quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Rivaldo, o furacão

1 – Após mais uma daquelas experiências que mostram quanto somos frágeis diante da vida, constato alto similar a um furacão se abatendo sobre a cidade. Rivaldo vai jogar no São Paulo. De início, desdenhei as primeiras fontes. Mas, depois tudo se confirmou, o que não seria nada além do natural na relação entre um profissional de futebol e um clube. O problema está nos entornos do caso, que tento olhar sem passionalismos. Antes, confesso ter sentido certo desencanto, após ter feito aqui mesmo, há cerca de dois meses, uma proclamação de entusiasmo acerca do Mogi que estava sendo armado para o Campeonato Paulista.

2 – Com certeza, as razões para o acordo com o São Paulo devem ter sido muito fortes e muito interessantes não a Rivaldo necessariamente, mas ao Mogi Mirim. Minúcias disso talvez nunca se saibam. Mas, resumo: deve ter sido um ótimo negócio. Da altura dos seus 38 anos, não acredito que Rivaldo se deixaria enlevar por migalhas. E acredito, por outro lado, que conjugou dois interesses: os do Mogi e os seus no sentido de, ao retornar ao Brasil, defender um grande clube. Manifestou essa vontade há alguns meses, quando não cogitava a hipótese de defender o clube que preside.

3 – Agora, o lado oposto. Se o jogador Rivaldo fosse emprestado para defender o São Paulo, como foi emprestado ao Corinthians antes de ir ao Palmeiras, seria um fato natural. O problema é que, junto com o jogador, foi também o presidente do Mogi, que por disputar a mesma competição que o Tricolor tem interesses conflitantes. Pode não acontecer nada, mas gera desconfiança. Neste caso, o quesito ético levou um belíssimo pontapé e foi parar no... Uzbesquistão. E nada resolve se, eventualmente, Rivaldo se licenciar da presidência do Mogi Mirim, porque isso nada mais será que uma indisfarçável farsa.

4 – Por experiência de vida pessoal e profissional, não me iludo. No Brasil, o futebol foi erigido sobre os alicerces da esperteza. O respeito à ética raramente fez parte de seu histórico. É o campo do vale-tudo, onde clubes, dirigentes e atletas se matam ou se amam conforme as conveniências. O caso presente é apenas mais um e bem ilustrativo. Quando Rivaldo decidiu defender o Mogi, acertadamente todo o marketing do clube foi focado nele. Avalizado na sua palavra. Temo que, agora, por mais que o campeão mundial tente consertar esse estrago, como a venda de carnês sob promessa de sua presença em campo, seja insuficiente para recuperar sua credibilidade perante os mogimirianos. A credibilidade do time depende do que fizer em campo.

5 – Vou me aventurar a dizer que o arrepio ao componente ético está presente também na negação ao compromisso antes assumido de vestir a camisa do Mogi. Na verdade, Rivaldo fez um contrato tácito com a cidade, mais do que o fez expressamente com o clube, no papel. Explica o rompimento, na tentativa de convencer os mogimirianos, com acenos de futuro, com vantagens que o clube vai auferir ao longo do que seria uma parceria com o São Paulo. Esquece um detalhe: para o torcedor, do Mogi ou de qualquer outro clube, importa o agora, a capacidade competitiva do time que vai entrar em campo amanhã. E hoje, o que está no ar é uma monumental sensação de desencanto.