Eleição e televisão

Concordo inteiramente com César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, que os debates entre candidatos não tem caráter definidor das eleições. O máximo a que se prestam é a erodir candidaturas, quando surpreendidas no contrapé das pegadinhas.

Uma resposta impensada, um gaguejamento diante de uma questão inesperada, uma traição de memória ou confissão que não deveria ser feita. O autor paga o preço. Já ao contrário disso, o desempenho exemplar, bem comportado, com respostas estruturadas, quase nunca alavancam votos na quantidade suficiente para desequilibrar a disputa.

Por uma razão simples: o formato e as limitações de tempo não permitem que os confrontos revelem conteúdo substancial, capaz de esclarecer e de convencer. Na verdade, na verdade, são grandes shows televisivos que servem às emissoras para se lambuzarem em seu próprio mel.

Dizer o que se vai fazer com o país e do país em conta-gotas de dois minutos, três minutos, é atribuir aos candidatos uma capacidade de síntese ausente no ser humano. A discussão acaba transitando pelas beiradas, no que diz respeito ao conteúdo, e desviada para os ataques e acusações. Assim, resumo: debates no máximo servem para desconstruir. Não edificam.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Não foi melhor assim?

Um pouquinho de bola, de vez em quando, é inevitável. Como não meter o bedelho na escolha do novo treinador da Seleção Brasileira? É Muricy Ramalho. Como ele, eram favoritos Felipão e Mano. Aliás, Mano era favoritíssimo.

Mas, não vai ser Muricy. Ele foi escolhido pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Mas, o Fluminense não o liberou. Pois vou dizer o seguinte: não considero Muricy um técnico brilhante. É um respeitável treinador. Seus times obedecem sempre a um mesmo padrão. As equipes que monta, em geral, são previsíveis.

Não ser brilhante não significa não ser competente. Fosse diferente e não teria ido com o São Paulo a três títulos brasileiros. Digo ido porque é falacioso dizer que levou. Mas, não nos esqueçamos que, fora disso, perdeu tudo.

Daí me arriscar a dizer que talvez a seleção tenha se livrado de um sério risco. Muricy é bom em competições longas. Mas, péssimo nos mata-matas. Não ganha um. E Copa do Mundo o que é senão um mata-mata de quatro jogos, após a fase inicial? Talvez tenha sido melhor assim.

sábado, 17 de julho de 2010

Pedágio, o bode na sala

1 – Claro que a remoção do futuro pedágio de Mogi Mirim para Santo Antonio de Posse não resolve. Ameniza alguns efeitos, mas no essencial permanece a mesma coisa. O absurdo está em instalar outro posto de cobrança com tanta proximidade, ainda que desdobrando a tarifa. A medida é notoriamente política, para fazer alguns agrados. Como é inevitável em casos semelhantes, não consegue evitar a criação de outros incômodos.

2 – Daqui a pouco, quem vai de Mogi Mirim a Santo Antonio de Posse pela SP 340 terá que pagar. Entre Mogi e Holambra, Mogi e Jaguariúna idem. Quem estuda em faculdade de Jaguariúna terá custo adicional. Os proprietários rurais de Mogi Mirim, que ficarão livres da tarifa para se moverem dentro do município, não escaparão de pagar pedágio. Os exemplos iriam longe. É dispensável relacioná-los todos.

3 – É curioso que o deputado Barros Munhoz tenha sido o porta voz da ‘boa nova’. Por fatores: a) não ocupa cargo algum na estrutura administrativa do Estado; b) disse que a decisão foi tomada pelo governador Alberto Goldman na noite de quinta-feira, mas a entrevista coletiva foi convocada já na tarde de quinta-feira; c) a prerrogativa de fixar local de pedágio não é do governador, mas da Artesp; d) a Artesp não é subordinada ao Palácio dos Bandeirantes – ou não deveria ser – como a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) não é subordinada ao Palácio do Planalto.

4 – Acho que essa história ainda não acabou. E o que mais estranho mesmo é o fato de os tucanos botarem um bode na sala exatamente às vésperas da eleição. Para qualquer lugar que levarem o bode, ele vai feder. E deixará resquícios do odor mesmo de onde for removido.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lá não como cá

Por extrema coincidência, assisti na segunda-feira a uma sessão da Câmara de Americana, transmitida através do canal de televisão da Assembléia Legislativa. Às vezes, vejo também o que se passa pela Câmara de Campinas.

No caso de Americana, de início, um dado interessante: são 13 vereadores. Mas, brutalmente me espantou o nível da discussão. Brutalmente no sentido positivo.

Discutia-se projeto de permuta de imóveis para a instalação de uma empresa na cidade – lá empresas se instalam –, com todos os contornos que casos dessa natureza costumam conter.

