terça-feira, 28 de junho de 2011

O valor do humano

1 – Greve não é coisa que faça feliz quem a organiza e muito menos seus pacientes, as pessoas que ficam privadas dos serviços. Mas, é instrumento e é recurso inevitável, às vezes, para arrancar decisões que não saem por outra forma. É muito desagradável quando educadoras precisam se lançar a empreitada dessa natureza, ainda mais na defesa do que é direito líquido e certo. Caso presente. O piso nacional foi convalidado constitucionalmente pelo Supremo Tribunal Federal. Caramba, se professor precisa parar, o que não precisarão fazer categorias menos valorizadas e de qualificação menos privilegiada?

2 – As coisas são mesmo curiosas. Nas campanhas eleitorais, candidatos se oferecem com extrema generosidade para conversar com todo mundo, todas as categorias, todos os mais diferentes profissionais. Depois, bem depois falta tempo, não há agenda e, no lugar dos titulares, são escalados porta-vozes nem sempre possuidores das prerrogativas necessárias para decidir. Aliás, diga-se que os deuses, desde que entronizados, tornam-se inalcançáveis a todos os mortais, excluída uma ínfima e privilegiada minoria. Daí ser curioso, pelo menos para a minha compreensão, que os servidores tenham que ir à Câmara para conversar de um assunto cuja solução está no Gabinete do Prefeito. Se isso não explica nada, o que mais explicará então, não é mesmo?

3 – As lamentações oficiais poderiam não ter sido necessárias, com certeza, houvesse uma boa conversa, boa e franca com as interessadas, que não estão fazendo outra coisa senão defender seus direitos. O direito elementar, por exemplo, de reivindicar. Todavia, o ritual é sempre o mesmo: em primeiro lugar, endurecer, negar, dizer não. Se colar, colou. Se não colar...

4 – Meus conhecimentos além-fronteira são absolutamente zero. Mesmo assim, suspeito que em poucos países ocorra, como aqui, de educadores, aqueles que cumprem tarefa essencial para a evolução do ser humano, precisarem recorrer à força extrema da paralisação para defender um direito ou brigar por uma necessidade essencial como é a de ser remunerado justamente para o regular exercício de seu mister. Isso é coisa de envergonhar quem possua um mínimo de verniz. Ao contrário, todavia, se prefere empurrar uma multidão de puxa-sacos para dentro do governo, a sorver recursos financeiros primorosos em troca de praticamente nenhuma produtividade e nenhuma utilidade.

5 – Bom, cada governo passa para a história do jeito que quer ou pelas consequências a que dá causas. Às vezes, laboram na execução de obras portentosas, importantes inclusive, essenciais sob o ponto de vista infra-estrutural. Mas, glorificam o concreto a tal ponto que maculam sua folha corrida por ignorar o valor do humano. Dizia Zélia Cardoso de Mello: o povo é apenas um detalhe. Faz moda até hoje.

Mudar para ficar como está

Quatro partidos políticos locais estão passando por processos de reorganização interna, determinados por diferentes fatores. Desde logo, entretanto, não é prudente esperar que dessas ebulições intestinais resultarão algo que não seja o mesmo do que se tem conhecimento até hoje. Isto é, as tendências são as de que continuem sendo feudos a serviço de grupos.

Seria, acaso, demasiadamente precipitado fazer tal afirmação quando nem tudo está ainda devidamente claro e, para usar uma expressão nada inovadora, há ainda caudalosos rios a passarem por baixo de muitas pontes? Poderia ser não fossem as evidências e as circunstâncias que dão origem aos fatos presentes.

Os processos não são presididos pelo interesse de oxigenar as siglas, enriquecê-las, democratizá-las, ampliar sua abrangência no sentido de abrigar mais representações da sociedade, de preferência também mais diversificadas. O lançamento de um olhar que não seja o da ingenuidade não deixa dúvida quanto ao esforço de mudar para deixar precisamente do jeito que está, apenas direcionando os ventos na direção da bituca que convém.

