quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Aridez governista

1 – Nas proximidades de completar sete anos, o governo instalado em 2005 não conseguiu projetar uma única liderança que seja capaz de brilhar sem que seja pelas luzes emanadas de seu rei. Não foi capaz ou não quis. A segunda hipótese não é de ser desconsiderada. Mas, o fato é fato. Se fosse necessário escolher hoje um nome inquestionavelmente viável, com cacife para peitar e levar a sucessão, a dificuldade seria imensa. Gerson e Flávia Rossi, que parecem disputar a primazia ao menos por enquanto, estão muito longe do que seriam lideranças com raízes fincadas e rebanho minimamente consolidado. Fazem enorme esforço, todavia não com o resultado suficiente.

2 – E por que não? Porque não basta querer. É preciso reunir dotes de liderança, produto não disponível no mercado dos recursos postiços. Nomes viáveis se constroem por ações e iniciativas afirmativas, daquelas em que o personagem se põe à frente ao contrário de servir de escora. E, entre os auxiliares de Carlos Nelson, não há um único caso em que alguém tenha ao menos insinuado por o pescoço para fora. Por falta de dotes de liderança ou por medo das reações superiores, sabendo-se que a cidade é governada com mãos pesadas. Há dias, Nelson Victal do Prado me disse ter ouvido do prefeito que a escolha do candidato à sua sucessão será feita a partir de uma pesquisa de opinião pública. Ora, nada mais explícito quanto à sombra em que se escondem sobre todos os subalternos, potenciais ou não candidatos à cadeira do chefe. Aliás, a escolha da vice em 2008 não foi diferente. Flávia ganhou o bilhete premiado porque entre os pretendentes não havia um só que tivesse reunido credenciais para a posição.

3 – Por mais que seja arriscado dizer e por mais que aborrecimentos possam sobrevir, o fato é que o terreno governista não foi devidamente adubado ou, de origem, é mesmo pouco fértil. Não possui favorito algum e nem um único nome que possa costurar os desejos e ambições do grupo político, compreendido todo o arco partidário que cerca o governo. Qualquer nome que se fale produz reação contrária. Aliás, é por isso mesmo, por falta de nome um nome minimamente consensual, que torça o mínimo de narizes, é que tem voluntários se lançando em sacolada. Todo mundo está se achando representativo o bastante para pleitear lugar na boleia da caravana.

4 – De todo mundo, a má vontade com que analisa o quadro carlosnelsista não significa que a situação está liquidada, sem chances ou em dificuldade muito grande. Dilma era nacionalmente uma desconhecida. Lula a pegou pelas mãos e a apresentou ao Brasil. Tucanos a trataram com deboche, imaginando uma eleição com favas contadas em face da dianteira que Serra livrava. O resultado está aí. Por que não seria possível que se processasse aqui o mesmo fenômeno? Pode acontecer. A questão apenas está em saber se Carlos Nelson terá, no plano da sucessão local, a mesma capacidade de Lula em transferir prestígio e voto à sua desconhecida candidata na disputa nacional. Lula estava com prestígio. Muito prestigio.

sábado, 27 de agosto de 2011

Fracasso e esperteza

1 – O vereador Orivaldo Magalhães fez uma apreciação interessante na segunda-feira, ao abordar o interminável tema da saúde pública da cidade. Disse constatar que as discussões acerca do tema têm sido inúteis, sem conseqüências práticas mensuráveis, porque não cercadas de propostas e ideias objetivas para a solução dos problemas. Suponho que, sobre o assunto, ele não pretenderá se repetir, para não cair, ele mesmo, na armadilha dos discursos vazios.