A surpresa: o altíssimo nível de discussão, com sucessão de argumentos prós e contras, em posições muito bem definidas e estruturadas, mas sem rompantes, gritarias, ataques, ofensas e ironias. Sem emocionalismos e sem bazófias. No mínimo, sem agredir os tímpanos.

Pode ser que eu tenha tido sorte de acertar o dia em que todos estavam calmos e bem comportados. Não me pareceu.

sábado, 10 de julho de 2010

Inevitavelmente...

1 - ... não tem como, hoje, não tratar de Copa do Mundo. Era previsível a queda do Brasil tão tenramente? Sim e não. O futebol brucutu do time de Dunga não era assim tão reles que não fosse capaz de superar aos finalistas de amanhã. Era menos favorito, na prática, do que na teoria. O Brasil é sempre apontado com provável campeão e, na África, isso se repetiu. Mas, foi pelo histórico. De qualquer forma, mesmo não jogando grande coisa, não seria surpresa se estivesse na final de amanhã. O problema maior, a meu parco juízo, é que não jogou o futebol brasileiro.

2 – Sob o risco de sofrer uma saraivada de contestações, digo o seguinte: Copa do Mundo não exprime supremacia. Estou inteiramente de acordo, nesse meu raciocínio, com o excelente comentarista Paulo Calçade: o campeão de amanhã não seria o mesmo em agosto. O Mundial é muito momento, oportunidade, um pouco de sorte, uma pitada de erros de árbitros e certa dose de virtude. Como negar virtudes à Espanha e à Holanda? Mas, vença um ou outro, não significará que detêm a supremacia do melhor futebol do mundo. Serão legítimos campeões, sem dúvida. Supremacia, de verdade, o Brasil já teve em alguns instantes. Não tem mais, porque crescentemente a modalidade vem sendo burocratizada. O que foi a seleção de Dunga senão burocrática, formal, chata e previsível?

3 – E os árbitros? Alguns decidiram jogos em favor de uns e em prejuízo de outros. Alguns não decidiram, mas protagonizaram erros danosos às duas equipes que estavam em campo. Pois bem. Foi o bastante para reacender a discussão de que o futebol precisa, urgentemente, incorporar o recurso tecnológico da imagem para corrigir as falhas daqueles que, como meus contemporâneos, eu chamava de apitadores. A discussão é longa. Prefiro outra via de análise. É impossível que a qualidade da arbitragem, hoje, seja pior do que nas décadas retrocedentes – 90, 80, 70, 60... Impossível porque as condições de formação dos árbitros e auxiliares, como em todas as atividades humanas, são hoje muito mais aprimoradas e os próprios profissionais desfrutam, nesta nossa era, de qualificações intelectuais muito mais ricas. Dirá o leitor: e daí?

4 – Daí que os erros sempre existiram, eventualmente até mais grosseiros dos que foram observados na África do Sul. Quem não se lembra do gol de Rivelino contra o São Paulo, em que a bola ingressou na meta pelo lado externo da rede? Ali já foi possível, com o velho videoteipe, aferir o erro. Na Copa da África, em cada partida disputada a relação era absolutamente desigual: o árbitro com dois olhos para decidir e 40 câmeras de televisão, ainda mais com o recurso do slow motion, para mostrar o erro. Daí, e concluindo, digo: os árbitros estão perdoados.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O público e o partidário

Diz nota publicada no blog do prefeito, assinada por Assessoria do PSDB:

“Na tarde da última sexta-feira, dia 18, o Deputado Federal Silvio Torres, do PSDB, visitou Mogi Mirim e garantiu apoio unânime da cúpula tucana local.
Para recepcionar o deputado, o prefeito Carlos Nelson Bueno reuniu cerca de 20 tucanos em seu gabinete”.


Digo eu:
EM SEU GABINETE!!!!

Segue a nota:
“Estavam presentes os vereadores: Maria Helena Scudeler de Barros, João Luiz Andrade Teixeira e Luiz Roberto Tavares, diretores municipais filiados ao PSDB, além da diretoria executiva municipal do partido”.

Digo eu:
...ALÉM DA DIRETORIA EXECUTIVA MUNICIPAL DO PARTIDO!!!!

Diz a nota:
“O presidente do PSDB mogimiriano, Benedito Sechinato deu sequência aos discursos e em nome da executiva e dos filiados, garantiu apoio irrestrito à candidatura de Silvio Torres”

Não seria preciso dizer mais nada. Para bom entendedor, dizia minha avó Gidica, meia palavra basta.

Mas, observo o seguinte: a lei mudou? está tudo liberado? pode fazer reunião de partido político em repartição pública? o gabinete do prefeito se tornou extensão do PSDB?

Sei não, mas parece haver fumus de uso indevido de bem público em atividade político-partidária.