É assim com o PMDB, com o PDT e com o PTB. Estão ora salvando dedos para não ficar sem eles e os anéis. Em um caso aqui, um caso ali, não estão fazendo nada além de garantir a permanência do status quo, de modo a que na hora das decisões todos possam estar contemplados nos seus interesses.

É curioso – para não dizer que é uma tragédia – o fato de em qualquer instante se ouvir, sequer por distante, ouvir que as escaramuças tenham por foco os interesses do município. Não há notícia de uma nova ideia, de um rabisco parco e miserável que tenha por alvo central o futuro da cidade. Rigorosamente, em todos os casos seguramente sem qualquer exceção, está em jogo a defesa da própria pele, a conservação dos privilégios.

O PSDB dispensa exame mais aprofundado para constatar-se seu viés, sob as garras que está do governo municipal, a poder do peso dos contracheques. O que lhe nutria de autenticidade sucumbiu. É uma repartição burocrática e nada mais. O PMDB sofre chacoalhão da direção estadual pós-morte de seu então dominador, o ex-governador Orestes Quércia. Mais do que isso, não acena com nada que possa causar algum entusiasmo.

Os trabalhistas – trabalhistas? – PTB e PDT não experimentam momento mais animador. O primeiro se esforça para continuar sendo o mesmo, sempre confesso à filosofia do ‘se há governo, sou a favor’. É em Brasília, em São Paulo e aqui. Por último, o PDT jamais conseguiu expressar uma personalidade própria, uma face que se pudesse dizer que era morena, clara, amarela ou mestiça.

Sua revolução interna a que fim pretende alcançar? Unicamente a assegurar legenda à candidatura de seu atual presidente provisório, Gustavo Stupp. Mais do que a isso não se esclarece, não se revela. Eis, pois, o panorama que se descortina. Eis porque é inevitável concluir que, se for depender de partidos políticos revitalizados e de fato autênticos, Mogi Mirim estará, em 2012, atrasada algumas décadas.

sábado, 25 de junho de 2011

As boas pioram

1 – Cada um faz de sua vida o que bem entende e trata sua biografia da maneira que acha apropriada ou conforme as circunstâncias permitem. Cada um sabe a que riscos e a quais consequências estará sujeito, uma vez que a história é implacável. Isso é mesmo. Às vezes, uma decisão forçada por certas contingências atropela uma carreira e interrompe uma trajetória projetada com perspectivas de produtividade, de utilidade social e comunitária. Aí, é arbítrio pessoal, juízo individual de cada um. Mesmo que o campo de operação seja a política, onde as injunções costumam falar alto, muito alto.

2 – Política de fato não é, como já observei aqui algumas vezes, atividade para amador. Costuma também não ser território para ‘Madres Terezas’. O jogo é bruto. Doçura e afagos só da boca para fora. Lá dentro, usando uma expressão desgastadíssima, é briga de foice no elevador escuro. Aí, imagino, começam a se anteporem os limites para quem não precisa da política como oxigênio para a sobrevivência. Há uma fronteira que não pode ser ultrapassada em nome do respeito à biografia. Ultrapassado esse limite, é jogo de vale tudo e só joga nesse nível quem cultiva ambições políticas desmedidas, as quais toldam a visão e embotam o raciocínio objetivo.

3 – Tenho fortes desconfianças que estamos diante de algumas situações com esse design – para ser moderninho. O figurino veste algumas personagens de presença retumbante no cenário de Mogi Mirim. Tão mais retumbante ainda quando as mobilizações que empreendem produzem ruídos ao nível de algazarra, por estarem em jogo interesses políticos notoriamente claros. Essa é a hora perigosa, porque em nome da perspectiva de acolhimento do interesse, as concessões que fazem podem levar histórias à implosão e independências ao poço de ossos dos cemitérios.

