sábado, 3 de janeiro de 2009

Aos eleitores...

...as batatas. Soou assim para mim ao ouvir o vereador Fabio Mota anunciando seu afastamento da Câmara para ocupar cargo na esfera da Prefeitura, horas após assumir o mandato. Por que não tinha, não apresentou qualquer argumento minimamente convincente. Não a mim, mas aos seus 1069 eleitores.

Fábio não é o primeiro. Na legislatura anterior, o protagonista foi Rogério Esperança, que perambulou pelo Saae e pelo Departamento de Meio Ambiente. Nos dois casos e nos que ainda possam surgir, não consigo achar nexo nas atitudes, que a meu juízo representam um belíssimo exemplo de traição dos eleitores.

Por que disputar uma eleição, às vezes a peso de ouro, recrutando equipes, gastando combustível, espalhando papéis pela cidade e proclamando compromissos aos quatro cantos? Na minha santa ingenuidade, penso que seja para conquistar o mandato e interpretar os anseios dos cidadãos na Câmara Municipal. Penso que seja até mesmo para galgar posições, subir degraus e se lançar a aventuras mais ousadas.

Mas, eu penso assim porque sou ingênuo. Não sou capaz de compreender que outros interesses possam alterar as rotas e levar o eleito a dar um pontapé bem dado no mandato e mandar uma bela de uma banana aos eleitores.

Não sou capaz de compreender que, para alguns, o interesse individual está acima do coletivo. Não sou capaz de compreender que ainda prevaleça a filosofia consagrada por Gerson em um comercial de cigarro, segundo a qual o importante é levar vantagem em tudo. E quando em vantagem, penso: em sã consciência, ninguém troca o mais vantajoso pelo menos.

A exemplo de Rogério antes, Fábio comete – para a minha ingênua capacidade de interpretar as condutas – um gravíssimo erro. Filia-se à corrente dos políticos que desdenham os cidadãos, que agem de costas para a sociedade, convencidos de que esta é desmemoriada e esquece tudo.

Eu costumo pensar que as leis não moldam as condutas sociais. São as condutas sociais que exigem a adequação das leis. Pois aí está um caso. Esse hábito de trocar o mandato por cargo se enraíza tanto que me parece necessário, e com certa urgência, botar uma tranca nesse maldito vício, criando dispositivo segundo o qual o eleito tem que exercer o mandato obrigatoriamente.

Me arrisco a ir um pouco mais longe fazer uma provocação: eleito que decide não exercer o mandato não estaria praticando infidelidade partidária? Está deixando de ser fiel à sigla que lhe deu lugar para representá-la. Está descumprindo compromisso partidário. Não guarda certa relação, à luz da atual regulamentação sobre fidelidade partidária, com quem se elege por um partido e vai se abrigar em outro?

Concordo que, nesse ponto, fui um pouco longe demais. Viajei. Mas, na pior das hipóteses não temo insistir que o afastamento é um atitude de infidelidade para com o eleitor. A quem os eleitores de Fábio Mota agora deverão recorrer? Ao Boca, que o substituirá? Mas, não foi o Boca que eles elegeram.

Em tese, portanto, se tornaram órfãos. Resta saber como reagirão se, daqui a quatro anos, forem procurados novamente por Fábio. Será a hora de retribuírem com a banana?

2 comentários:

Anônimo disse...

Fábio Mota é só mais um indivíduo ganancioso que se vale da política para se dar bem na vida. Tive o desprazer de conhecer esse sujeito e o pouco que conheci de seu caráter e sua falta de escrúpulos foi o bastante para que eu nutra por ele absoluto desprezo. E menosprezo também. Discordo de você Valter, quando defende nova lei que obrigue o eleito a exercer o mandato para o qual se elegeu. Defendo uma lei que, ao trocarem o mandato por cargo em comissão, determine a perda imediata do mandato, de forma irrecorrível, sejam impedidos definitivamente de concorrer em futuras eleições e ainda percam automaticamente o mandato atual, além de serem desfiliados concomitantemente do partido e proibidos de se alistarem a outras siglas. É preciso tratar a eleição pública em todos os níveis como coisa sagrada e protegê-la de todas as formas, a começar por banir quem tratar esse alicerce da democracia como latrina.

Unknown disse...

O problema está em quem oferece o cargo no executivo. Será que não há outros nomes capazes de assumir tal departamento? Dentro do universo de funcionários públicos municipais?