2 – Na verdade, não se trata apenas, como tem razão Orivaldo, da inutilidade das discussões, mas da notória exploração do tema. As dificuldades que os cidadãos enfrentam quando batem às portas dos serviços públicos de saúde se transformaram em campeonato de acusações. É a Prefeitura, é a Santa Casa, é o governo do Estado, é a União, enfim, as culpas se revezam ao sabor de cada avaliação, cada qual marcada por componente político indisfarçável. Num ambiente assim, de tão pouca boa vontade e reduzidíssimo interesse público, é impossível alcançar qualquer consenso. Com tais interlocutores, em resumo, não há chance de entendimento algum que conduza à minimização do problema. Em resumo, lá se vão sete anos e meio sem solução alguma e de um clima infernal e estressante entre os atores. Fracasso total.

3 – O vereador Gustavo Stupp resolveu que vai mexer de novo no subsídio ao transporte de universitários que se deslocam de Mogi para outras cidades. Recitou números, revelando refluxo nos dispêndios da Prefeitura com o encargo. Pretende então convocar mais uma daquelas audiências públicas que começam sem rumo e terminam sem destino. Gustavo tem um discurso com boa capacidade de dissimulação. Articula muito bem. Sobre ele, um colega de Câmara, um dia, me disse o seguinte: “ele é um avião”. Pois é por essas e outras que estou cogitando aqui com meus botões que o vereador esteja começando a juntar o rebanho para outubro do ano que vem. Questão de obviedade: qualquer mobilização que faça em torno da questão do subsídio não resultará em coisa alguma. Não há chance de alterar os critérios hoje obedecidos para a concessão do benefício. Mas, será uma boa ocasião para reunir a moçada e vender o peixe. Assim: se for prefeito em 2013, libera geral.

4 – Nas andanças por um lado e outro, a gente vai recolhendo expressões curiosas, mas que bem definem algumas coisas. Uma delas é a de que diz o seguinte: o mais bobo dos políticos põe linha na agulha com luva de boxe. Isso até não era uma coisa tão generalizada há algumas décadas, ao contrário de agora. Não há mais amadores. E o poder virou um fim em si, quando costumava ser um instrumento para a satisfação de projetos e interesses. Pois por aqui está assim. E é porque a esperteza se aprimora cada vez mais que prevejo: tem gente que vai sofrer mortal decepção em pouco tempo. Vai ser na ‘hora h’, quando só haverá lugar para um.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um já está bom demais

1 – Ao contrário do que se supõe, o filtro para a escolha de candidatos a cargos eletivos está nos partidos políticos. Ao eleitor cabe, portanto, optar pelas alternativas oferecidas. Claro que pode passar um segundo pente fino. Todavia, não terá como fugir do cardápio proposto. Nas eleições de 2008, não foram poucos os exemplares folclóricos e exóticos ofertados na vitrine das candidaturas. Funcionou o filtro do eleitor e a Câmara se salvou. Não integralmente. Por isso mesmo que considero apropriado fazer essa exortação aos dirigentes partidários no sentido de que não brinquem com coisas tão sérias como são a política e a representação popular. Antes de pensar na capacidade aglutinadora de votos de certos personagens, pensem no que cada candidato será capaz de fazer se for alçado à condição de vereador.

2 – Decidi fazer tais reflexões depois do que ouvi segunda-feira. É de não se acreditar que no plenário do Legislativo ecoem proclamações semelhantes às daquela noite. O vereador Laércio Pires se superou. Ladrão e bandido compuseram as expressões mais ricas do seu vocabulário, como se estivesse na arquibancada de um estádio a dirigir impropérios a um árbitro de futebol. Testemunhei alguns momentos críticos, tensos na Câmara. Algo semelhante jamais ouvi. Se o comando da Casa tivesse alguma capacidade para perceber o grau de agressão aos bons costumes, no mínimo Pires já teria recebido alguns cartões amarelos. Mas, a chefia da casa está descerebrada. Pensar deve ser um exercício doloroso.