4 – Às vezes, sinceramente, me divirto. Afinal, não faltam atos de teatro hilário e, bem assim, discursos de conteúdo tão pueril que é difícil supor que seus autores acreditem produzir algum crédito. Às vezes, sinceramente, deploro. Sobretudo por alguns dos personagens que vejo mergulhados nesse oceano de egos, aos quais tributo respeito pelo histórico que os vi construir. Às vezes, eu me encanto com algumas pessoas e sou tentado a apostar nelas as minhas parcas reservas de esperança, como se fossem aquelas moedinhas que nossos avós guardavam nos cofrinhos em formato de porquinhos. Da altura da minha importância, que mal se equipara aos limites dos rodapés, digo que sofro profundas decepções.

5 – Minha tese, por último, é a de que as pessoas más não se tornam boas, salvo em excepcionalíssimas exceções. Continuam más, interesseiras, falsas, enganadoras e merecedoras de toda adjetivação com que se possa qualificá-las. Não desiludem porque, de origem, nunca merecem crédito. O terrível é constatar que, entre as boas, muitas se convertem ao pior quando as ambições sobem à cabeça e as atiram na vala comum dos apaixonados pelo poder.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

"Fúria industrializandi"

1 – De repente, não é que a atração de empreendimentos industriais para a cidade entrou na pauta do governo municipal? Pipocam aí os anúncios. Sendo verdadeiros, procedentes e reais – e não meros acenos semelhantes aos que já vimos tantas vezes – serão ótimos para o município. Será dinheiro circulando pelas veias da cidade e oportunidades de trabalho se abrindo para mão de obra ávida por oportunidade. Mas, obviamente que não será amanhã e tenho dúvidas mesmo de que sejam para o ano que vem, ao menos antes das eleições. E, naturalmente, é do maior interesse que tais promessas se materializem o mais rapidamente possível, para serem transformadas em dividendos político-eleitorais.

2 – Projetos de alta envergadura, que envolvem pesadas massas de recursos, não costumam se erguer assim num piscar de olhos. A observação me parece necessária e prudente para que incautos não se deixem iludir pela hipótese de que, depois de amanhã, estará um recrutador dessas novas empresas batendo à sua porta para começar trabalhar no dia seguinte. Como é necessário não esquecer que os processos produtivos se modernizaram muito e, infelizmente, cada vez apropriam menos mão de obra. É dado da realidade tecnológica que vivemos. E um detalhe a mais: a qualificação é requisito essencial. É difícil, hoje, passar pela porta de qualquer fábrica sem estar dotado das habilidades e atributos exigidos para operar equipamentos modernos.

3 – Com certeza, não faltará quem diga que aqui estou a desfilar más vontades para com a política industrial da administração municipal, parida ao cabo de uma gravidez de mais de seis anos. Não. Apenas faço observações de modo a prevenir quanto a possíveis desilusões. Já vi a Chrysler instalada aqui, o megaempreendimento, as duas termelétricas, dois hotéis e tantos outros monumentais empreendimentos que não geraram um emprego sequer e não colocaram um mísero centavo de investimento na cidade. Dou-me o direito de cultivar dúvidas, ainda mais quanto certas coisas não escondem o seu caráter casuístico.

4 – Por último, nestes tempos de ‘fúria industrializandi’, é muito oportuno refrescar algumas memórias. Jamais tive a menor simpatia pelas condutas de Paulo Silva como prefeito. Mas, não é justo nem honesto negar-lhe o mérito da instalação das empresas que ocupam o distrito industrial que ele mesmo implantou à margem da Rodovia SP-340. Pôs dinheiro da Prefeitura lá para as empresas se instalarem. E tinha que por mesmo, porque era a regra – e essa regra ainda não está de todo esgotada. Pois bem. O resultado dos investimentos feitos, eternamente condenados pelos atuais gestores da Prefeitura, é que eles governam com burras generosamente supridas pelo ICMS gerado a partir das empresas que Paulo Silva plantou lá. Isso é fato incontestável. Enfim, um recadinho: pode-se não gostar de alguém, mas não se lhe neguem os méritos que tem.

sábado, 18 de junho de 2011

Despudor instituído

1 – Os tempos são tenebrosos. A compostura e a vergonha estão em baixa. A sensação é de “tudo pode”. Mente-se descaradamente. Discursos proferidos com rostos sóbrios não conseguem esconder a falsidade e o cinismo. O que me parece é o seguinte: a categoria tem certeza de que o povo não presta atenção nessas coisas. Ou, em outra hipótese, que o povo é bobo em tal nível que aceita tudo que se enfia pelos ouvidos.

