sábado, 30 de julho de 2011

O cheiro da tinta

1 – Dia desses, fui invadir território em Itapira. É dispensável explicar para que. Lá tive o prazer de reencontrar-me com um grande profissional da comunicação: Luiz Antonio da Fonseca, o Tói Fonseca. Eu o ouvi muito na Rádio Clube. Refinado no gosto musical, sem ser elitista, competente na análise dos fatos do cotidiano – próximo e remoto. Como eu, faz parte do clube dos coronarianos. Está bem, novinho em folha. Inevitavelmente, acabamos por posar para algumas fotos, que foram parar no Face Book, essa febre internética. Éramos quatro no retrato. Daí um amigo postou lá que ali estavam, entre os quatro, dois velhos lobos.

2 – Pois aí é que está. Lobo não sei se sou. Velho, sem dúvida. E escrevo a introdução aí de cima, de um lado para saudar o amigo Tói. De outro para abrir as portas das considerações que resolvi fazer hoje. Seguinte: sou leitor compulsivo. Por prazer e por dever de ofício. Minha formação foi alicerçada na leitura. Então, leio jornal, revista, internet e, se ainda existisse, leria até o velho Almanaque Capivariol. Lendo tanto, constato um fenômeno interessante: a internet democratizou, escancarou a manifestação dos cidadãos. Basta saber bater nas teclas para ir lá e desancar autoridades, ofender desafetos. Estou perdendo o fio? Não, de maneira nenhuma.

3 – O fato é que, por consequência, por causa, por defeito ou sei lá o que da minha idade, gosto sempre das coisas bem explicadas.Como velho, não sei se lobo, gosto muito de saber quem está escrevendo, falando, xingando, destratando, elogiando (coisa rara) e a internet, infelizmente, abre portas para a maldição do anonimato. Às vezes é preciso, compreendo. Mas, como regra é uma desgraça. A quem foi me dirigir em contestação se o tal se esconde em apelidos boa parte das vezes idiotas?

4 – Mantendo o fio da meada: por todas essas questões e por vício incorrigível dos meus 64 anos, continuo sendo fã incondicional do impresso, do papel, daquele que você pega na mão, aproxima dos olhos, lê, relê... Certamente ouvirei que sou retrógrado, mas o papel entra para a história como documento concreto, físico, manuseável. Para que fique claro, se sou compulsivo em ler, sou idem idem em navegar na rede mundial de computadores. De dia, de noite, cedo, de madrugada. Isso até me cria alguns problemas familiares sobre os quais não preciso entrar em detalhes, mas todos imaginarão.

5 – Necessariamente, não serão meus contemporâneos solidários comigo nestas mal-digitadas ideias. Muitos deles avançaram, se modernizaram. Eu fui ficando para trás, conservador, ainda que aprendendo o mínimo basicamente para me defender com as armas da modernidade. O fato é o seguinte: escrever é um exercício que me persegue há décadas e sempre com a cara para fora da janela. No papel é difícil de não ser desse jeito, com CIC e RG expostos. O virtual oferece esse refúgio. Além de tudo, tem mais uma coisa que me puxa para o passado: eu fui curtido no cheiro da tinta. É pior do que tabagismo. Não desimprega nunca.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Horizonte em definição

1 – A pergunta que ouço com mais freqüência conforme o calendário avança é a seguinte: quem será o candidato de Carlos Nelson em 2012? Naturalmente que só ele será capaz de responder, mas especulo que, se não vier a não ser Gerson Rossi, o atual chefe do Gabinete terá sofrido uma monumental rasteira na reta final. Age com todas a pinta de que será candidato e desfruta das facilidades políticas proporcionadas pelo governo. Gerson é tão candidato que já se sente perseguido por inimigos. De qualquer forma, como a política se move como as nuvens, estar preparado para um pé nas nádegas é sempre prudente.

