sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Escala Richter

1 – O epicentro foi desde logo identificado: a Casa Civil do Palácio do Planalto, um andar acima do gabinete do Presidente da República. Foi lá a origem do terremoto. O que ainda não foi determinado é o grau de sua intensidade na Escala Ricther. Disso vai depender, e muito, o encaminhamento das eleições nos próximos 16 dias. Estrago o terremoto vai fazer. Ouso supor que, nestas alturas e em face do sinistro mais recente, a decisão vai acabar no segundo turno.

2 – São por demais claras as evidências contrárias à ex-ministra Erenice Guerra, tida, até outro dia, como o braço direito de Dilma Rousseff, enquanto esta permaneceu na boléia do Palácio do Planalto. Os Guerra de Erenice tomaram conta e, ao que parece, agiram com a sensação da impunidade, originada na certeza de que as maracutaias – para usar terminologia do Lula deputado federal – jamais seriam descobertas. Com uma agravante: sabe-se agora que as operações tenebrosas já se processavam às costas de Dilma, quando Erenice ainda era sua imediata. Não vai faltar potencialização do escândalo, pela mídia e pelos opositores do governo, suficiente para pôr algumas, ou muitas, cabeças em dúvida. A propina que corria na Casa Civil é de muito mais fácil entendimento, até pelas pessoas mais simples, que a violação de sigilo de contribuintes do Imposto de Renda.

3 – Não creio que as possibilidades de Dilma se tornar sucessora de Lula se reduzam à impossibilidade. Ainda penso que, no fim, leva o título do campeonato. Mas, acredito que, doravante, mais sofridamente. As últimas pesquisas já captam certa migração de intenção de voto em camadas mais esclarecidas, muito embora ainda não toque, nem de leve, na vantagem da candidata petista, que segue sustentando folgada vantagem em relação a José Serra. Sob a ótica da lógica – embora seja certo que, como em futebol, na política a lógica de nada serve – a tendência é de intensificação desse movimento, pondo em risco a margem de folga para Dilma levar já em 3 do próximo mês.

4 – Necessariamente, entretanto, o estuário dos decepcionados não será o concorrente tucano. Estou inclinado a pensar que os trânsfugas vão correr para os braços de Marina Silva. Ela oferece a aparência da candidata mais ética, que não ataca e não sofre contestações, o que poderia ser natural considerando que a candidata do PV foi governo. De forma direta, Dilma e Serra também não expõem fraquezas. Apresentam-se como fichas limpas. Não há escândalos conhecidos que os envolvam. Mas, de digladiam, o que não costuma agradar certa fatia do eleitorado, avessa a esse tipo de conduta agressiva. Marina trafega em faixa própria, martelando um discurso que, se não encanta, também não assusta.

5 – Para quem votaria em Dilma por absoluta rejeição a votar em Serra, Marina é, portanto, o caminho. É difícil que, mesmo se beneficiando desse movimento, vá a um provável segundo turno. Mas, não é desprezível considerar que haverá segundo turno exatamente por ‘culpa’ de Marina. Mais um pouquinho e a soma dela com Serra e com os do subsolo pode ser o bastante para tirar das mãos de Dilma o troféu para o qual ela já arrumava lugar na estante. Tudo vai depender do grau que o terremoto da semana alcance na Escala Richter.

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