sábado, 17 de janeiro de 2009

Safras mirradas

No ano passado, não houve eleição para prefeito em Mogi Mirim. Houve quase uma aclamação por exclusão. Tanto é que Carlos Nelson sequer precisou fazer campanha e não gastou R$ 200 mil para garantir mais quatro anos de mandato. Seus oponentes foram de uma incompetência brutal, poucas vezes vista na história política da cidade.

Não que, por obrigação, a oposição devesse ganhar a eleição. Mas, dela, o mínimo a ser esperado era de que oferece enfrentamento para permitir um mínimo confronto de idéias. Foi “sem graça”, segundo a definição de meu amigo Valdemar Sibinelli, reputadíssimo editor da EPTV desde os tempos em que me toleraram por lá. De tal forma que o princípio elementar da democracia aqui não foi exercido.

Mesmo sendo muito cedo, fico a imaginar que igual cenário é capaz de repetir daqui a quatro anos. O horizonte é muito pouco animador, se for examinada a presente disponibilidade de voluntários. Mas, não se poderia esperar mesmo que, da transposição da lua para o sol, algo de excepcional pudesse acontecer e lideranças emergentes se fizessem descortinar por trás do mar.

Ao contrário da preocupação de que as eleições sejam sangrentas, disputadas a tapa para, ao contrário do que diz Valdemar, “ter graça”, o porto onde pretendo ancorar minha enfraquecida nau de idéias é bem outro. Penso que a cidade não pode ficar presa à dependência de um messias ou de um esperto que saiba explorar a oportunidade oferecida pelas circunstâncias.

Penso, ao contrário, que as forças sociais, e em especial os partidos políticos, precisam retomar o seu senso de responsabilidade e ter pela cidade um mínimo de estima e respeito. Não é o que vem acontecendo e já faz algum tempo.

Muita gente raciocina no sentido de que a cidade que se lixe e que os políticos tomem conta dele do jeito que bem entenderem. É tiro no pé, mas tem gente, muita gente, que pensa assim, o que não é a primeira vez que afirmo com pesar.

O tempo está aí a oferecer um largo caminho. Se deixar por conta do prefeito e dos vereadores, daqui a quatro anos o prefeito indica o candidato que ele quiser e os vereadores vão tentar se garantir no poleiro. E tudo vai “continuar como dantes no quartel de Abrantes”.

Não que isso seja um mal em si. Mas, será um conformismo com fortes pinceladas de omissão, pecado que a ninguém é dado o direito de cometer. Não será possível restabelecer o gosto por Mogi Mirim? Não será possível retomar o exercício da fermentação de idéias, do “achar” que deve ser desse jeito e não daquele?

Mogi Mirim não é mais aquela cidade que a linha do trem cortava pelo meio e que um simulacro de um guarda de trânsito silhuetado em zinco convocava os consumidores a comprarem na Pernambucanas. Desde então, gerações se sucederam.

Mas, fico com a aborrecida impressão de que as novas safras, sobretudo nas colheitas mais recentes, produzem frutos mirrados, especialmente pelo conteúdo alojado no interior do órgão que se sustenta sobre o pescoço. Será? Talvez seja deformação consequente da inevitável senilidade de que não conseguimos escapar.

Um comentário:

Unknown disse...

Sr. Valter,

Belo comentário sobre o presente de nossa história. A mim, não resta lamentar, mas sim, trabalhar em prol de mudanças para que o verdadeiro sangue Bandeirante verta paralelo a dias melhores.