3 – Pois bem. E por que Laércio Pires extrapola às regras da boa conduta? E no caso de segunda-feira ante pessoas da maior respeitabilidade que ocupavam as galerias. Porque ele é produto do meio. O partido lhe deu vez, obviamente sem que tenha feito o menor exame acerca dos valores éticos que ele cultiva. A exortação que considero me caber fazer agora é a seguinte: que os partidos cuidem de não facilitar o acesso à Câmara de novos exemplares dessa qualidade. Um Pires já é suficiente para pôr a historia da Câmara de Mogi Mirim de cócoras, ao chamar adversários políticos de bandidos e ladrões. Insisto, todavia, que ele próprio só é culpado parcialmente. Pela mesma razão, isto é, pela incúria dos partidos, ele poderia estar dividindo lugar na ferradura do plenário com Itanatã – lembram-se?

4 – O fato é o seguinte: a atividade legislativa é coisa da mais alta responsabilidade. O vereador não fala apenas por si, mas pelos que representa. E preciso, portanto, respeitá-los. O direito à livre manifestação não é algo ilimitado. Ele assegura a plenitude da expressão de ideias, mas não dá direito a atacar desafetos a torto e a direito de maneira impune. Ofender é crime. Assim como ultrajar, caluniar, difamar, injuriar. A prática de tais atos não está entre as prerrogativas de eleito algum. Quem as adota revela nítido despreparo para a função. Espero que os partidos zelem por não escolher exemplares semelhantes para a próxima eleição. Um já está bom demais.

sábado, 20 de agosto de 2011

Desdém pelo eleitor

1 – Os vereadores Fábio Mota e Rogério Esperança obtiveram, somados os desempenhos de ambos nas eleições de 2008, a nada módica quantia de 1.994 votos. Ficaram próximos um do outro: Fábio com 1069 e Rogério com 925. Duas votações, portanto, respeitáveis. Basta dizer que Fábio Mota foi o quinto mais votado entre os eleitos e Rogério o oitavo. Assim, ao menos sob o ponto de vista formal, elas saíram do pleito de 2008 com enorme carga de responsabilidade sobre as costas. Muito embora todos sejam vereadores de modo igual – não há quem seja mais ou menos em função do número de votos – é evidente que alguns sobem ao Legislativo com uma respeitável carga de representatividade.

2 – Pois bem. Sendo assim, era de se esperar que ambos fossem para a Augusta Casa, como antigamente era habitual tratar o poder legislativo local, como enorme senso de cidadania. Proporcional, no mínimo, à votação que receberam. Certo? Era de se esperar, mas não foi o que aconteceu. Fábio Mota deu um pontapé nos seus 1069 votos já no dia da posse e, a duras penas convencido pelo prefeito Carlos Nelson Bueno, foi de novo alojar-se no Departamento de Serviços Municipais. Fez um estrago mais ou menos. Não exerceu o mandato por um dia sequer e ainda levou seu partido a perder uma cadeira na Câmara, que ofereceu docilmente ao PMDB.

3 – Colega de Fábio no grupo político, já que ambos eram governistas – e põe governistas nisso –, Rogério Esperança fez um pouco diferente, mas não o suficiente para também deixar bem caracterizado o desdém com que tratou o seu mandato. Entrou e saiu da Câmara com um descompromisso exemplar. Na matéria, foi ‘hour concour’, como diria o mais festejado de todos os colunistas sociais que Mogi Mirim já viu, Luiz Antonio Balzanello. Na minha sexagenária existência, desconheço paralelo na história política da cidade. Jamais vi caso igual de alguém que tenha conseguido, em tão pouco tempo, expressar posições tão incoerentes. Ora sim, ora não; ora a favor, ora contra. Hoje, por exemplo, está a favor. Nada garante que não mude, ainda mais considerando os interesses que efluirão no ano que vem.

