sábado, 23 de abril de 2011

As cruzes de cada um

1 – A Igreja Católica celebra, nestes dias, o sofrimento, o calvário, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. Há grande adesão da comunidade às celebrações, que se abriram na quinta-feira e vão terminar amanhã, com as comemorações da Páscoa. São momentos apropriados para a reflexão e a meditação, no mais amplo dos sentidos. Seja no religioso em si, seja no pessoal, no profissional, social e político. Quanto cada um aplica em seu dia a dia os ensinamentos fornecidos pelo calendário cristão? Quanto se doam, se respeitam, se amam e se entregam ao semelhante? Acho que é uma continha fácil de fazer. Alguns talvez não possam ou não queiram fazê-la por saber, antecipadamente, o resultado final. Tudo bem. Começa a partir de agora para poder realizar a operação no ano que vem.

2 – Por falar em ano que vem, é quando não faltarão voluntários para todas as causas, generosos com todos os irmãos, corações bondosos com todos que sofrem e se afligem diante das dificuldades. Será, enfim, o ano em que todos serão bons, honestos, trabalhadores, sinceros e bem intencionados. Depois... Bom, depois é outra conversa. Alguns que ficam pelo caminho se tornam maledicentes e rogam pragas sobre quantos lhes apareçam pela frente. Vitoriosos vão curtir o sucesso e, de tal forma se inebriam com suas virtudes e suas magnas qualidades muito acima dos comuns, que esquecem das intenções manifestadas e dos compromissos assumidos.

3 – Não faltarão aqueles para os quais uma mínima cruz representará fardo insuportável e, inconformados com o que considerarão má sorte e com a impertinência dos cidadãos, se darão por vítimas de incompreensões cruéis, mártires dos novos tempos, cristos maltratados às chibatadas em íngremes caminhadas. Se farão de coitados. Afinal, buscaram o poder pelo conforto, o sossego e a unanimidade. Ora, se fosse para sofrer contestação, ouvir queixas, enfrentar oponentes e ainda ter que trabalhar, era preferível ficar em casa ou recolher-se a algum lugar onde o conforto fosse assegurado.

4 – Por mais que aqui esteja contida certa ponta de exagero ou até mesmo de injustiça, uma vez que há sempre as exceções, não será muito diferente disso que muitos farão após o gozo da felicidade nas urnas, no ano que vem. A política está demasiadamente profissionalizada para ser diferente. Concordo que, realmente, sofrer não é prazeroso. Mas, para o exercício de certos encargos o sofrimento é inevitável e até mesmo inerente. Ao dar à luz, a mulher sabe como é doloroso. Jesus ofereceu seu sacrifício em nome de alguma coisa, de alguém. Sofreu e morreu por uma causa. Os mártires modernos são diferentes. A causa são as grandes coisas que possam fazê-los prósperos e felizes, de preferência por muito tempo, sem a exigência ou a obrigatoriedade de sofrimento algum. Sofrer? ‘Tô’ fora.

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