PS: a postagem no blog do prefeito inclui várias fotos dos personagens no GABINETE DO PREFEITO.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Conceitos sobre o povo

1 - Por dever e por prazer, publico a sequência de três postagens do chefe do Gabinete do Prefeito, Gerson Rossi Junior, em seu twitter:
“Apesar do bom resultado, coitado do Dunga! Não passará desapercebido sua coletiva e mais uma vez impaciência com a imprensa- só c/ a Globo!!” – Alias, fui injustamente provocado pelo "O Popular" sobre uma postagem no twitter, insinuando que considero a população sem vergonha –Além da postagem não ser minha, não me deram nenhum direito de defesa ou justificativa. Simplesmente publicam para denegrir minha imagem.

Antes de mais nada, explico que reproduzo, com absoluta fidelidade, a publicação feita por Gerson. E começo por considerar estranho que uma postagem não de sua autoria tenha permanecido no ar por mais de 15 dias. Publicada a nota na coluna Da Fonte, minha vizinha nesta mesma página (Página 2, de O POPULAR) e também de minha lavra, o caro Gerson correu a deletá-la. É possível que, face a seus múltiplos compromissos, não tenha tido tempo, no período, de visitar seu próprio twitter e, portanto, a anônima mensagem lá permaneceu inserida. Mas, isso é o menos. No meu twitter, muito menos importante e miseravelmente requisitado, ninguém posta mensagem alguma que não seja eu mesmo.

2 – Não me aborreceu, mas me causou estranheza que Gerson, ainda na boa e produtiva idade jovem, já se deixe contaminar por velhas ideias conspiratórias. Deve ser convivência. Concluiu que a nota publicada na coluna da Da Fonte teve o objetivo de “denegrir minha imagem”, como diz. Esse é um procedimento padrão sempre que alguém resolve ir ao ataque contra a imprensa. Faço um parêntese: nós, jornalistas, somos tão falíveis como os políticos, os padres e as prostitutas. Não me move a presunção da perfeição, de que não erro. A diferença está em não achar pelo em ovo ou chifre em cabeça de cavalo quando confrontado com o pecado.

3 – A nota nada mais que fez que estranhar o conceito manifestado, ao que supus, pelo número 1 do governo municipal, como o qualifiquei há algum tempo e como é, de fato, até hoje. Então, combinamos o seguinte, Gerson: você não pensa que o povo é cada vez mais sem vergonha. Borracha passada, certo? Todavia, não abro mão de manifestar minha decepção pelo conceito, que agora estou seguro de que é seu mesmo e não de intrusos anônimos, de que a publicação teve o objetivo de denegrir sua imagem. Nem houve, nem denegriu. Mesmo porque, saiba Gerson, não é a mídia que denigre, mas os próprios agentes políticos que se incumbem de fazer isso com a própria biografia. Aliás, muitos só não estão na cadeia pela benevolência das leis e pela lerdeza dos tribunais.

4 – Por último, fiz questão de tratar do assunto aqui para deixar claramente identificada que a operação “para denegrir minha imagem”, como diz o ofendido, foi de minha autoria. Do que não me arrependo por várias razões, entre as quais duas. Primeiro: não fiz por interesse algum em manchar coisa alguma, procedimento com o qual não costumo perder tempo. Deixo que cada um faça por si. Segundo: por ficar sossegado quanto à concepção que Gerson possui acerca do povo, que jamais foi ou será, portanto, de que este é cada vez mais sem vergonha. Seja feliz, Gerson.

sábado, 19 de junho de 2010

Um dia aprende

Parece que o prédio do velho e extinto mercado municipal tem caveira de burro enterrada em seus subterrâneos.

Desde que o prefeito Carlos Nelson decidiu desativa-lo, é só encrenca. E quando se imagina que, enfim, vai ser dar alguma utilidade ao valioso patrimônio, vem lá outra confusão.

A cessão do imóvel ao Sindicato do Comércio Varejista, que parecia pacífica, enfrenta obstáculos. E, digo, com razão. Não por objeção à entidade candidata à beneficiária, mas pela maneira como as coisas foram encaminhadas.

O projeto levado à Câmara é muito ruim. Ruim no sentido da má elaboração. De certo, ele é claro apenas no que diz respeito à entrega do bem ao sindicato.

Não prevê exigência alguma de comprovação cabal à entidade quanto ao que vai instalar no local, que ao que se diz será uma unidade do Senac. Todavia, disso não há garantia alguma.

E, se for apenas para abrigar a sede do sindicato, a cessão absolutamente não se justifica, a despeito de toda a representatividade da instituição.

Mais uma vez, portanto, o governo deu trombada. Um dia aprende.

Não brinquem

A partir de agora, o mínimo a esperar dos candidatos a deputado, que se lançaram pela cidade, é que digam claramente o que pretendem, que ideias vão esposar, que compromissos irão firmar com os eleitores mogimirianos.

