quarta-feira, 14 de outubro de 2009

É a casa dos debates

1 – Um aspecto curioso e muito particular da atualidade política de Mogi Mirim é a falta de embate político. Embate que traduzo por debate de idéias, de pontos de vista, confronto de posições, cada qual em defesa de seu lado e de suas teses.

É verdade que a oposição está reduzida à vereadora Márcia Róttoli, como quem nem sempre concordo, mas a quem não nego o mérito de persistência, da fidelidade ao lado e ao estilo que adotou, e a Orivaldo Magalhães. Fora Márcia e Magalhães, às vezes Maria Helena dá umas estocadas, ainda que integrando nada menos que o partido do prefeito.

Bissextamente, porque também filiada ao grupo governista, Maria Alice dispara alguns torpedos – quase sempre mais como médica do que como vereadora. A situação? Bem, a situação ouve, ouve, ouve... Por preferir o silêncio mesmo, por incapaz de oferecer contraposição a seus contrários ou, em última hipótese, pela opção em não dar atirar mais gasolina à fogueira lançada pelos inimigos.

Quando há, as discussões são miseráveis. Em geral, as manifestações são caracterizadas pelo monólogo. De um lado, é sinal de despreparo por parte de quem, por obrigação grupal e política, deveria oferecer resistência às críticas e, em especial, às denúncias assacadas contra o governo. Aliás, se há algo evidente, do ponto de vista de discurso, é a falta de contextura orgânica ao situacionismo.

2 – Quando falo da ausência de embate não estou sugerindo que os vereadores deveriam, em defesa de suas convicções, se ofenderem ou se pegarem a tapa. Há algum tempo, escrevi aqui que discussão não é esbravejamento, debate não é berro e não é no grito que se vence confronto de ideias, muito embora essa seja uma prática recorrente.

Vi e ouvi, desde os tempos em que os jornalistas eram abrigados dentro do plenário e a eles era exigido que se paramentassem com paletó, célebres disputas orais, às vezes até avançando pela madrugada.

Lembro Robertão Costa e Silva, Robertinho Costa, Ademarzinho de Barros, José Romanello, Abner de Oliveira e tantos que fizeram do Legislativo aquilo que ele deve mesmo ser explicita e intrinsecamente: uma casa de debates. No voto, quase sempre a maioria vence, como sempre vencia, mas não deixavam de ecoar ensurdecedoramente as razões dos que terminavam abatidos nas decisões. Era possível, assim, sair da Câmara com algum conhecimento acerca do que pensavam um e outro.

3 – Em falta de tribunos nós estamos mesmo e não é em Mogi Mirim, mas no país. O Congresso, juntando Senado e Câmara dos Deputados, é hoje de uma pobreza deprimente. O que parece estarmos, neste terceiro milênio, é com falta de vocação para o exercício da função e com carência de noção acerca do que é o mandato de quem o povo manda para o Legislativo.

Em lugar do cotejamento de ideias, boa parte se ocupa de relatar, chatíssimamente, aquilo já posto em requerimentos e indicações, numa clara preocupação de jogar para a torcida, aproveitando o fato de as sessões serem veiculadas pela televisão, ainda que mutiladamente.

4 – À frente, há uma belíssima oportunidade para um bom debate, esquecendo o que já passou quase sob silêncio. Até 15 de dezembro, terá que ser votado o Orçamento do Município para 2010. Certa vez, há três ou quatro anos, marquei no relógio: o Orçamento foi votado em 14 segundos, sem discussão qualquer. Bateremos o recorde?

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