2 – Não falo abstratamente não. A estrutura político-partidária em que se sustenta o governo local foi erigida dessa maneira. Prevaleceu a cooptação compensada com holerites. Tanto é que a administração é uma colcha de retalhos. Ou, melhor metaforizando, um tecido cheio de remendos em que a costura que deveria uni-los é incapaz de esconder as incompatibilidades e rejeições. É tanto assim que a principal ofensa sofrida pela administração saiu pela boca de um ex-aliado, recrutado se sabe como e da mesma forma que tantos outros.

3 – A oferta de posições a Maria Helena e João Manoel Scudeler de Barros, no curso de um episódio nebuloso, foi monumental demonstração de cinismo e de boas intenções notoriamente falsas. Quem quis crer no discurso bem embalado como o antigo Dulcora, creu. Era o script adequado para a hora. O rasgo de arrependimento que veio embutido na prosopopéia faria transbordar o Amazonas de lágrimas de crocodilo. O importante, em resumo, era fazer de conta. Passar imagem de bom-mocismo. Vó Gidica, nestas horas, diria do alto de sua sabedoria martimfrancisquense: “só quem não te conhece é que te compra”. Se estiver olhando aí de cima, saiba estimada avó: assino em baixo.

4 – Para ser justo, é preciso dizer que a prática da política da dissimulação não é privilégio de um personagem único. Está disseminada pelo nosso cotidiano.Por exemplo: é de absoluta falsidade a convivência de Márcia Róttoli com o PT. Coisa de conveniência. Do mesmo modo é inteiramente mentirosa a relação de Gustavo Stupp com Rogério Esperança, ambos protegidos pelo telhado do PDT. É de absoluta ocasião a conduta de quem, agora, solertemente se aproxima de Paulo Silva, no mínimo na expectativa de infligir derrota ao seu ex-líder, como é o caso do outrora menino de ouro Maurício Gusmão.

5 – De uma coisa fiquem certos os leitores e, especialmente, os eleitores. Não acaba por aqui. Vai longe. Vai até outubro do ano que vem. As monstruosidades vão fazer avermelhar a face do mais desavergonhado que alguém possa ser. Daqui para frente começam a ser costuradas as articulações. Políticos minimamente informados sabem que nada se ganha sozinho. Será necessário convencer, recrutar, arregimentar e cooptar. Aí entra o vale tudo, que do lado oficial vai ser pesado. Então, é possível prever os limites aos quais vai avançar o despudor já instituído.

domingo, 12 de junho de 2011

O ensinamento de Rogê

1 – Campanhas eleitorais sempre deixam memórias, lembranças, às vezes curiosas, outras deploráveis. Um desses momentos inesquecíveis foi vivido durante campanha para o governo do Estado em ano que não me recordo, mas sei que era na sucessão de Paulo Maluf. Sei que veio a Mogi Mirim o candidato Rogê Ferreira. Era do PDT. Não reunia chances de vencer as eleições, mas marcava a posição do brizolismo em São Paulo, onde o líder trabalhista gaúcho Leonel Brizola nunca foi possuidor de eleitorado substancial. Em determinado momento da entrevista coletiva, Rogê sacou uma frase que ficou célebre: “se há uma razão pela qual eu quero ser governador é para acabar com a Paulipetro”.

