quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cuidemos de nós

1 – Não só é arriscado como não é correto proferir sentença quando os suspeitos ou acusados ainda não foram julgados pelos órgãos competentes, com amplo direito de defesa. Refiro-me ao caso do prefeito de Limeira, Silvio Felix, metido numa baita de uma encrenca com as inquinações que pesam sobre sua família. É daqueles casos que, antigamente, se chamavam de cabeludos. É coisa de espantar, por demonstrar o grau de articulação a que as pessoas teriam chegado para auferir vantagem através do cargo público.

2 – É de brutal coincidência que tenha envolvido a família do prefeito – esposa e filhos – de modo semelhante com o que ocorreu em Campinas, onde os episódios terminaram com o afastamento do prefeito Hélio de Oliveira Santos. Pensar que todo o golpe tenha sido arquitetado sob a ignorância dos prefeitos é um ato de benevolência com ambos ou de pueril ingenuidade. Impossivelmente isso aconteceria desse modo. O mais lógico é supor que tudo tenha sido organizado de modo a excluir mesmo o prefeito. Porque, pensar de outro modo só na circunstância em que Hélio e Silvio estivessem sofrendo uma monstruosa traição de seus familiares. Isto é, teriam armado tudo à sombra.

3 – Às vezes, a ingenuidade ultrapassa os seus limites mais extremos e termina invadindo o terreno da idiotia. Mas, não é justo, não é humano conceder o beneplácito da dúvida? Não há dúvida. Mas, para isso também há os limites razoáveis. Os dois escândalos, de Campinas e de Limeira, expõem espetaculares sinais de veracidade. Aliás, digo mais. Se for o contrário, penso que deverão ser levados às grades todos que tenham feito inquinações improcedentes e mentirosas. Sim, estou me referindo aos promotores de justiça. Confio que sejam profissionais de gabarito, escravos obedientes à lei, à moral e à ética. É isso que me faz crer na procedência do que trazem à luz os mesmos profissionais.

4 – Essas situações, quando mais rodeiam as nossas vizinhanças, mais nos deixam próximos da crença de que, como dizia um amigo de jogo de baralho em Martim Francisco, de uma desgraça ninguém está livre. Não estamos, portanto. E conforme as desgraças se reproduzem, frequentando com desgraçada assiduidade o nosso cotidiano, mais me pego pouco surpreendido com os novos escândalos. Sinceramente, sinto estar perdendo velozmente a capacidade do espanto. Conservo, todavia, a indignação.

5 – O fato é que nossa responsabilidade de eleitor comum está se tornando cada dia mais grave. Estamos sendo convocados a aguçar os nossos instintos, nossos juízos, nossa capacidade de descobrir quem são de fato aqueles se nos apresentam como representantes dos nossos interesses e intérpretes de nossas vontades. Precisamos aguçar aquilo que chamamos de sexto sentido – o sentido que não se deixa enganar diante de rostos nutridos e discursos bonitos, bem articulados, porém vazios de conteúdo e recheados de intenções inconfessáveis. Cuidemos de nós se não quisermos ser as próximas vítimas.

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