2 – Também escuto com insistência a dúvida acerca da candidatura de Paulo Silva. O ex-prefeito adota o discurso politicamente correto de que não pode ser sempre a única solução. Defende que sejam procuradas alternativas. Por sua personalidade dissimulada, é muito difícil interpretar o que Paulo traz por dentro – se de fato desdenha a hipótese de ser prefeito de novo ou se esconde bem suas intenções. Pois bem. Como acho que Gerson Rossi é, hoje, o titular do lado oficial, Paulo é o do outro lado. Correndo tudo normalmente, ambos deverão se encontrar em 7 de outubro de 2012.

3 – Olhando o panorama por uma lente abrangente, penso ser mais fácil costurar a candidatura oficial do que harmonizar a candidatura da oposição. Insisto que Gerson está sendo construído. Enfrenta reações internas de concorrentes e de antipatizantes. Mas, que não se esqueça o peso da mão de Carlos Nelson. Não consigo ver que rebeldias sejam capazes de prosperar. Por mais roto, o guarda-chuva do governo é sempre uma proteção nada desprezível. Então, concluo que seja Gerson ou quem o atual prefeito benzer.

4 – É um pouco diferente o cenário do lado contrário. A candidatura de Paulo reúne muitas simpatias e adesões prévias no campo oposicionista. Mas, ao menos por enquanto, está longe de ser unânime ou sequer consensual. Há postulações paralelas naquilo que é, de fato, o cerne do oposicionismo, formado por PSB, PT e PV. Não é simples costurar isso não. E não é só. Quem convencerá Gustavo Stupp de que é cedo para disputar a Prefeitura? Aliás, me parece que hoje, se alguém é candidato definido à sucessão de Carlos Nelson, este é Stupp.

5 - Estas particularidades, portanto, lançam certas incertezas entre os oposicionistas. Aliás, resumo o meu pensamento no sentido de que o futuro da candidatura governista dependerá da capacidade de a oposição se articular. O quadro que se tem adiante me permite especular sobre a seguinte hipótese: a próxima eleição será decidida pela oposição. Parece óbvio? Não é. As coisas se encaminham para o que insiste em me dizer o vereador João Luis Teixeira: a oposição só perde para ela mesma. Não se ignore nem se menospreze a avaliação.

domingo, 24 de julho de 2011

Dinheiro pelo ladrão

1 – O futebol foi a porta por onde entrei nisso aqui, nessa coisa de escrever, escrever, escrever. Foi por desatino de Franco Ortiz, o Lalo, que meus contemporâneos têm na memória. Então, de vez em quando tenho umas recaídas e me meto a rabiscar sobre o tema. O que decidi fazer hoje e abordando fatos que estão muito longe da nossa órbita, mas que estão muito próximos do nosso bolso. Do meu não, porque já está roto de há muito. O fato é que vem me causando espanto os números sobre os quais escuto falar, sempre que o assunto é a Copa de 2014. Esta semana, por exemplo, ouvi o governador Alckmin falar em 50 ou 60 milhões que o Estado vai torrar para instalar e desinstalar uma arquibancada no estádio do Corinthians, que eu espero em Deus, mesmo sendo são-paulino, que de fato se erga. O que achei curioso foi o caráter banal dos milhões. Soou como se fosse eu tomando um café no balcão da Lanchonete do Tchê, do simpático José Casaril, na esquina do Jardim Velho. Coisas reles.

2 – Ora, ou me desatualizei acerca do valor do dinheiro ou estamos vivendo mesmo em um mundo louco. Estou esfregrando as mãos porque vou receber metade do 13º da minha aposentadoria em agosto, julgando-a uma pequena fortuna, e os big boss falam em minhões e bilhões com uma naturalidade de causar desconfiança. Caramba, mas eu prometi que iria falar de futebol e estou escrevendo sobre dinheiro, vertendo minhas frustrações por desfrutar de tão pouco do sórdido, mas indispensável. A bola está escondida, mas em nome dela estão sendo feitas “tenebrosas transações” – expressão que, me perdoem, sempre que posso a enfio em algum lugar. E aqui ela cabe com absoluta precisão.

