terça-feira, 19 de abril de 2011

Questões de lógica

1 – Devo estar realmente com sério comprometimento em meus neurônios. Não consegui entender a conduta da Câmara e, em especial, dos vereadores oposicionistas, nos episódios mais recentes. Senão vejamos. No caso já em fase adiantada de apuração, inclusive com Ação Civil Pública protocolada, tentou-se constituir uma Comissão de Inquérito, Investigação ou sei lá o que, para ‘acompanhar’ o caso. Deu em nada porque o rolo compressor do governo derrubou. E não sem um bom argumento: se há procedimento judicial apurando o tal caso do cartel, em que figura como acusado, entre outros, o prefeito Carlos Nelson Bueno (PSDB), o que faria a Câmara no caso. Questão de lógica, conforme a abordou o tucano Osvaldo Quaglio.

2 – Vai que, na mesma noite da rejeição da Comissão de Inquérito, um ex-auxiliar do governo municipal sobe as escadarias e, do mesmo lugar onde os vereadores discursam todas as segundas-feiras, proclamou: houve roubo no DSM. Não disse com estas palavras, uma vez que falou em desvio de sacos de cimento. Ora, desvio é eufemismo. O que disse Maurício Gusmão é que roubaram cimento da Prefeitura. É verdade que o acusador ficou nas generalidades, mas a grave acusação ecoou nos tímpanos de todos os ilustres representantes do povo com assento no Legislativo. Questão de lógica: se no primeiro caso (do cartel) a comissão era inútil ou desnecessária, no segundo, relativo ao cimento, a comissão seria indispensável, natural, óbvia, indispensável, inadiável. Qualquer outra coisa corresponde a omissão.

3 – Para meu espanto, não foi o que aconteceu. Não sei se amaciaram, se não levaram fé no acusador, se prevaleceu algum espírito de corporação, uma vez que o caso atinge um vereador, uma vez que o diretor do DSM é Fábio Mota, que por sinal na atual legislatura não exerceu o mandato por um dia. O fato é que, como eu disse pessoalmente a João Luis Teixeira, porque ele quis saber minha opinião, a denúncia trombeteada no plenário é o que equivale a um caso virgem – ninguém tocou nele, não há procedimento judicial, não há investigação alguma e se trata, como disse o ex-assessor Maurício Gusmão, de uma ocorrência de roubo. Estranhíssimo, pois, o silêncio dos vereadores. Este, o do cimento, era o caso em que legitimamente teriam o direito e o dever de apurar. Para condenar ou para absolver, como disse um deles por ocasião da votação da comissão que se pretendia para ‘acompanhar’ a Ação Civil Pública que trata da formação de cartel em licitações no âmbito da Prefeitura.

4 – Tendo a desconfiar o seguinte: no caso do cartel, na verdade não seria necessário apurar coisa nenhuma, porque o prato está pronto, após preparado e servido ao longo de cinco anos de investigação pela promotora Cristiane Correa de Souza Hillal. A comissão praticamente não assumiria responsabilidade nenhuma na hipótese de que o caso venha a naufragar. Agora, no tocante ao cimento, é diferente: seria necessário apurar tudo, letra por letra, vírgula por vírgula, ponto por ponto. E se a montanha viesse a parir um rato? Não preciso responder, não é. Afinal, são questões de lógica. Simplesmente.

2 comentários:

Elvis Prado disse...

Boa noite Valter,
Concordo com o que disse.
Naturalmente para as figuras políticas que temos em Mogi, sem generalizar, é muito mais confortável e frutífero usufruir da apuração de fatos em relação a esta situação em que Carlos Nelson será submetido pela Justiça do que se preocupar com esse "jeitinho brasileiro" dentro de departamentos da cidade.
É triste...muito...

Abraço

Fábio Mendonça disse...

Olá Valter,
em minhas modestas reflexões o que acontece é que o dever há muito tem sido deixado de lado, o que guia as ações da Câmara são particularidades dos indivíduos que juntos fazem o poder legislativo. Isso faz com que o nobre e poderoso agente fiscalizador e até direcionador de ações públicas que deveria eclodir da Câmara perca o seu sentido em bobeiras, ódios, diferenças e ridicularidades. Azar do povo que sofre sem justiça. Lógico que sem generalizar os políticos, pois há muitas exceções, mas que mesmo sendo muitas continuam sendo minoria.