quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Coisas espantosas

1 – Espantosos os relatos sobre o que anda acontecendo nas escolas públicas de Mogi Mirim. Espantoso e inimaginável. Fiz o último ano do então primário no então Grupo Escolar “Coronel Venâncio”. Foi em 1957. Gente que mais tarde se tornou ilustre na cidade foi contemporânea, embora freqüentando outra classe. O uniforme era carijó. E ninguém ousava atravessar o portão vestido de outro modo. A disciplina era rigorosíssima e o respeito pela direção, pelos professores e pelos funcionários era total. Não se dava um pio. Contestar nem pensar. Pois não é que ontem eu testemunhei um rapaz – nem sei se aluno – juntando algo do chão para atirar em direção à escola. Temo, sinceramente, que esse menino, daqui a alguns anos, irá se arrepender de seu ato, do desrespeito para com o santuário onde deveria ir beber os ensinamentos necessários para se formar um cidadão. Sinceramente, temo dele não podermos esperar grande coisa, senão um futuro farrapo destes com os quais, desgraçadamente, nos deparamos nas esquinas e nas penumbras.

2 – Eu não saberei discernir as causas dos fenômenos atuais, que se tornam cada vez mais graves. Sem subir no muro, penso não haver uma responsabilidade individualizada. E desde logo penso o seguinte: não é um problema da escola. Ao menos, só da escola. Há muito, mas muito mesmo, de responsabilidade social, das famílias. Como há das autoridades, quando tratam a questão com a aparência de quem quer esconder o problema. Errarei com consciência, mas direi que está em causa a qualidade das pessoas. E esta não é a escola que molda, como pudesse enfiar cada um de seus alunos em uma forma. Isso vem de casa, da mãe, do pai, dos familiares em geral, do ambiente da vizinhança, daquilo tudo que cerca o menino, a garota, o rapaz.

3 – As cenas que se contam nada têm a ver com o ambiente escolar propriamente. Há casos evidentes de disputas entre gangues. Deve haver e com certeza haverá casos de desajustes de casa. Assim como a droga deve estar rondando pelas proximidades. Essas coisas levam a supor sugestões que soariam como cúmulo dos absurdos: fazer triagem prévia de quem a escola abrigará como aluno, instalar detector de armas na porta dos estabelecimentos e, em última instância, recrutar a polícia para ofertar segurança ao ambiente durante o período das aulas.

4 – Espantem-se com essas minhas elucubrações, aborreçam-se, declaram persona non grata o autor. Advirto: quando se toma para refletir um problema da gravidade do que anda acontecendo nas escolas, não é possível ser agradável, ameno, bonzinho. É caso para tratamento de choque. Não – pelo amor de Deus – no sentido da resposta à violência com violência. Tratamento de choque é não tergiversar, não transformar o caso em discussão acadêmica, não dourar a pílula, não ficar empurrando com a barriga ou querendo camuflar uma evidência que agride os olhos e assusta as consciências. É só isso. Solução? Não sei. Há? Certamente que sim. O problema que está aí agora não se resolve com discurso. É com ação.

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