3 – Tento não ser retrógrado no sentido de pensar que devamos continuar sendo um país mau humorado, sofredor, para baixo, recusando portanto a idéia de recebermos uma Copa do Mundo. Ela e os Jogos Olímpicos já penso ser certo exagero. Mas, como costuma dizer meu predileto concunhado Alberto Santos Guarnieri, o Neê: “que vá”. (saúde meu caro, estou em falta, sei). Mas, está me espantando o quanto os números crescem numa progressão inimaginável. Sem medo de ser inconseqüente: aí tem. Sim, aí tem ladroagem. E digo mais: a Copa de 2014 vai se transformar, sem risco algum de engano, no episódio mais exemplar de roubalheira que o Brasil já viu. Com o perdão do péssimo trocadilho, vai sair dinheiro pelo ladrão. E o que não vai faltar, aliás, é ladrão.

4 – Sequer sei se alcançarei a Copa, como de resto não há um só ser sobre o Planeta que possa ter essa segurança. Estando presente ou não pouco importa, porque sem convencimento ou arrogância, já ultrapassei essas fases ufanismos do tipo “ame-o ou deixe-o”. Tanto faz. Cumpro um papel que por sinal ninguém me delegou. Lá quando Lalo cometeu o desvario, eu falava de futebol, bola, árbitro, gol, escanteio e outras iguarias. Hoje, me pego surpreendido por, ao falar de futebol, falar de ladrões. Que me perdoem os árbitros que ofendi ao longo destes pesados 40 e tantos anos. Santos, imaculados!

domingo, 17 de julho de 2011

Como Natal, Páscoa, Finados...

01 – As crises entre a Santa Casa e a Prefeitura estão se tornando eventos tão previsíveis quanto algumas datas fixas do calendário, como Natal, Páscoa, Dia das Mães e Finados. Nunca faltam. É certo que contratos têm termos, prazos, fim. Realmente sugerem discussões periódicas. O que não parece ser normal é a habitual beligerância que se instala entre as partes. Aliás, essa é uma questão que tem mesmo muitas partes. Algumas não muito claramente identificadas, mas que interferem no processo. Aí, vem a furo aquela máxima de que em casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão. E vem a tona também aquela constatação de que, na guerra entre o mar e as pedras, que perde é sempre o marisco. Não há dúvida de quem é o marisco, no caso da porfia (essa eu fui buscar lá no fundo do baú) que travam a Prefeitura e a Santa Casa.

02 – Um amigo, detentor de representação na cidade, me faz a seguinte observação: é impossível harmonizar uma relação em que estejam envolvidas personalidades de ego tão inflado quanto o prefeito Carlos Nelson e o administrador da Santa Casa, Ronaldo Carvalho. Não há a menor chance de uma rendição de qualquer das partes em nome da causa objetiva. Sugere o mesmo amigo que seria útil a intermediação de um negociador, um pacificador, capaz de baixar à realidade da razão e da ponderação os litigantes (mais uma do fundo do baú). Que haja alguém com tais pendores não duvido. Duvido, todavia, que tope peitar uma tarefa dessa natureza, precisamente pelo caráter hostil dos personagens. Então, vai ser assim por mais um ano e meio.

03 – Aí, quando essas escaramuças se repetem, vem imediatamente a pregação de que a solução está em instalar um hospital municipal. Ninguém ignora, sobretudo os que fazem política sobre o tema, que essa não é proposta para ser tratada ao estalar de dedos. Nem se tornará concreta do modo rápido como as crises recomendam que pudesse ser. E não pode ser esquecido o fato de que, mais do que o investimento para construir e aparelhar um hospital, o bicho pega é nos custos de operação. Já escrevi uma vez: é um sorvedouro de dinheiro. Dirá alguém: mas a saúde da população justifica o custo, por mais espetacular que seja. Concordo. Só acho prudente advertir que tocar adiante uma proposta dessa natureza pressupõe inevitavelmente renunciar a uma série de coisas.

