terça-feira, 11 de novembro de 2008

Lembrando Antonio Maria

É uma falácia total essa conversa de que a imprensa tem o dever de criticar o poder naquilo que ele não faz ou faz errado e de reconhecer os seus acertos, divulgando seus feitos.

Quem assume o poder o faz com o compromisso de fazer. Portanto, fazer não é mais do que a obrigação. Portanto, fazer não contém aspecto excepcional para, por si só, virar notícia. E notícia, como dizem os manuais desde Gutemberg, é o excepcional.

Não fazer ou fazer mal é o excepcional. Não só é notícia, num sentido amplo, como exige da imprensa a obrigação de denunciar à sociedade, inclusive para que esta se mova na defesa dos seus direitos.

Reconheço que somos extremamente generosos com o poder. O que não satisfaz o poder. Por isso, quando se defronta com a notícia ruim – para ele – tenta plantar cercas para isolar a imprensa do contato com ele. Nítida tentativa de garroteamento.

Os controlares do poder pensam que, cerceando o acesso, tiram o oxigênio da imprensa. Bobagem monumental. Antonio Maria, grande jornalista, letrista e compositor, cunhou frase célebre na década de 40, ao ser jogado em uma masmorra da ditadura de Getúlio.

Sob suas unhas, os capatazes do regime enfiaram fiapos de madeira, para impedi-lo de escrever. Ao receber a filha na cela e diante do espanto dela, disse em relação aos autores da agressão: “Bobos. Eles não sabem que os jornalistas não pensam com os dedos”.

Mutatis, mutandis, a frase se aplica a caso recente. No seguinte sentido: eles não sabem que os jornalistas não dependem do poder.

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