E um detalhezinho importante: se eleitos, vão levar o mandato até o fim? Ou daqui a dois anos vão abandonar o barco, trocando-o por candidatura à Prefeitura? Ou já estão fazendo isso agora, isto é, pondo o nome no mercado para fazer poupança eleitoral com vistas a 2012?

Considero reduzidas as chances de sucesso de todos. Mas, dizia Tancredo Neves, eleição e mineração, só depois da apuração. Espero – e peço mesmo – que não tratem a cidade como brinquedo.

Bola nas costas

Usando o jargão do futebol, o PMDB local levou uma bola nas costas.

De repente, os delegados que foram à convenção do partido, há uma semana, depararam com a surpresa de ver um nome de Mogi Mirim na lista de candidatos a deputado estadual. Que não haviam avalizado e cuja inclusão na chapa de concorrentes ignoravam por completo.

No primeiro momento, houve ameaça de rebeldia.

Agora, já se fala em apenas advertir Quércia de que Marco Antonio Campos, de quem nada posso falar por não conhecê-lo, não terá o apoio da direção local da sigla.

Me faz recordar a velha imagem do leão da Metro, que se atribuía aos fracos: um urro no começo e o resto é fita.

Batendo de frente

Se Gerson Rossi se curvou e ensarilhou as armas da candidatura a deputado estadual, o ex-prefeito de Lindóia, Élcio Fiori, fez o caminho inverso.

Mandou Barros Munhoz às favas e vai disputar cadeira na Assembléia Legislativa, batendo de frente com o ex-chefe. Com certeza vai fazer alguns estragos no mandiocal de Totonho no Circuito das Águas.

Detalhe: ambos, Gerson e Fiori, são do PPS. Outro detalhe: Élcio esteve cotado para assumir secretaria no início do governo de José Serra, por indicação de Munhoz. Ao menos foi o que se propagou na ocasião. Política tem disso: às vezes, a criatura se volta contra o criador.

sábado, 12 de junho de 2010

Copa, ontem e agora

1 – Quando a seleção nacional foi campeã da Copa do Mundo do México, em 1970, o prefeito Adib Chaib deu o nome de “Brasil Tricampeão” à atual Avenida Luiz Gonzaga de Amoedo, que margeia o vale do Lavapés. Não sei se muitos se lembram disso, mas certamente ninguém esqueceu a conquista, que representou uma espécie de coroamento do futebol pátrio perante o mundo. Houve muita festa, muito entusiasmo depois, mas antes também houve uma enorme expectativa, uma grande ansiedade, diria até mesmo uma comoção. Ainda mais que o país se encontrava com a garganta apertada pelas restrições do regime militar. Avalio hoje, sem embasamento objetivo algum, é verdade, que a conquista significou a oportunidade de o povo por para fora o grito que estava represado na goela.

2 – Nem há ditadura, nem há sentimento contido, mas certamente não é por isso que percebo uma frieza generalizada em relação à disputa que vai começar na próxima terça-feira, quando o Brasil pode chegar ao dobro dos títulos que memoravelmente conquistou em 58, 62 e 70. Talvez até seja um erro de percepção de minha parte, estreitado que vou ficando cada vez mais nos meus limites de convivência, pela natural progressão da idade. Mas, não vejo discussão, abordagens acaloradas, manifestados de ansiedade como foi possível testemunhar em outras épocas. É possível que todo mundo esteja segurando o pedal, para acelerar depois da quebra do gelo, que é a primeira fase da competição. Não vejo riscos, desde que os adversários são modestos, à exceção de Portugal. Alias, ante Coréia do Norte e Costa do Marfim, brasileiros e portugueses devem mesmo ir à frente.

3 – Nesta hora, afloram as especulações. E, do mesmo modo que cada brasileiro é um técnico de futebol em potencial, o é também um especialista em todas as generalidades humanas. Seria a frieza consequente do método ‘mão pesada’ de Dunga administrar a seleção, distanciando-a do povo? É uma hipótese. O treinador age militarmente, impondo um regime de disciplina que não se identifica muito com o jeito brasileiro de ser. Não seria essa aparente apatia do torcedor o reflexo da ausência de empatia com os craques, todos europeizados, quase sem mais afinidade alguma com seu próprio país? É outra possibilidade. Os ídolos – se é que essa seleção tem algum – estão distantes, inalcançáveis, só visíveis pelas telas das TVs. Transformaram-se em máquinas de fazer dinheiro. Perderam o caráter humano. São figuras robotizadas, que além do mais deixaram de exprimir o que o brasileiro tem de melhor: o improviso, o talento ímpar, a genialidade que resolve no quadrado de um lenço. Acho boa tese, não sem conceder o direito de que nem um só torcedor concorde com ela.