04 – Na verdade, na verdade, sob o ponto de vista imediato, um hospital municipal eliminaria essa relação atritada entre a Prefeitura e a Santa Casa. Deixaria de haver a disputa Carlos Nelson x Ronaldo. Estariam afastados o estresse, os ataques mútuos. O de menos quando se pensa no interesse da população e, particularmente, daquela que não tem saldo bancário capaz de suportar mensalidades de convênios de assistência à saúde. Como não me parece próximo o dia em que os mogimirianos serão recepcionados sobre tapetes vermelhos em um hospital público do Município, resta ter a paciência indispensável a toda pessoa que procura serviço de saúde e não se surpreender que os conflitos continuem se repetindo com a mesma frequência das datas fixas do calendário. Finados, por exemplo, tem todo ano.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Os olhos não mentem

1 – Quem receber a visita de algum parente distante, por prudência não deve levá-lo a conhecer a Praça Rui Barbosa numa tarde de domingo. A impressão que o visitante recolherá será a pior possível. Ao menos na hipótese de que se repita o que aconteceu no final de semana, quando pombos disputavam migalhas e todo tipo de descarte se espalhava pelos canteiros e alamedas da praça. É certo que o grau de sujeira denota sempre o grau de educação de quem a causou. Mas, limpar está entre as tarefas do poder público. De um jeito ou de outro, o povo paga por isso. E quem faz a limpeza não tem razões para se queixar do que anda recebendo.

2 – Alertado pelo amigo Gambardela, fui verificar uma cena que me deixou assustado. Jovens, boa parte aí pela faixa de 14 ou 15 anos, esperavam a abertura de uma casa de shows, no centro, por volta de quatro da tarde de domingo. Até aí, nada além do normal. Espantoso foi verificar o generalizado consumo de bebida alcoólica. Eram poucos os que não levam um copo na mão – tanto rapazes como meninas. Na calçada, garrafas de refrigerante e bebida destilada – provavelmente rum. Aí, vem a lei: é proibido vender bebida a menores. Mas, é proibido que menores bebam, desde que tenham acesso ao produto? Ah! Para completar, companheiro inseparável que é do álcool – e disso eu sei por experiência própria – estava lá o cigarro ornamentando beiços e lábios. Que esperar?

3 – Assustado tenho ficado também com o tratamento que é dado aos usuários dos ônibus urbanos. Sábado havia absoluta desinformação em ponto da Rua Conde de Parnaíba. Além do que o abrigo ainda não havia sido instalado no local. A impressão é de que tudo é feito de maneira improvisada ou com planejamento furado. Aliás, a solução de transferir as linhas para a antiga ‘rua da estação’ é coisa que não vai se sustentar. É remendo em roupa velha. É quebra-galho, por estar absolutamente evidente que não é solução para o usuário do ônibus e tende a ser complicação para o trânsito. Talvez seja necessário um novo governo para compreender a necessidade de soluções definitivas.

4 – A Pernambucanas bem que poderia reduzir aquele mostrengo com que abraça a lateral de sua loja, deixando à mostra um pouco das linhas do velho, extinto e saudoso Cine São José, onde assisti tantos episódios de Hopalong Cassidy em sessões domingueiras matinais. Seria uma forma de homenagear a história da cidade em retribuição ao que leva daqui seguramente há mais de 50 anos.

5 – Deve ser enobrecedor pertencer a um partido político que tem, entre seus expoentes, o filósofo contemporâneo Tiririca e o impoluto Waldemar Costa Neto. Mas, justiça seja feita, praticamente todos têm seus ‘waldemares’.

sábado, 9 de julho de 2011

A podridão. Há!

1 – Sabe quando alguns assuntos se tornam inconvenientes? Aqueles que sempre que são tratados no face a face causam repelência? Aquelas histórias das quais quase todo mundo – especialmente os que têm alguma proximidade com elas – querem distância? Pois, a cidade está vivendo esse momento e episódios dessa natureza. Quando abordados, o que mais se ouve é a velha expressão humorística atribuída a Maluf: ‘não estou nem aqui’. É um momento rico sob o ponto de vista da mentira, se é possível dizer que faltar com a verdade enriquece. Ninguém sabe, ninguém viu nada. É o cinismo estabelecido.

2 – O fabricante de óleo de peroba encontraria mercado generoso na cidade, nestes tempos, tantos são os exemplares das caras de pau que se movimentam por ruas, praças, ladeiras, avenidas e repartições públicas. Sobre as dúvidas e névoas que se lançam sobre o ambiente não são poucos aqueles que teriam testemunho decisivo a oferecer. Alguns na condição mesmo de atores de cenas tenebrosas, definição que tomo da letra de Chico Buarque.