2 – A Paulipetro foi uma estatal paulista criada por Maluf, a pretexto de prospectar petróleo, que jamais produziu coisa alguma. Mas, o fato é que Rogê delimitou bem a meta que cumpriria se entronizado no Palácio dos Bandeirantes. É um ensinamento da história, que quando lida atentamente sempre fornece bons sinais. Ter meta, objetivo definido, é o mínimo a esperar de quem pleiteia um mandato executivo. O que é válido para qualquer instância, inclusive municipal, inclusive aqui em Mogi Mirim. Como é possível empreender se não há um objetivo estabelecido, um ponto a ser alcançado no horizonte? Se não me engano foi Magalhães Teixeira, prefeito de Campinas, o autor da frase segundo a qual governar é eleger prioridades, uma vez que, dizia, é o mesmo que administrar escassez.

3 – Naturalmente que Rogê Ferreira fixou um horizonte simbólico e de notório caráter política, já que era praticamente consensual entre os paulistas que a Paulipetro era uma aventura irresponsável que, como acabou acontecendo, consumiria fortunas de recursos do Estado sem achar uma gota do óleo mais vagabundo. Pode ser que hoje – ou melhor, no ano que vem – seja o caso de alguém eleger igualmente um foco semelhante ao proposto por Rogê. Um alvo simbólico, por assim dizer. Não escolher nenhum será um imperdoável e perigoso erro.

4 – Não sei se Mogi Mirim teria hoje uma Paulipetro para ser desativada. Se me entendem, algo em profundo desacordo com o senso comum. Mas, quem quiser ser prefeito da cidade, não sendo do grupo político controlado por Carlos Nelson, terá que encontrar seu foco, seu alvo, sua meta, de tal modo a levar aos eleitores uma ideia concreta acerca do quanto pretende inverter os rumos do governo da cidade.

5 – Por enquanto, a discurseira que se ouve tem caráter extremamente difuso, fragmentado, espalhando tentáculos por todos os lados. Com alguma experiência, os tribunos devem saber que assim é difícil e que será necessário inocular uma ideia fixa na cabeça dos cidadãos. Carlos Nelson operou com a ideia fixa de que iria resolver os problemas da saúde. Ganhou a eleição...

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Estão prontos? Nenhum

1 – Computando todos que se adiantam explicitamente ou que se insinuam, talvez tenhamos uma dezena de postulantes à Prefeitura para 2012. Ou, melhor definindo, pretendentes à indicação partidária para disputar as eleições do próximo ano. É obvio que isso vai se reduzir substancialmente. De todo modo, me parece, faltando ainda mais de um ano para a data crucial, que de fato as alternativas serão variadas, ao menos sob o ponto de vista numérico. Necessariamente não é mal, considerando o pleno exercício da democracia, como também no que diz respeito aos eleitores não ficarem presos a uma eleição plebiscitária ou a um referendo de sim ou não. Mas, o positivo da questão termina aí.

2 – É uma coisa curiosa que os pretendentes de lancem à disputa prévia não em face das posições pelas quais difiram de oponentes quanto às ideias e concepções administrativas. Lançam-se simplesmente porque se acham no direito, porque supõem a existência de uma luz no fim do túnel a guiar seus caminhos, descortinando um hipotético horizonte risinho e porque a política se transformou mesmo num território banalizado. Neste, pouco importam os valores. Importam as vontades. E a profusão de pré-candidaturas é derivada exatamente do exercício da vontade, do voluntarismo. Cada um se acha no direito de querer. E as regras do jogo permitem, desde que preenchidos os mínimos requisitos da filiação partidária.

3 – Não me perguntem o que pensa essa plêiade (é uma palavra em desuso que me deu vontade de usar) de pretendentes. Sinceramente, não faço a menor ideia, sobretudo porque nenhum faz mesmo exercício algum para revelar. Amigos ponderarão que ainda é cedo para exigir algo dessa ordem, tendo em vista que só a partir de julho do ano próximo é que começará a refrega da campanha eleitoral. Respondo: não é cedo não. Porém, mais do que não ser cedo, acho que o fato de nada sabermos do que está contido nessas pretensas cabeças coroadas é um aviso, quase uma advertência. Quem não sabe agora não vai saber daqui a 12 meses e, em alguns casos, talvez nunca mesmo. Faz algum tempo que isso não é mais uma pré-condição para postular o mais alto posto governativo da cidade.

