sábado, 10 de janeiro de 2009

Força estranha

Uma força estranha, muito estranha mesmo, deve ter convencido Rogério Esperança a abrir mão da presidência da Câmara para se contentar com um fraquinho prêmio de consolação: a liderança do governo.

Quando digo que Rogério abriu mão da presidência não estou exagerando nem chutando. Ele tinha previamente nove votos seguros. Durante a nervosa reunião de quarta-feira, no Gabinete do Prefeito, a votação interna terminou em 8 a 5. Ali, Osvaldo tinha mais. Rogério tinha o dele, de João Luiz e Robertinho – presentes à reunião – e de mais dois governistas.

Com o voto de Maria Helena, que não foi ao encontro convocado em regime de urgência, fechava seis votos. Comprometido que estava com a oposição, faria nove com Dito da Farmácia, Magalhães da Potencial e Márcia Róttoli.

A reunião, ornamentada sonoramente por gritos, berros, discussões e ameaças, terminou indefinida. Ou melhor, terminou em impasse para o grupo de apoio ao prefeito Carlos Nelson. Até ali, Rogério insistiu na manutenção de sua candidatura.

São fatos. Mais tarde, no correr das horas, no final do dia e em petit comité, tudo mudou. Esperança abriu mão. O mesmo que fez José Fernandes Filho, que deveria ser o vice-presidente da mesa. O que aconteceu nesse intervalo e, mais precisamente, no derradeiro encontro, ainda não foi possível resgatar. Virá à tona, é certo. Mais dia, menos dia, haverá um inconfidente. Sempre há, desde Joaquim Silvério dos Reis.

Não sei, mas acho que esse abrupto, inesperado e surpreendente recuo de Rogério não foi movido apenas por “luzes divinas”. Deixo claro: acredito nelas; elas são poderosas, tanto quanto são misteriosas. Mas, misteriosas por misteriosas, fico a imaginar que outras forças devem ter oferecido contribuição à grave decisão do vereador pedetista.

Aliás, recordo-me que, anos antes, Rogério praticou ato semelhante no curso da aquecida discussão acerca do Centro de Ressocialização. Estava de um lado e mudou de idéia aos 44 minutos do segundo tempo.

Quem viveu, viu. Talvez isso explique ser uma nuance da personalidade do vereador. Os próximos tempos confirmarão ou não. Há quatro anos pela frente, se é que Rogério não será recrutado de novo para o grupo de auxiliares de Carlos Nelson. Até acho difícil, não impossível.

Para que fique claro, a mim pouco importava quem viesse a presidir a Câmara. Fosse de que lado fosse. Aplaudo inclusive a escolha de Osvaldinho, que vejo como alguém sério, responsável, e equilibrado. Desejo sucesso a ele. O que estou a discutir é o cenário e as circunstâncias que cercaram o episódio da eleição, notoriamente decidida fora do âmbito apropriado.

Caetano escreveu que uma “força estranha” o levava a cantar, numa letra primorosa interpretada magistralmente por ele mesmo e por Roberto Carlos. Como acredito nos poetas, acredito na existência de forças estranhas. Mas, incorrigivelmente materialista, ainda creio mais nas forças palpáveis, que podem ser tocadas pelas mãos, ainda que igualmente estranhas.

Um comentário:

Anônimo disse...

No que sobram forças estranhas ou, como diria Jânio Quadros a apontar culpados por sua renúncia à Presidência da República, ocultas atuando nos bastidores da política, escasseiam ideologia e ética. Aqui em Mogi Guaçu, por exemplo, mal concluíram a contagem de votos que deu a vitória ao prefeito Paulo Eduardo de Barros e lá estava o PSDB a assumir a Secretaria de Promoção Social através de Cássio Luciano, genro do pastor Jessé. O mesmo PSDB que lançou o advogado Cal Martini candidato a vice-prefeito na chapa encabeçada pelo ex-prefeito Walter Caveanha (PTB). A confirmar, as tais forças tendem a influenciar também na escolha de quem ocupará a Ouvidoria a ser criada pelo Dr. Paulinho.