3 – Mandam certas regras que, diante questionamentos, sejamos surdos, cegos e mudos. Do contrário, as conseqüências serão impensáveis, mas certamente arrasadoras. Em português sem curvas: tem gente que sabe de operações cabulosas ou, quando no mínimo, moral e legalmente fora de padrão, mas se recolhe à falsidade do não sei. Ora para protegerem, ora para se protegerem.

4 – A cidade não está vivendo momento invejável. Pelo contrário, deplorável. Afinal, ecoam desconfianças sobre personalidades de sua elite política que, com certeza, não serão bons exemplos para as nossas criancinhas. Se não se pode punir sem que todas as evidências se tornem incontestáveis, cabais, definitivas, do mesmo modo não se pode tolerar certa benevolência evidente, que mais parece conluio, associação, cumplicidade. Minha colega jornalista Claudete Borges de Campos, hoje em Americana, costumava falar em “gente graúda”. Pois tem “gente graúda” que sabe de pecados de “gente graúda”, mas prefere negar conhecimento, no que é, no mínimo, notória contravenção religiosa.

5 – Não me esqueço da frase que ouvi de Ademarzinho de Barros, entre o final do governo de Jamil Bacar e o início do primeiro de Paulo Silva: sintetizada mais ou menos no seguinte: não há governo em que não haja corrupção. Assino em baixo. E algumas pessoas só não assinam pela posição geográfica que ocupam – estão do lado de dentro. Não tenho desconfianças. Sou convicto. Ilustres próceres do poder também. Infelizmente, a covardia e a conveniência os abate, esquecidos de que, se a Justiça não cobrar o preço, com certeza a história o fará. Implacavelmente com todos.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Meu novo inimigo

1 – Eu imaginava que, conforme a idade vai avançando, a possibilidade de ‘conquistar’ novos inimigos vai se reduzindo. Pelo mesmo fator da longevidade, os potenciais desafetos se tornam mais compreensivos, tolerantes ou passam a nos ignorar mesmo, crentes de que não vale a pena gastar vela boa com defunto ruim. Às vezes também penso isso. Mas, o fato é que, alguns meses após os 64, me pego surpreendido por atrair um novo inimigo. E, pelo jeitão, para sempre. Não sei qual será sua influência no meu humor, mas temo que me torne um pouco mais azedo do que o habitual. Mas, é o seguinte: estamos definitivamente rompidos eu e o açúcar. Divórcio com papel assinado em cartório. Não tem volta.

2 – Mas, por que tenho eu que dividir esse assunto tão pessoal com os leitores, que pagam para ler coisas úteis e não frivolidades? Porque o açúcar está presente em praticamente tudo. Inclusive nas pessoas. E é quando se concentra em excesso que se torna proibitivo, perigosíssimo, inimigo fatal. E o curioso é que humanos com excesso de açúcar não necessariamente se tornam mais dóceis, nem mais doces. Conheço vários exemplares. Eu mesmo – pois não? Mas, conheço muitos, mas põe muitos nisso, que com glicemia nos trinques, absolutamente nos padrões recomendados pelos médicos, são incontrolavelmente insuportáveis. Azedíssimos. Em geral, são os que fazem inimigos com maior facilidade, embora seja verdadeiro que, do lado reverso, desfrutam de amigos caninamente fieis, alguns afeitos ao estranho prazer de lamber-lhes as botas.

3 – O problema, portanto, não está no excesso ou na ausência de açúcar. Está na forma de conviver com aqueles que não nos são simpáticos, não nos aplaudem, não são solidários com nossas ideias e não aprovam a forma como penteamos o cabelo – no meu caso, lenta e gradualmente rareando. Não é fácil mesmo. Sobretudo quando a cabeça se deixa coroar pelo convencimento de que o portador não erra, tem todas as respostas, todas as soluções e ninguém deve ousar ou atrever-se a atravessar-lhe as convicções. Sobra gente assim, com concentração em grande proporção em certo endereço do centro da cidade que – quero crer – é desnecessário nomeá-lo.