4 – Confesso o seguinte: a mim nada afeta a conduta miserável de Fábio e Rogério sob o ponto de vista político. Afeta, sim, aos eleitores e particularmente àqueles que os conduziram à condição de representante popular. Não sei como se sentem os tais eleitores. Como a política anda, segundo o que eu ouvia da vó Gidica, em nível abaixo de rabo de cachorro, é possível que os eleitores estejam mesmo é se lixando. Não duvido que muitos deles sequer saibam das traquinagens de seus dois eleitos. E nem mesmo é impossível que ambos, lá por julho, agosto, setembro do ano que vem, de novo, voltem a bater às portas dos mogimirianos com a maior desfaçatez em busca de votos. Por que não será possível se, diz velha e boa sabedoria, cesteiro que faz um cesto faz um cento. Para o cento, eles ainda têm mais 98 chances.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Coisas espantosas

1 – Espantosos os relatos sobre o que anda acontecendo nas escolas públicas de Mogi Mirim. Espantoso e inimaginável. Fiz o último ano do então primário no então Grupo Escolar “Coronel Venâncio”. Foi em 1957. Gente que mais tarde se tornou ilustre na cidade foi contemporânea, embora freqüentando outra classe. O uniforme era carijó. E ninguém ousava atravessar o portão vestido de outro modo. A disciplina era rigorosíssima e o respeito pela direção, pelos professores e pelos funcionários era total. Não se dava um pio. Contestar nem pensar. Pois não é que ontem eu testemunhei um rapaz – nem sei se aluno – juntando algo do chão para atirar em direção à escola. Temo, sinceramente, que esse menino, daqui a alguns anos, irá se arrepender de seu ato, do desrespeito para com o santuário onde deveria ir beber os ensinamentos necessários para se formar um cidadão. Sinceramente, temo dele não podermos esperar grande coisa, senão um futuro farrapo destes com os quais, desgraçadamente, nos deparamos nas esquinas e nas penumbras.

2 – Eu não saberei discernir as causas dos fenômenos atuais, que se tornam cada vez mais graves. Sem subir no muro, penso não haver uma responsabilidade individualizada. E desde logo penso o seguinte: não é um problema da escola. Ao menos, só da escola. Há muito, mas muito mesmo, de responsabilidade social, das famílias. Como há das autoridades, quando tratam a questão com a aparência de quem quer esconder o problema. Errarei com consciência, mas direi que está em causa a qualidade das pessoas. E esta não é a escola que molda, como pudesse enfiar cada um de seus alunos em uma forma. Isso vem de casa, da mãe, do pai, dos familiares em geral, do ambiente da vizinhança, daquilo tudo que cerca o menino, a garota, o rapaz.

3 – As cenas que se contam nada têm a ver com o ambiente escolar propriamente. Há casos evidentes de disputas entre gangues. Deve haver e com certeza haverá casos de desajustes de casa. Assim como a droga deve estar rondando pelas proximidades. Essas coisas levam a supor sugestões que soariam como cúmulo dos absurdos: fazer triagem prévia de quem a escola abrigará como aluno, instalar detector de armas na porta dos estabelecimentos e, em última instância, recrutar a polícia para ofertar segurança ao ambiente durante o período das aulas.

4 – Espantem-se com essas minhas elucubrações, aborreçam-se, declaram persona non grata o autor. Advirto: quando se toma para refletir um problema da gravidade do que anda acontecendo nas escolas, não é possível ser agradável, ameno, bonzinho. É caso para tratamento de choque. Não – pelo amor de Deus – no sentido da resposta à violência com violência. Tratamento de choque é não tergiversar, não transformar o caso em discussão acadêmica, não dourar a pílula, não ficar empurrando com a barriga ou querendo camuflar uma evidência que agride os olhos e assusta as consciências. É só isso. Solução? Não sei. Há? Certamente que sim. O problema que está aí agora não se resolve com discurso. É com ação.

sábado, 13 de agosto de 2011

EDITORIAL DE O POPULAR - Medidas para moralizar. Quem assume?