4 – Por último, como me disse um amigo esta semana, a causa do baixo entusiasmo estaria no fato de que estarmos em ano eleitoral. Essa hipótese eu recuso. Isso é coisa que o brasileiro jamais faria – colocar o interesse pela eleição à frente da paixão pelo futebol. Bem ao contrário, e sem chegar a conclusão alguma no concernente à seleção, penso que é a eleição que está subordinada à Copa do Mundo. Só vai haver campanha mesmo depois que soubermos se o Brasil é hexa ou... Deixa pra lá.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

No rumo do fracasso

Não conheço pessoalmente José Serra. De todo modo, me parece ser alguém difícil de se lidar em campanha eleitoral. Pouco afeito a se enquadrar em normas e a ouvir auxiliares. Faz o que dá na telha.

Essa suspeita é que leva a interpretar a conduta do ex-governador, ainda na pré-campanha, como de alguém que está ou ainda não definiu rumos. Não é possível saber, por enquanto, qual é ou qual será seu discurso.

Discurso por discurso, Serra e Dilma Rousseff estão empatados. Soltam fragmentos. Entretanto, Dilma está muito mais centrada, balizando sua trajetória pela colagem aos resultados do governo Lula.

Ao contrário disso, Serra está difuso. Não definiu foco. E pior – para ele – é o fato de estar se dando mal nas relações com a imprensa. Azedo, às vezes debochado, às vezes arrogante.

Relacionar-se de modo inadequado com jornalistas não é um mal em si. O problema é que essa conduta acaba projetando má imagem do candidato – no mínimo, antipático.

Pois acho que é isso que está acontecendo com Serra. Por não ter ou por não querer ouvir conselheiros. Desconfio que, se não proceder a urgente mudança de conduta, estará construindo estrada reta e bem pavimentada para o fracasso.

sábado, 22 de maio de 2010

Independência às favas

A Comissão de Finanças e Orçamento da Câmara emitiu parecer contrário à decisão do Tribunal de Contas do Estado, que rejeitou as contas da Prefeitura relativas a 2006.

O processo deve ir à votação pelos vereadores na sessão de 7 ou 14 de junho.

Em sua manifestação, a Comissão de Finanças e Orçamento apresenta justificativas já levadas pela Prefeitura ao TCE e argumenta que o Município agiu certo ao não pagar o percentual anual em relação aos precatórios, principal irregularidade vista pelo Tribunal.

João Carteiro (PMDB), presidente da comissão, está convidando os vereadores para reunião no Gabinete do Prefeito na quinta-feira, dia 27, às 18h00.

O encontro será com os diretores dos departamentos Jurídico e Financeiro e com o chefe do Gabinete do Prefeito.

Justificou: “É muito técnico para explicar numa sessão. Se for discutir em plenário, vão fazer politicagem e vai levar de duas a três horas”.

Isso é que se chama mandar às favas a independência do Legislativo. Nada mais claro para expressar a falta de juízo próprio para decidir.

Um pouco de cada coisa

1 – Certas manifestações na Câmara beiram a infantilidade. Vereadores se revezam e se sucedem na tribuna, enciumados pela abordagem de assuntos que consideram de sua primazia a iniciativa. Repete-se por várias bocas a acusação de que há representantes agindo com demagogia na abordagem de determinados temas, em especial quando há platéia nas galerias. Proclamações de coragem e destemor tingem o plenário com cores semelhantes a confrontos entre torcidas organizadas. O expediente de pedir o adiamento da votação de requerimentos a pretexto de discuti-los em ocasião posterior é usado com regularidade acima do tolerável. A Câmara está, em resumo, individualizada muito acima do que seria imaginável. É desse jeito que a instituição perde força, porque o culto à vaidade fragmenta o poder, que se procedesse com um mínimo de organicidade poderia obter resultados bem melhores.

2 – Quando questões relativas à saúde precisam ser discutidas na esfera do Ministério Público é porque alguma coisa está fora de lugar. É das prerrogativas da promotoria avocar o tema, mas quando isso está sendo necessário ou ao menos dando causa à iniciativa, é sinal claro e definitivo que fatores extra-administrativos estão comprometendo a operação dos serviços e, em consequência, causando danos ao interesse dos cidadãos, com a corda se rompendo sempre no extremo mais frágil.

3 – Não parece tocar a sensibilidade das autoridades a maneira desumana e desrespeitosa com que usuários do transporte coletivo são tratados. Especialmente em horários de pico, quando beira seis horas da tarde, são confinados como gado nas calçadas, em pontos mal localizados, dotados de infraestrutura incapaz de atender a demanda. O silêncio sinaliza que a Prefeitura risca inteiramente de suas preocupações e de suas políticas a hipótese da instalação de terminais concentrados. O ponto instalado nas imediações da esquina das ruas Ulhoa Cintra e Conde de Parnaíba é bestial – não no sentido que os portugueses dão ao verbete, mas no brasileiro mesmo. Ônibus, automóveis, motos, táxis estacionados e veículos de recolhimento de valores em agências bancárias. É um cardápio de embrulhar o estômago.

domingo, 16 de maio de 2010

Não brinquem com Dilma

Desde há um ano, venho dizendo, especialmente a tucanos, que não devem brincar com Dilma Rousseff. Um pouco por ela e muito por Lula, seu padrinho e patrocinador.