4 – Alguns cérebros são verdadeiras caixas pretas, agravadas por, ao contrário de conterem segredos reveladores, não conterem coisa alguma. São, portanto, caixas pretas e ocas, imensamente vazias de conceitos que possam definir o contorno da leitura que fazem acerca da cidade, das necessidades do seu povo, das expectativas sociais, das projeções que formulam para o amanhã imediato e para o remoto, o mais distante. Sendo benevolente, pode ser até que eu esteja sendo injusto ao fazer tal avaliação. Eles pensam, mas não consideram necessário exprimir o que lhes vai na cachola porque o povo pouco está mesmo se importando com isso. Talvez seja isso. Não é o mais provável. Parece mais consentâneo dizer que, neste momento, não há um só dos postulantes pronto para a tarefa à qual todos querem se lançar. Que Mogi Mirim seja abençoada.

sábado, 4 de junho de 2011

Exercício solitário

1 – Vamos imaginar que um arquiteto, em dia de mau humor, descarregasse seus sentimentos no projeto que determinado cliente lhe encomendou. Ou que o médico fizesse o mesmo com o paciente na iminência de ser submetido à cirurgia. Os resultados seriam desastrosos. Mas, os arquitetos e os médicos não agem assim, como não agem desse modo os jornalistas. Mas, curiosamente, algumas pessoas ficam a indagar sobre as causas que levaram determinado jornalista a certas opiniões, como se ele não fosse capaz de agir racionalmente, sem se deixar influenciar pela paixão ou o sentimento ocasional, seja ela qual for.

2 – Esta semana, falei com Luiz Netto ao telefone. Ficamos de programar uma conversa daquelas sem começo nem fim. Uma troca de ideias. Entretanto, o ex-prefeito, de quem por sinal fui chefe de Gabinete, me revelou ter ouvido de amigos comuns que estes se incomodam em querer achar razões fora do limite da racionalidade nas opiniões que emito em relação ao governo da cidade e, particularmente, o prefeito Carlos Nelson. Certa vez, ouvi de Suzete Rodrigues de Moraes a indagação: “o sr. está com raiva do prefeito?”. Quero crer que Suzete desfez a suspeita, que todavia ainda é cultivada por alguns.

3 – Me perdoem estender considerações sobre o tema. Mas, vejam uma particularidade interessante: determinados personagens são incapazes de, antes de olhar a assinatura de quem escreve, avaliar a procedência e o caráter razoável do que está escrito. Pensam com aquela obtusidade de que, vindo de quem veio, a crítica é desprezível porque o autor é particularmente interessado. É uma monumental bobagem, como de resto grande parte dos que nos cerca não passa disso mesmo. Justiça seja feita que isso também acontece no sentido contrário. Ou seja, há também os que acusam servilismo ao poder, por antecedentes que ficaram na história. Acabei de dizer, agora mesmo, que servi ao primeiro governo de Luiz Netto e, no entanto, por bons anos vivemos em contradição. Eu em relação a ele, ao que ele jamais deu a menor importância.

4 – Para não alongar mais ainda, vou aos finalmente. Cultivo convicções. Boas ou ruins, mas as cultivo. Uma delas é a de que em tudo há de haver o contraditório, o outro lado, o contraponto. Se não for assim, cairemos inevitavelmente na vala da opinião única, dominante. Insisto sempre que não tenho as melhores ideias. Cometo a presunção de possuir algumas e meu ofício impõe explicitá-las, mesmo que ante o risco de não serem consideradas e compreendidas e até mesmo desdenhadas. Também repito à exaustão não possuir a menor expectativa de impor conceitos. Não escrevo sentenças. Opino. Com a crença de que os conceitos sejam capazes de causar alguma reflexão. Considerando o monumental silêncio que retorna como resposta, é quase um exercício solitário. Me conforta, ao menos, não fazer o papel de avestruz.