O atual governo municipal, já em sua segunda e última quadra, incorporou aos costumes políticos de Mogi Mirim a prática do loteamento de cargos. É natural que todos os governos se cerquem de aliados, portanto designando-os para os postos em que o requisito da confiança seja indispensável. Mas, o sr. Carlos Nelson Bueno extrapolou os limites.
Não só loteou como cooptou quem pode e levou para o governo. De ex-candidato a vice-prefeito adversário a vereador da base, nada escapou, inclusive vereador que entra e sai da administração ao sabor de circunstâncias jamais clara e convincentemente explicadas. Não escaparam da generosidade, até quando foi possível, esposas de gente de dentro. O número de funções de livre designação, portanto subordinadas aos humores do prefeito, explodiu espetacularmente. O período é deplorável e não pode se reproduzir no próximo governo.
Pois bem. Faltando ainda mais de um ano para as próximas eleições, já há algumas clarezas quanto a postulantes ao posto de Prefeito Municipal a partir de 1 de janeiro de 2013. De ambas as correntes – situação e oposição. A estes e a seus respectivos partidos políticos, O POPULAR decide lançar um desafio, com vistas a corrigir esse degenerado quadro de apropriação do governo pelos interesses particulares.
É de se supor que a leitura dos pré-candidatos acerca do quadro não seja diferente em relação a que faz este jornal. Então, sugerimos a todos em conjunto e cada um de per si firmar compromisso, como meta irrenunciável para o futuro governo, em torno dos pontos que elencamos em seguida:
1 – drástica redução dos cargos e funções de livre provimento, restringindo-as ao mínimo necessário;
2 – promover a designação de diretores em obediência ao rigoroso critério técnico da especialidade, formação superior e comprovada experiência e competência;
3 – não designar parentes em qualquer grau de vereadores e de membros do quadro de auxiliares para cargos e funções comissionadas;
4 – não designar vereador para ocupar cargo na administração municipal;
5 – promover o aproveitamento exclusivo de servidores do quadro permanente da Prefeitura para os cargos de assessoramento de nível imediatamente inferior aos de diretor de departamento
Estas medidas representam o mínimo a oferecer à sociedade como compromisso de moralizar a ocupação dos cargos públicos, substituindo o critério político-partidário-pessoal pelo interesse público, de modo a obter o melhor aproveitamento dos recursos empregados e a maior eficiência administrativa.
Na verdade, as sugestões aqui contidas em nada inovam quanto ao que deveria ser natural na administração pública. Mas, ao correr dos anos, a liberalidade tem substituído a moralidade e os cargos públicos, pagos pelo que se toma do bolso dos contribuintes, vêm sendo crescentemente apropriados, com espantosa falta de vergonha, para atender indisfarçáveis interesses políticos.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A ética da safadeza

1 - “O fato de ser parente não credencia nem descredencia ninguém. Não tenho nenhum parente, mas acho legítimo que as pessoas possam indicar pessoas que possam ser aproveitadas”. A frase é do Ministro da Agricultura, Wagner Rossi. Um deputado opaco da região de Ribeirão Preto, mas muito bem aparelhado de amigos, que primeiro o levaram à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), um antro de iniquidades, e depois ao ministério. Nomear o filho de Renan Calheiros, o sobrinho de Quércia e a ex-mulher do líder do governo, Henrique Alves, não tem nada demais. É a ética sob a ótica da safadeza.

2 - Wagner Rossi não é exceção. Faz parte da regra, porque os políticos, tirando um aqui outro ali, são todos assim. Por aqui não é diferente. A frase de Wagner Rossi tem o claro sentido de deboche, de falta de respeito para com os cidadãos. Por aqui também há faces que não se avermelham por manifestações de igual cinismo. Porque, de cima em baixo, o fato é que a classe política perdeu completamente a vergonha. Explico: não se envergonham mais de mentir, de sofismar, de enganar, de iludir, de ludibriar. Parece haver no meio certa segurança de que nada vai acontecer. Wagner Rossi manifestou sua ética caolha, virou as costas e foi cuidar da sua profícua vida de ministro que, com certeza, não deve fazer favor de graça. Nomeações em geral têm preços. Ou, em outra hipótese, são o pagamento de benefício já previamente auferido.