4 – Em geral, é dessas relações que nasce a errada conceituação do que é inimigo, quando na verdade ele apenas é oponente em ideias, em princípios e em concepções. Na minha relação com o açúcar é um pouco diferente, tendo em vista que ele é letal organicamente. Nas outras, deixei de eleger inimigos há bom tempo. Até ao contrário, faço certo esforço em recuperar desafetos eventuais por acreditar que, deste plano para outro – embora os ‘sábios’ pensem o contrário – ninguém irá como vencido ou vencedor. Mas, esta é uma bobagem a que não faltam personagens a se dedicar, apontando o polegar em acusação sempre que contrariados mesmo que em apenas uma vírgula. Inimigos? Quando inevitáveis, têm que ser para sempre. Como o açúcar, ao qual não darei as costas mais por um segundo até o fim dos tempos. Dos meus tempos, naturalmente.

sábado, 2 de julho de 2011

Rigor, espada e humor

1 – Querer fazer crer que a greve das servidoras das creches teve motivação política, como ouvi e li, é ofender a categoria e debochar da inteligência dos cidadãos. Essa velha ladainha, muito afeita aos totalitários, já está fora de modo há muito tempo. Greve é, por natureza, uma mobilização de natureza política, pois pressupõe o exercício do direito de pressão e a manifestação de sentimento contrário ao de quem governa. Aí acabou sua coloração política para ser, como foi a desta semana, uma ação de puro interesse profissional. Se vereadores estiveram presentes em uma das assembleias, estiveram inclusive representantes governistas. O resumo é o seguinte: aprenda-se, antes do fim dos tempos, a conviver com o contrário.

2 – Vencida a greve, imaginava eu que o governo municipal, num instante de sensibilidade social, fosse buscar harmonizar-se com os profissionais até há pouco rebelados. Não. Fez o contrário. Brandiu a espada. Vai descontar os dias parados. Sim. Vamos aos argumentos: dias parados têm mesmo que ser descontados. Quem não trabalha não deve ganhar. Note-se, entretanto, que as profissionais que prestam serviços às creches não cruzaram os braços simplesmente para gozar o ócio. Não adotaram uma atitude de vagabundagem. Usaram a prerrogativa mais do que conhecida de, pela suspensão das atividades, chamar o patrão para conversar. Todavia, não são todos que empunham espadas que são capazes de atitudes equilibradas, sensatas e de caráter harmonizador. Alguns não sabem conversar em certas circunstâncias se não for com elas desembainhadas e prontas a espetar.

3 – Roubo jargão de Chacrinha: OK my boy. Cobrem-se os dias das servidoras. Mas, então façam o favor, também, de cobrar o dia em que Rogério Esperança e Carlos Di Martini, ambos da turma do holerite, passaram o expediente pleno em São Paulo, cuidando de interesses do PDT, partido ao qual são filiados. Cobrem-se as horas de diretores e assessores recrutados recentemente ao Gabinete do Prefeito, em pleno horário de trabalho, para fazer claque a entrevista do burgomeste – com licença dos irmãos Adib e Nagib Chaib, proprietários da marca – em torno de assuntos relativos ao seu partido, o PSDB. Enfim, rigor é rigor para amigos e inimigos. Ou será que aqui terá sido restabelecida a máxima do ‘aos amigos tudo, aos inimigos a lei’?

4 – Uma pitadinha de humor vai bem pós-azedume. Conversávamos Fernando Chaib, Carlinhos Bernardi, Bira Martinelli e eu no lugar de sempre. Menos afeito à política, Bira se retirou um pouco antes, depois de uma boa e proveitosa conversa. De repente, nos damos as mãos em despedida e Carlinhos Bernardi, com a maior naturalidade, nos dá a notícia: “vou ao Gabinete pedir minha desfiliação do PPS”. A expressão não deixa dúvida quanto à particularidade dos tempos que andamos vivendo em nossa bicentenária. Claro que caímos os três em gargalhadas. Cada um tomou seu rumo. Carlinhos foi à sede do PPS.