O instituto Vox Populi acaba de divulgar pesquisa que põe a ex-ministra à frente de Serra na corrida presidencial. Os tucanos achavam impensável. Eu mesmo, nos primeiros momentos, duvidei do acerto da escolha de Dilma.

Fui constatando, ao longo das manifestações de cada um, que os dois não possuem o mínimo carisma. Dilma é pouco política, Serra é arrogante e mau humorado. Seus sorrisos são falsos. E essas coisas contam.

De qualquer modo, ainda penso que Serra reúne melhores possibilidades de ganhar as eleições, tendo em conta sua longa trajetória política e, portanto, o fato de ser mais conhecido do eleitor.

Todavia, isso não é tudo. E, mais do que isso, é preciso não ignorar a extraordinária capacidade de agregação de simpatias e adeptos que Lula adquiriu no curso de seus dois mandatos presidenciais.

Lula tem o que Dilma não tem, sob o ponto do carisma de que falei e quanto à competência matreira de saber colocar o discurso que os ouvidos gostam de ouvir. E ele ainda não entrou em campo. Anda fazendo apenas aquecimento. A hora que entrar no jogo, não sei não. Portanto, barbas de molho, tucanada.

Põe no chão amanhã

1 – Por experiência própria, uma vez que viveu Brasília por muitos anos e é prefeito pelo quarto mandato, Carlos Nelson sabe sobejamente que a burocracia federal é paquidérmica. Anda a velocidade de tartagura com preguiça. Portanto, não podia se iludir de que tratativas com o INSS em torno dos escombros herdados pelo instituto, na Avenida Pedro Botesi, pudessem ter desfecho com a urgência que o caso requer. Mas, insistiu. E perdeu tempo. Agora, decide que vai mandar demolir as construções, que têm servido a toda sorte de atividade contrária ao interesse social.

2 – A decisão pode ser lida de dois modos, conforme a ótica e a benevolência ou má vontade com que o ato seja encarado: excedeu na demora, descumprindo o que deveria ter sido seu papel há muito tempo ou o adotou antes tarde do que nunca. Que demorou, não resta qualquer dúvida, dado que o problema incomoda há mais de década. A afronta feita agora ao instituto, órgão federal, portanto de hierarquia superior – e por isso foi afronta – já poderia ter sido praticada bem antes, de tal modo, aliás, que hoje já se soubesse que resultado teria produzido.

3 – E por que digo que, feita antes, hoje se saberia o resultado? Porque não considero absolutamente seguro de que a ordem expedida para por a construção “na chon”, como certa personagem de novela celebrizou na televisão, será de fato cumprida. Com grande probabilidade, o INSS vai reagir e, com probabilidade igual, o caso terminará na Justiça. E, aí, sabe-se lá quando a questão terá seu final deslinde. Penso mesmo que, para evitar esse risco, seria o caso de, amanhã, mandar erodir o que está erguido e aguentar as consequências.

4 – Mas isso – argumentarão os sensatos – corresponderia a uma irresponsabilidade, porque o Município sofrerá inevitáveis retaliações. Em primeiro lugar, irresponsabilidade maior que o instituto de previdência vem cometendo há anos não haverá. Porque deixa depreciar um patrimônio de sua propriedade e, ainda por cima, o conserva em condições de causar desassossego à comunidade em seu entorno. E, de mais a mais, qualquer que viesse a ser a consequência, não seria ela causa suficiente para nada muito mais grave do que uma cobrança pelo prejuízo causado ao INSS, por ua vez devedor aos cofres do Município.

5 – Por formação e personalidade, costumo ser sensato. Longe estou das ideias radicais, as quais defendendo o direito de telas quem quiser. Mas, sugerir que se erradique aquele mostrengo pela via da força nada contém de insensatez quando detêm o Município as prerrogativas e a obrigação de zelar pelo bom uso de tudo quanto esteja fincado em seu território. Donos e bares, por exemplo, sofreram nas garras da Prefeitura, há três ou quatro anos, por coisas minúsculas. A mão foi pesada. Não é por isso, mas deveria ter sido pesada também no caso das ruínas que o instituto vem conservando interminavelmente. Enfim, se pudesse sugerir e se o prefeito fosse capaz de escutar, diria a Sua Excelência: bota tudo no chão amanhã.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Em gotas

DUPLA
Rogério Esperança continua insistindo: o PDT local não terá apenas um, mas dois candidatos a deputado. Um federal e um estadual. Ele, Esperança, estaria sendo pressionado pela direção estadual a disputar vaga no Congresso Nacional. Em tais circunstâncias, Gustavo Stupp teria que se contentar em tentar ser deputado estadual.