3 – Sim. Nomeações têm preço em todas as esferas ou pagam por algum serviço anteriormente prestado, numa campanha eleitoral, numa eleição para a presidência da Câmara, em coisas do gênero. Não podem ser esquecidas, por exemplo, as esposas de vereadores e de diretores que ocupavam cargos na esfera do governo local. A farra acabou por obra da promotora Cristianefd, que faz marcação cerrada. Ora, e o que era essa generosidade com cargo público senão pagamento de conta. Ou abertura de crédito, instrumento para segurar fielk? Sabe-se lá. Isso faz parte da política do cinismo, pois os autores imaginam ser possível convencer a arraia miúda de que as e os parentes foram guindados a postos de acesso livre por absoluta e exclusiva capacidade profissional.

4 – A que interesse atende situação em que dois comissionados precisam ser separados em virtude de incompatibilidades jamais explicadas, mas ambos precisam ser mantidos pendurados no cabide, certamente que não pelo quanto são capazes de oferecer em produção para a população. Essa é a ética do interesse público? É a ética do cinismo, neste caso com uma pitada de suspeição. O espaço está acabando. Não dá para ir mais longe. Nem e necessário mesmo. Está tudo muito claro sobre como agem aqueles que se juram defensores do povo. São mesmo. Do povo deles.

sábado, 6 de agosto de 2011

Política e salário

1 – Por algumas projeções, a remuneração dos vereadores a serem eleitos em outubro de 2012 deverá ir à estratosfera de sete mil reais por mês. É a conta que se chega considerando os subsídios dos deputados estaduais. Os vereadores podem receber até 40% do que percebem os ocupantes de cadeiras na Assembleia Legislativa. Importante: não é obrigatório que seja 40%. Pode ser menos, se o quiserem os vereadores atuais, quando chegar o momento, no ano que vem, de tomar deliberação a esse respeito. Como se sabe, cabe à Câmara fixar os subsídios a serem pagos na legislatura seguinte – vereadores, prefeito e vice. Por sinal, a remuneração do vice é um escândalo. Corresponde à metade do que ganha o prefeito e pode passar os quatro anos sem fazer absolutamente nada, senão esperar que o titular saia de férias, renuncie ou morra.

2 – Quem lê meus escritos há algum tempo sabe que defendo a remuneração dos agentes políticos. Serviço prestado deve ser pago, ainda que eleitos se lancem às tarefas por deliberação própria, porque querem e não por obrigação. Mas, igualmente penso que os valores precisam ser compatíveis com os encargos e com a realidade local. Hoje, prefeito e vereadores estão ganhando bem. O primeiro em torno de 10 mil reais. Os vereadores cerca de três mil reais. Por que ganham bem? Porque o exercício do mandato não é necessariamente oneroso, ainda que no caso do prefeito exige dedicação diária integral. Quem na pode com peso não carrega muamba. Quem não pode sustentar o ‘vício’ que não se meta.

3 – Como se sabe, em qualquer atividade dinheiro é chamariz. Sempre que as ofertas são mais generosas maior é a intensidade do voluntariado. O que se paga hoje a um vereador já é um valor atraente. No mercado de trabalho, três mil reais correspondem a um belíssimo salário. O risco dessas coisas é a banalização da atividade de representação, que passa a ser um negócio rentável em lugar do exercício da política como instrumento de construção de uma cidade melhor. Essas palavras soam com certas nuances de ingenuidade, não é mesmo? Parece que isso de querer o melhor para a cidade e os cidadãos está tão fora de moda.

