quarta-feira, 11 de março de 2009

Aconteceu bem mais cedo

Pouco tempo após passadas as eleições e definida, portanto, a composição da Câmara, me lancei ao atrevimento da premonição. Diante do quadro de massacrante maioria governista então construída, formando placar de 14 a 3 (e não de 17 a 3, como escrevi por engano), pus em dúvida a perenidade dessa predominância, embora sem cometer o desatino de prever uma inversão nessa relação de forças.

Minha expectativa então era a de que a configuração monolítica do grupo situacionista não resistiria a seis meses. Não era uma suspeita gratuita, sem alguma fundamentação. Listava como fatores a exacerbação dos egos, os interesses contrariados ou não atendidos, entre outros. E quando fiz tais considerações em absoluto inovei ou produzi alguma sabedoria nova.

Tenho plena noção de que não descobri a quadratura do círculo. Apenas trabalhei com as idéias que vou recolhendo ao longo tempo, na convivência com pessoas, seres humanos. E os seres humanos se caracterizam por serem assim, imperfeitos, sinuosos, volúveis, movidos que são por vontades, desejos, humores, ódios, prazeres e instintos.

Pois bem. Fechados apenas dois meses desde a posse dos eleitos em outubro, eis que as fissuras já se manifestam de maneira explícita e, em alguns casos, agudas. No inevitável – ou seria no irrelevante? – todos votam. Na solidariedade, já não é a mesma coisa do pós-eleição e dos primeiros dias da Legislatura.

Ungido líder na estréia, Rogério Esperança já apeou da carruagem. Quanto isso leva, de fato, o PDT, ainda é incógnita. Mas, é uma dissensão de peso, resgatando-se da história recente o fato de que ocupou cargos de primeiro escalão no primeiro governo de Carlos Nelson.

Ora, e por que Esperança se desiludiu? Por interesses contrariados, os quais o levam a se sentir desprestigiado diante de sucessivas expectativas abortadas. Na verdade, não está presente, no caso, uma divergência de fundo quanto à administração e seus rumos, mas uma rusga política. Seja como for, se não é (ainda?) oposição, Rogério deixou de ser governo.

Também bem mais cedo do que eu supunha, Maria Helena se tornou uma voz claramente oposicionista, com a agravante de que é alistada no mesmo partido político do prefeito, o PSDB. Alto lá. Preciso ser justo. O prefeito é que se alistou na sigla em que a vereadora se abriga desde seu ingresso na vida política. Embora mais pontual e, nestes primeiros meses, centrando seu foco nas questões da saúde, já divide a tribuna com Márcia Róttoli e Orivaldo Magalhães no combate ao governo.

Numericamente, ainda é insignificante o desembarque verificado na nau governista. A questão é saber a dimensão do poder de contaminação dessas migrações. Algum efeito elas produzirão, sem qualquer dúvida.

Fica a expectativa quanto ao tamanho e ao tempo. E o tempo será tanto mais breve quanto forem crescendo os inconformismos dos desatendidos. É impossível, sem entregar a alma, acolher e dar provimento a todas as demandas que vão bater na porta do Gabinete do Prefeito. Ainda mais quando o cobertor começa a ficar curto para cobrir, simultaneamente, a cabeça e os pés. A crise está nas fronteiras e não parece haver barreira capaz de evitar que invada o arraial. Em tal circunstância, o ‘sim’ torna-se cada vez mais raridade. E o ‘não’ costuma produzir seqüelas. Aguardem-se então os próximos capítulos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Uma pergunta e um palpite: 1) Não seria placar de 14 a 3? 2) Carlos Nelson está pouco ligando se perder apoio de vereadores e vir a ter uma Câmara Municipal majoritariamente oposicionista ao seu governo, pois não poderá se candidatar à reeleição de novo e duvido que queira fazer sucessor. Eu sinceramente acredito que no terceiro ano deste segundo mandato como prefeito de Mogi Mirim, ele renuncie e transfira domicílio eleitoral para Mogi Guaçu, onde será candidato a prefeito em 2012.

VALTER ABRUCEZ disse...

Quanto aos números, você tem razão, Fernando. Grato pela observação. Está corrigido.