DECISÃO
Foi publicado em 30 de abril o acórdão do Tribunal de Contas do Estado relativo à rejeição das contas de José dos Santos Moreno, o Mogiano (PTB), como presidente da Câmara em 2007. A causa, segundo o TC: pagamento a mais ao diretor geral do Legislativo, Valter Polettini.

TRABALHO
Desde que o Caged publica os dados, o que começou em 2000, o melhor desempenho na geração de empregos na cidade ainda é do governo de Paulo Silva (PSB). Foi em 2004, quando o índice positivo foi de 8,60%.

SEM ÁGUA
Virou inquérito na esfera do Ministério Público o caso da piscina da Fatec, que começou a ser construída e foi repentinamente soterrada. A providência foi adotada pela promotora Cristiane Correa de Souza Hillal. O procedimento foi provocado pela vereadora Márcia Róttoli (PT).

domingo, 2 de maio de 2010

Coisas de políticos e cartolas

Depois de fazer 70 gols, livrar vantagem quilométrica na classificação e exibir futebol irretocável, o Santos quase viu a viola em cacos.

Se não fosse o erro da bandeirinha, que causou a anulação de um gol do Santo André, e a trave duas vezes, a festa seria no ABC e não na Baixada.

Culpa desse maldito sistema de disputa do Campeonato Paulista. A fórmula do Carioca, ainda não ideal, é melhor. Põe o título em disputa entre os vencedores dos dois turnos.

Se fosse aplicada em São Paulo, não tenho dúvida de que a decisão de hoje não existiria. O Santos levaria os dois turnos.
É por essas e outras que me filio entre os que defendem os pontos corridos. Sob o critério da maior soma de pontos, apura-se o melhor. E o melhor é o campeão.

O Santos mereceu o título pelo desempenho insuperável durante toda a competição. Na decisão, mereceu o Santo André.

Se nos poderes públicos os políticos fazem o que bem entendem e não dão a mínima pelota para a torcida, que somos nós, no futebol tem os cartolas, que da matéria não entendem nada, mas também não dão bola para a galera.

sábado, 17 de abril de 2010

Votos mineiros e macucos

Dr. Pradinho, como todos conheciam o advogado José de Abreu Prado, protagonizou cena interessantíssima durante apuração de uma eleição.

Um candidato a vereador, aflito ante os votos que emergiam minguadamente das urnas, foi abordá-lo em busca de explicação.

Com sua verve impagável, pôs a mão nos ombros do amigo e o tranquilizou: “Tenha calma. Ainda não chegaram os votos de Jacutinga”.

Não sei por que, mas acho que alguns voluntários que estão se alistando para a disputa de outubro deveriam ter essa passagem histórica na memória.

Os votos de Jacutinga, que jamais chegaram e não poderiam mesmo chegar para o infeliz concorrente a vereador da década de 60, talvez venham a fazer diferença. Enorme diferença.

Parafraseando ao contrário o ex-vereador Sebastião Fortunato de Godoy, desconfio que faltarão macucos para encher o ‘emborná’.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

No lugar errado

Não entendi porque Gerson Rossi concedeu entrevista coletiva no Gabinete do Prefeito, na segunda-feira, data em que era elemento estranho à administração, dado haver se afastado no início do mês e ainda não reassumido o posto.

Sim, a observação é uma chatice minha. Mas, se era para anunciar a renúncia à pré-candidatura, ainda mais acolitado por três representantes do PPS, o ato não deveria ser realizado na sede do partido ou em qualquer outro lugar que não fosse uma repartição da Prefeitura?

Recordo que, ao se anunciar pré-candidato, ainda no ano passado, o fez em uma pizzaria, na Avenida 22 de Outubro. Ao que sei, sequer forno há no Gabinete.

sábado, 10 de abril de 2010

Puxassaquismo apressado e inútil

1 – Quando certas críticas são feitas, não faltam os que se apressam em ver motivação às escondidas ou impertinência, desejo de criar aborrecimentos, prazer em contrariar. Mas, o tempo acaba se incumbindo de por luzes sobre os fatos. Refiro-me a episódio protagonizado no início do ano passado, quando a toque de caixa se decidiu conferir o título de Cidadão Mogimiriano ao secretário-chefe da Casa Civil do Estado, Aloysio Nunes Ferreira. Cumprindo desejo do prefeito Carlos Nelson, o presidente da Câmara, Osvaldo Quaglio, correu a apresentar o projeto, a marcar a data e a promover o evento de outorga, aliás realizado fora do recinto da Câmara, no Clube Recreativo.

