domingo, 24 de julho de 2011

Dinheiro pelo ladrão

1 – O futebol foi a porta por onde entrei nisso aqui, nessa coisa de escrever, escrever, escrever. Foi por desatino de Franco Ortiz, o Lalo, que meus contemporâneos têm na memória. Então, de vez em quando tenho umas recaídas e me meto a rabiscar sobre o tema. O que decidi fazer hoje e abordando fatos que estão muito longe da nossa órbita, mas que estão muito próximos do nosso bolso. Do meu não, porque já está roto de há muito. O fato é que vem me causando espanto os números sobre os quais escuto falar, sempre que o assunto é a Copa de 2014. Esta semana, por exemplo, ouvi o governador Alckmin falar em 50 ou 60 milhões que o Estado vai torrar para instalar e desinstalar uma arquibancada no estádio do Corinthians, que eu espero em Deus, mesmo sendo são-paulino, que de fato se erga. O que achei curioso foi o caráter banal dos milhões. Soou como se fosse eu tomando um café no balcão da Lanchonete do Tchê, do simpático José Casaril, na esquina do Jardim Velho. Coisas reles.

2 – Ora, ou me desatualizei acerca do valor do dinheiro ou estamos vivendo mesmo em um mundo louco. Estou esfregrando as mãos porque vou receber metade do 13º da minha aposentadoria em agosto, julgando-a uma pequena fortuna, e os big boss falam em minhões e bilhões com uma naturalidade de causar desconfiança. Caramba, mas eu prometi que iria falar de futebol e estou escrevendo sobre dinheiro, vertendo minhas frustrações por desfrutar de tão pouco do sórdido, mas indispensável. A bola está escondida, mas em nome dela estão sendo feitas “tenebrosas transações” – expressão que, me perdoem, sempre que posso a enfio em algum lugar. E aqui ela cabe com absoluta precisão.

3 – Tento não ser retrógrado no sentido de pensar que devamos continuar sendo um país mau humorado, sofredor, para baixo, recusando portanto a idéia de recebermos uma Copa do Mundo. Ela e os Jogos Olímpicos já penso ser certo exagero. Mas, como costuma dizer meu predileto concunhado Alberto Santos Guarnieri, o Neê: “que vá”. (saúde meu caro, estou em falta, sei). Mas, está me espantando o quanto os números crescem numa progressão inimaginável. Sem medo de ser inconseqüente: aí tem. Sim, aí tem ladroagem. E digo mais: a Copa de 2014 vai se transformar, sem risco algum de engano, no episódio mais exemplar de roubalheira que o Brasil já viu. Com o perdão do péssimo trocadilho, vai sair dinheiro pelo ladrão. E o que não vai faltar, aliás, é ladrão.

4 – Sequer sei se alcançarei a Copa, como de resto não há um só ser sobre o Planeta que possa ter essa segurança. Estando presente ou não pouco importa, porque sem convencimento ou arrogância, já ultrapassei essas fases ufanismos do tipo “ame-o ou deixe-o”. Tanto faz. Cumpro um papel que por sinal ninguém me delegou. Lá quando Lalo cometeu o desvario, eu falava de futebol, bola, árbitro, gol, escanteio e outras iguarias. Hoje, me pego surpreendido por, ao falar de futebol, falar de ladrões. Que me perdoem os árbitros que ofendi ao longo destes pesados 40 e tantos anos. Santos, imaculados!

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