terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um já está bom demais

1 – Ao contrário do que se supõe, o filtro para a escolha de candidatos a cargos eletivos está nos partidos políticos. Ao eleitor cabe, portanto, optar pelas alternativas oferecidas. Claro que pode passar um segundo pente fino. Todavia, não terá como fugir do cardápio proposto. Nas eleições de 2008, não foram poucos os exemplares folclóricos e exóticos ofertados na vitrine das candidaturas. Funcionou o filtro do eleitor e a Câmara se salvou. Não integralmente. Por isso mesmo que considero apropriado fazer essa exortação aos dirigentes partidários no sentido de que não brinquem com coisas tão sérias como são a política e a representação popular. Antes de pensar na capacidade aglutinadora de votos de certos personagens, pensem no que cada candidato será capaz de fazer se for alçado à condição de vereador.

2 – Decidi fazer tais reflexões depois do que ouvi segunda-feira. É de não se acreditar que no plenário do Legislativo ecoem proclamações semelhantes às daquela noite. O vereador Laércio Pires se superou. Ladrão e bandido compuseram as expressões mais ricas do seu vocabulário, como se estivesse na arquibancada de um estádio a dirigir impropérios a um árbitro de futebol. Testemunhei alguns momentos críticos, tensos na Câmara. Algo semelhante jamais ouvi. Se o comando da Casa tivesse alguma capacidade para perceber o grau de agressão aos bons costumes, no mínimo Pires já teria recebido alguns cartões amarelos. Mas, a chefia da casa está descerebrada. Pensar deve ser um exercício doloroso.

3 – Pois bem. E por que Laércio Pires extrapola às regras da boa conduta? E no caso de segunda-feira ante pessoas da maior respeitabilidade que ocupavam as galerias. Porque ele é produto do meio. O partido lhe deu vez, obviamente sem que tenha feito o menor exame acerca dos valores éticos que ele cultiva. A exortação que considero me caber fazer agora é a seguinte: que os partidos cuidem de não facilitar o acesso à Câmara de novos exemplares dessa qualidade. Um Pires já é suficiente para pôr a historia da Câmara de Mogi Mirim de cócoras, ao chamar adversários políticos de bandidos e ladrões. Insisto, todavia, que ele próprio só é culpado parcialmente. Pela mesma razão, isto é, pela incúria dos partidos, ele poderia estar dividindo lugar na ferradura do plenário com Itanatã – lembram-se?

4 – O fato é o seguinte: a atividade legislativa é coisa da mais alta responsabilidade. O vereador não fala apenas por si, mas pelos que representa. E preciso, portanto, respeitá-los. O direito à livre manifestação não é algo ilimitado. Ele assegura a plenitude da expressão de ideias, mas não dá direito a atacar desafetos a torto e a direito de maneira impune. Ofender é crime. Assim como ultrajar, caluniar, difamar, injuriar. A prática de tais atos não está entre as prerrogativas de eleito algum. Quem as adota revela nítido despreparo para a função. Espero que os partidos zelem por não escolher exemplares semelhantes para a próxima eleição. Um já está bom demais.

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