sábado, 24 de setembro de 2011

Bom dia, Mogi Mirim

1 – Subi do jornal para minha casa, na quinta-feira, tomado por uma brutal sensação de impotência e desânimo. Juntei naquele dia mais alguns fragmentos do quadro desolador em que está mergulhada a política local e os poderes públicos. Sem exagero, estamos batendo no fundo do poço. Vivemos o reinado da mentira, da falsidade, da insinceridade, do golpe, do sofisma, do blefe e dos sentimentos de solidariedade fabricados com ingredientes do maior cinismo. Pois imaginei que seria oportunidade mais do que apropriada para cumprimentar as elites políticas, econômicas, sociais e culturais de Mogi Mirim pelo interesse que demonstram pelas coisas da cidade. Jamais vi omissão mais desalentadora. Há um muro divisor. O que acontece fora da órbita do interesse individualizado, grupal ou corporativo não importa. Talvez não saibam o nome da vice-prefeita. O do presidente da Câmara com certeza não sabem mesmo. Quem tem elites assim não precisa de mais nada para entregar a cidade às mãos do primeiro aventureiro.

2 – Foi assim que Carlos Nelson entrou aqui. Assim poderá ser que alguém qualquer, sem o menor preparo e vazio das condições intrínsecas indispensáveis, se aproprie da gestão do município. Aquilo que no passado o jornalista Arthur de Azevedo chamava de “forças vivas” da cidade é mesmo coisa do passado. Por que me importar com o que acontece na Rua Dr. José Alves, 129, se é muito mais agradável e eu posso pagar 1.200 reais para assistir João Gilberto em São Paulo? Como dá prazer fazer tardes de lazer nos shoppings mais finos. Sim. Sei. É do direito de cada um, que faz o que bem lhe dá na telha e suas economias garantem a cobertura. A questão está na inteira ausência do espírito de cidadão com algum compromisso pelo bem de sua cidade.

3 – Mas eu falei em impotência e desalento. Sim. No primeiro caso, por concluir que pensar um pouco no conjunto é fazer pregação no deserto. Raros são os que não estão a fim mesmo é de defender o seu. E isso acontece com intensidade espetacular na corporação política. Por essa consequência, a decadência está se processando em enorme velocidade. Recolhe-se ao poder o que é conveniente. Trata-se o poder como se fosse propriedade particular. Resvala-se por relações perigosíssimas, nada nobres, nada recomendadas. E, de repente, desce até um respingo de gangsterismo, com espadas brandindo ameaças a pretexto de silenciar a quem se atreve adotar mão contrária ou resolve aplicar detergente em algumas sujeiras.

4 – Se houvesse respeito ao axioma de que “o poder emana do povo e em seu nome é exercido”, não seriam poucos os que sequer poderiam se aproximar de cargos, funções e responsabilidades públicas. Mas, aí é que está. Como as tais “forças vivas” decididamente viraram as costas para a cidade, o poder está aboletado das mais variadas – e muitas daninhas – espécies políticas. O desânimo, enfim, é por concluir que não vejo forças interessadas em se opor a essa desgraça. Na dúvida entre o resisto ou desisto, opto pela primeira por mera teimosia. E consciente de que, para o leitor, isso também não tem a menor importância.

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