sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A solidão é dolorosa

1 – Eu tenho a rua como a principal fonte de conhecimento acerca daquilo que acontece na cidade. É nela que se sabe de tudo, inclusive das coisas mais escabrosas e impublicáveis. Nestas andanças, dei-me de encontro com um ex-assessor do atual governo municipal. Importante e respeitado assessor enquanto esteve lá dentro. Dele ouvi o que, antes, já ouvira de outros. Desencanto e mágoa pelos métodos de que foram vítimas. Disse-me o interlocutor: “nunca mais sequer passei pela frente da Prefeitura”. Profissional de reputação e experiência, não mereceu um telefonema, uma misera palavra para informá-lo da exoneração e, ainda falsamente que fosse, um agradecimento pela contribuição durante o tempo que prestou seus serviços.

2 – Não me iludo quanto ao fato de que a política não é mesmo um terreno com a fertilidade necessária para fazer vicejar a consideração, o respeito, o reconhecimento e a gratidão. Ao contrário, é o campo em que, na visão de quem tem o poder na mão, todo e qualquer humano é bom enquanto útil e serviçal. Em outras palavras, o assessor é descartável. Como exceção, há casos em que a condição se altera ao saber de circunstâncias e interesses que, embora envoltos em densa escuridão, se explicam com toda claridade. A regra geral, todavia, é a que fulmina personalidades sem dó nem complacência.

3 – Esse processo, cada vez mais comum, explica algumas aflições de parte de indivíduos que, mesmo concentrando avantajadas fatias de poder, não vivem a felicidade plena. Às vezes, nem a mínima. O fenômeno também revela que a qualidade de líder é uma raridade no cenário político. Por consequência, rareiam também os liderados. Nos tempos atuais, a relação é outra, de conveniência, de ‘companheirismo’ cuja fidelidade depende dos números no holerite. E, sendo desse modo, troca-se de ‘companheiro’ a qualquer hora, por qualquer razão, sem dar satisfação sequer por um mínimo princípio de educação.

4 – Em conclusão, examinando o que é a política em prática nestes modernos tempos do terceiro milênio, quando o natural seria estarmos rodeados de lideranças modernas, cultas, democráticas e comprometidas com as urgências que o futuro projeta logo a um palmo adiante do nosso nariz, o que se vê é muito diferente. É a prevalência de agrupamentos ocasionais, construídos em torno de velhas e carcomidos ideias, sem costura ideológica, programática ou de qualquer espécie que não seja o apetite por uma fatia do bolo e o controle interminável do poder. Como há ‘liderados’ disponíveis para serem recrutados nas esquinas, onde a qualquer momento também podem ser descartados, os ‘líderes’ agem imperialmente, não insensíveis, entretanto, ao grau de isolamento a que estão se condenando. “Entro no meu carro e a solidão me dói” cantarolava Roberto Carlos em memorável sucesso. Acho que é uma leitura moderníssima. Solidão dói!