2 – A intenção foi, indisfarçavelmente, a de inflar o nome de Aloysio e fazer uma média para a hipótese de que viesse a ser indicado candidato à sucessão de José Serra. O homenageado, entretanto, sequer subiu à rampa de lançamento, nunca decolou nas pesquisas e terminou fulminado pelo ex-governador Geraldo Alckmin, já dado, agora, como o candidato oficial tucano ao Palácio dos Bandeirantes. De modo que o esforço de puxassaquismo foi absolutamente inútil. E a concessão do título não foi outra coisa, porque, com todo respeito, não havia uma só justificativa a agraciar o político riopretense, ainda que possuidor de currículo político não desprezível.

3 – Como se em rebate àquela iniciativa, mais tarde se decidiu, também, oferecer igual tratamento a Alckmin. Coisa assim de botar o pé nas duas canoas de modo a evitar o afogamento no caso do naufrágio de uma delas. Entretanto, talvez por algum sentimento de pudor, o ex-governador não conseguiu abrir lacuna em sua agenda, até agora, para receber a homenagem. Até já esteve na cidade, por ocasião da inauguração do campus da Fatec. Agora, para completar, só falta arrumar um palanque para Geraldo receber a tal honraria, nesta fase de preliminares das campanhas eleitorais. Isso se chama brincar com a inteligência dos cidadãos.

sábado, 3 de abril de 2010

Decisão absolutamente previsível

Entre outras fontes, Lena Araújo veio me contar que João Luis Teixeira havia deixado a liderança do prefeito na Câmara.
Lembrei-a de que, quando assumiu a função, eu não o via com vida longa no posto. Não por despreparo, mas por personalidade e estilo político.
O exercício da liderança pressupõe espírito de negociação, paciência, capacidade de ceder e tolerância.
É tudo que não faz o perfil de João Luis, irrequieto, pontiagudo, uma ponta de alfinete.
Durou cerca de um ano na função.
Pois vou exercitar minha futurologia outra vez: tenho imensas dúvidas de que vá, até o fim do governo, como aliado de Carlos Nelson. Mesmo porque, João Luis é uma nuvem: ora se olha, ela está de um jeito; ora se olha, está de outro.

A opção pelo conforto

1 – Há meses eu conversava com Carlinhos Bernardi acerca dos rumos que tomaria o deputado estadual Barros Munhoz. E confessava minhas dúvidas quando ouvia, recorrentemente, que Totonho seria, desta vez, candidato a deputado federal. Esgrimia meus argumentos, basicamente a partir de um deles: o conforto de uma candidatura à reeleição. Por que conforto? Porque as probabilidades de sucesso, ainda mais depois da notoriedade obtida através da presidência da Assembléia Legislativa, eram – imaginava eu – as mais amplas. De qualquer modo, pensava também ser uma decorrência natural da própria carreira política que viesse a sonhar com Brasília.

2 – De certo modo, portanto, a decisão de se candidatar novamente a deputado estadual não me surpreende. As razões que teriam levado Munhoz a ela são inúmeras. Desde aquelas trazidas a público até as que não podem ou não é conveniente externar. A começar pelo fato de que a disputa de vaga no Congresso Nacional se trava numa outra órbita do ponto de vista da necessidade de recursos, de apoios, de votos e, por último, sob um grau de risco enormemente mais agudo. Isto para quem não quer apenas fazer banzeiro com a candidatura. Não se esqueça, por outro lado, que Brasília também costuma ser um sumidouro. São 513 deputados federais. Abrir uma vereda nessa floresta é dificílimo. Por último, a hipótese – absolutamente concreta – de Serra não se eleger presidente implicará exercer o mandato em oposição e, portanto, sem as benesses do governo. Finalizo: Totonho preferiu o caminho mais plano, com algumas curvas, é verdade, mas razoavelmente pavimentado – o bastante para não oferecer grandes sustos.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Consolação ao contrário

Digamos que, reunindo apoios no âmbito de seu partido e com um certo empurrão de Carlos Nelson, Gerson Rossi teria algumas chances de se tornar deputado estadual. No PPS, a quantidade de votos necessários é bem mais modesta.

Ainda assim não obtendo sucesso, terminaria a eleição com um capital de votos interessante. Suficiente mesmo para cacifar sua futura candidatura à Prefeitura, que para mim é, desde já, absolutamente certa.

Agora, oferecer legenda a Gerson para disputar mandato em Brasília é um prêmio de consolação ao contrário. É uma crueldade.

Aceitar seria expor-se ao risco do ridículo, salvo se amparado em um esquema poderoso, que não consigo vislumbrar no horizonte.

Com Gerson me parece ter acontecido aquela imagem do cão que sai correndo atrás do caminhão e que, quando este para, não sabe o que fazer.

Gerson correu, correu para nada. Animou-se e animou adeptos. Viveu uma lua de mel antecedente ao casamento. Acabou. Aliás, para o largo e indisfarçável riso de seus desafetos.