quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O exemplo do espanhol

1 – Confesso que me surpreendeu que, de repente, a Prefeitura descola uma linha de crédito para beber nela R$ 10 milhões, recursos a serem destinados a um majestoso projeto a ser fincado nos altos da Santa Cruz. É a anunciada arena multiuso, que incorporaria também uma nova sede para o Departamento de Cultura. Quanto digo que me surpreendi é porque assunto dessa natureza – o projeto e a fonte de recursos – jamais foi ventilado sequer em mesa de bar. Me oponho? Em absoluto. Sou permanente defensor de que a cultura em suas várias formas de manifestação deva mesmo merecer melhor tratamento. Até aqui ficou sempre com as migalhas que caem da mesa.

2 – Discutir por que esse dinheiro não vai para a saúde é tentar iludir incautos. Pode ser que a mesma fonte de onde ele procede preveja a hipótese de financiar projetos na área da saúde. A pequena fortuna em causa foi requerida para aplicação nos tais projetos da área cultural. Pode-se discutir prioridade. É mais urgente melhorar o aparelhamento dos serviços de saúde, ampliá-los e tudo o mais. Aliás, ficou bem evidente de como isto é necessário depois da amostragem – ainda preliminar – feita por vistoria realizada pela promotora Cristiane de Souza Hillal em unidades de saúde da zona rural. A situação é deplorável, incompatível com a Mogi Mirim dos quase 250 anos. Mas, isto é outra conversa.

3 – Para não esconder o que penso, acho que esse projeto caiu de para quedas. Tem cheiro de coisa oportunística. Mas não é ruim. Outra coisa é que o lugar em que se prevê executá-lo foi imaginado pelo engenheiro Sidney Hugo de Carvalho, quando diretor de Planejamento da Prefeitura, para o novo Paço Municipal. Absolutamente necessário. O atual está reduzido à condição de um favelão. Mas, deixa pra lá. Quem haverá de ter coragem de esposar essa tese de que é preciso um novo Paço Municipal? Não pensam que sua finalidade seria melhorar a qualidade dos serviços oferecidos à população.

4 – Por último, uma questão me parece importante ser examinada. O Teatro de Arena está detonado, esquecido e abandonado. O Espaço Cidadão ou Praça de Eventos – são tantos os nomes – carece de finalização e ainda não conseguiu se justificar para a finalidade a que foi concebido. Aliás, recordo: apoiei a ideia. Por último, o Complexo de Lazer “José Geraldo Franco Ortiz” (é este o nome oficial, viu pessoal que organiza eventos) sofre de inanição. Ora, não me parece haver a mínima sensatez em se lançar um projeto novo, ao que tudo indica sofisticado, com custo de alto calibre, sem que se recupere e se aprimore os recursos já existentes. A rigor, quase que os três equipamentos aqui mencionados preenchem as carências da cultura da cidade. Não me esqueço da pregação de Mário Covas, quando eleito governador de São Paulo: antes de começar qualquer outra coisa, vamos terminar o que está na metade. Não me parece que o espanhol tenha estado errado.

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