4 - Aliás, não parece. É verdade mesmo. E um pouco dessa degradação da atividade de representação tem como causa, sem qualquer dúvida, a questão monetária. Ora, se de fato a remuneração subir aos patamares especulados hoje, poderá ser detonado um enorme interesse pelo cargo que em nada contribuirá para a qualidade da representação. Ao contrário. Disso já há exemplos, desde que o general Ernesto Geisel decidiu dar salário aos vereadores, que então trabalhavam de graça. Para terminar: o primeiro filtro qualificador podem ser os partidos políticos, nos quais não é prudente acreditar; o segundo serão os eleitores, dos quais é sempre prudente duvidar.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Visitando a esquerda

1 – Nas eleições de 2008, o PSB teve que recorrer a uma operação emergencial quando percebeu que os votos de Paulo Silva iriam para o ralo, fulminados pela impugnação da sua candidatura a vereador. Foram mais de 700 sufrágios, suficientes para que Paulo se elegesse, que terminaram mesmo desconsiderados. O partido perdeu uma cadeira na Câmara. Parece que a lição valeu e agora, desde cedo, o comando partidário se curva ao inevitável e já adverte sua militância de que é melhor pensar em outras opções para disputar a Prefeitura em 2012. A estratégia, desta vez, parece correta e ajuizada. É prudente não alimentar o nome do ex-prefeito por mais tempo para não ser pego por um tiro na curva lá perto das eleições. Afinal, hoje Paulo está inelegível.

2 - Pode haver uma reversão? Sempre pode. Mas, não é aconselhável apostar nela. Assim, não resta outra coisa a fazer senão chacoalhar a peneira, devolver os lambaris ao rio e levar à ceva, para engorda e robustecimento, os vertebrados com potencial para adquirir alguma viabilidade eleitoral. Em outra metáfora, não se vai à mesa de carteado sem algum az, quatro de paus e sete de copas. Se possível, o ideal é sempre ter algo escondido na manga para um repique. É a tarefa que se impôs ao PSB. E por melhor que saia nesse processo, perde um pouco de poder de barganha para quando encostar a barriga no balcão das negociações eleitorais. Se me entendem, o que não pode é apostar numa incerteza, ainda que o nome seja o ideal. Se, de repente, lá na frente, Paulo Silva for reabilitado, ele sempre será produto de fácil penetração no mercado eleitoral. Se não houver a reversão, hoje pouco provável, o partido não estará a pé em estrada deserta e escura.

3 – Trafegando de uma esquerda a outra, saúdo o PT pela organização que pude testemunhar no final da tarde de sábado. Fui ver a exposição comemorativa aos 30 anos de fundação do partido e levar um abraço ao presidente Ernani Donatti Gragnanello, com quem privo de trocas de figurinhas quase que pelo mesmo tempo. O PT valoriza cada documento desde os tempos em que as folhas de papel recebiam as mensagens pelo rolo do velho mimeógrafo.

4 - Não se trata de apenas conservar e guardar papéis, mas de preservar a sua história, que em resumo é um pouco da história política da cidade nesse mesmo período de três décadas. Não há um só dos atuais partidos locais com acervo tão rico. Suspeito que a maioria mal conserva seus livros de atas e as fichas dos filiados. O PT é primoroso nesse quesito e faço esse elogio com total sossego, considerando que nossas idéias nem sempre se abraçam e muitas vezes até nos antagonizam.

5 - Não sei quantos representantes políticos passaram por lá. Os que não foram cometeram grave omissão e demonstraram possuir uma concepção estreita do que é a política. Afinal, o sábado não assinalou apenas os 30 anos da existência do PT, mas três décadas da história política de Mogi Mirim a partir de 1981. Porque, queiram ou não os inimigos, desafetos e antipatizantes, delas o Partido dos Trabalhadores participou ativamente. Talvez como nenhum outro.