sábado, 25 de setembro de 2010

Falsa generosidade

Que a instalação de unidades da antiga Febem, agora Fundação Casa, causaria problemas a Mogi Mirim nunca houve dúvida. Ainda mais que uma delas abriga rapazes de longo histórico de ‘atos infracionais’.

Afinal, por que seria diferente aqui? Acho que há uma questão a examinar no caso. Fossem as unidades aqui plantadas após estudos e critérios bem objetivos que o justificasse, seria explicável, ainda que desagradável do mesmo modo.

Todavia, não foi o aconteceu. A instalação das unidades foi claramente um preço exigido para a instalação da Fatec e a transferência do fazendão da antiga Febem ao patrimônio da Prefeitura.

Não nos esqueçamos, além do mais, que a compreensão recorrente, na ocasião, era de que Mogi Mirim receberia uma unidade de menores primários. Até mesmo o prefeito Carlos Nelson foi surpreendido, certo dia, quando recebeu um emissário do Estado e este deu a má nova de que, ao invés, de uma seriam duas.

A generosidade do Estado para com a cidade não é bem a que tanto se alardeia. Houve uma relação de troca. Com ganhos. Mas, com um pesado preço.

Umas e outras

1 - A Secretaria dos Transportes já pode reinstalar a placa da praça do pedágio de Santo Antonio de Posse, que mandou retirar sob o pretexto de que não continha todas as informações sobre a obra. Não há nada mais que temer. Nem prejudica Alckmin, que parece com a fatura liquidada, nem ajuda Serra, que cumpre tabela na eleição presidencial. Aliás, sob o ponto de vista político, a implantação do pedágio, na hora em que foi anunciada, parece ter sido obra de elefante em loja de cristais. Nem inimigo faria maldade tão bem feita.

2 – Nos últimos dias, me dediquei a ouvir, aqui e acolá, previsões de votação dos concorrentes locais a deputado. A julgar pelo que ouvi, Mogi Mirim precisará ter um colégio de mais de 100 mil eleitores. As contas não batem dentro dos 62 mil inscritos. Não desconsiderando um detalhe: a perda de votos em eleições proporcionais, especialmente de deputados, é muito grande.

3 – Aparentemente, houve efeitos predatórios dos escândalos da Casa Civil na candidatura de Dilma Rousseff. Ao menos em algumas faixas do eleitorado, mais sensíveis a esses episódios. Mas, ao que tudo indica, nada que exija mais do que um band-aid para fazer o curativo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Samba do crioulo doido

1 – Há alguns meses, nas preliminares da campanha eleitora, o Gabinete do Prefeito serviu de sede ao PSDB para a aclamação do nome do deputado federal Silvio Torres como o estuário dos votos do tucanato local. Foram enaltecidas as virtude do parlamentar, bem com a contribuição que ofereceu à cidade, nos últimos anos. Ele seria, portanto, ‘o cara’. E até que começou assim mesmo. Mas, na última quinzena, venho sendo bombardeado por informações de que o barco de Torres sofreu alguns desembarques. E gente de peso, tucanos de rica plumagem, que foram se alojar na embarcação do também já deputado federal Carlos Sampaio, cujo mandato atual deve, por mais de 5 mil votos, a Mogi Mirim.

2 – Por efeito desse fenômeno, como me disse um amigo, segunda-feira, os bois não podem mais ouvir falar em eleição que saem voando do pasto. É que o consumo de filé mignon tem subido à alturas inimagináveis nos últimos dias, aqui e pelas bandas de Mogi Guaçu, para reunir adeptos em torno de Sampaio. Haja espeto para tanta carne. Já bocas, naturalmente, não faltam.

3 – Aliás, ouvi mais. Até mesmo o deputado federal Paulo Teixeira, do PT, também teria sido recepcionado num evento politicamente ecumênico, com representantes de confissões políticas as mais diferentes. A informação tem nexo. Teixeira andou abrindo algumas portas em Brasília para o governo local encaminhar pleitos. E tem mais nexo ainda quando parece não haver mais dúvida de que o Planalto continuará a ter por inquilino, a partir de janeiro, o mesmo PT de agora, representado por Dilma Rousseff. Portanto, faz bem ter um parlamentar petista à mão.

4 – O fato é que a atual campanha eleitoral está um verdadeiro samba de crioulo doido, como na letra de Sérgio Porto, que se assinava Stanislaw Ponte Preta, na coluna que publicou por anos na Última Hora. Tem para todos os gostos e para as combinações mais esdrúxulas. Tucano apoiando tucano por cima e pepessista por baixo. Pedetista apoiando pepessista por baixo e pededista por cima. Tem tucano renegando tucano. Enfim, a esbórnia é geral. Para explicar: uma das traduções para esbórnia é orgia. E o que está acontecendo não é muito diferente.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Escala Richter

1 – O epicentro foi desde logo identificado: a Casa Civil do Palácio do Planalto, um andar acima do gabinete do Presidente da República. Foi lá a origem do terremoto. O que ainda não foi determinado é o grau de sua intensidade na Escala Ricther. Disso vai depender, e muito, o encaminhamento das eleições nos próximos 16 dias. Estrago o terremoto vai fazer. Ouso supor que, nestas alturas e em face do sinistro mais recente, a decisão vai acabar no segundo turno.

2 – São por demais claras as evidências contrárias à ex-ministra Erenice Guerra, tida, até outro dia, como o braço direito de Dilma Rousseff, enquanto esta permaneceu na boléia do Palácio do Planalto. Os Guerra de Erenice tomaram conta e, ao que parece, agiram com a sensação da impunidade, originada na certeza de que as maracutaias – para usar terminologia do Lula deputado federal – jamais seriam descobertas. Com uma agravante: sabe-se agora que as operações tenebrosas já se processavam às costas de Dilma, quando Erenice ainda era sua imediata. Não vai faltar potencialização do escândalo, pela mídia e pelos opositores do governo, suficiente para pôr algumas, ou muitas, cabeças em dúvida. A propina que corria na Casa Civil é de muito mais fácil entendimento, até pelas pessoas mais simples, que a violação de sigilo de contribuintes do Imposto de Renda.

3 – Não creio que as possibilidades de Dilma se tornar sucessora de Lula se reduzam à impossibilidade. Ainda penso que, no fim, leva o título do campeonato. Mas, acredito que, doravante, mais sofridamente. As últimas pesquisas já captam certa migração de intenção de voto em camadas mais esclarecidas, muito embora ainda não toque, nem de leve, na vantagem da candidata petista, que segue sustentando folgada vantagem em relação a José Serra. Sob a ótica da lógica – embora seja certo que, como em futebol, na política a lógica de nada serve – a tendência é de intensificação desse movimento, pondo em risco a margem de folga para Dilma levar já em 3 do próximo mês.

4 – Necessariamente, entretanto, o estuário dos decepcionados não será o concorrente tucano. Estou inclinado a pensar que os trânsfugas vão correr para os braços de Marina Silva. Ela oferece a aparência da candidata mais ética, que não ataca e não sofre contestações, o que poderia ser natural considerando que a candidata do PV foi governo. De forma direta, Dilma e Serra também não expõem fraquezas. Apresentam-se como fichas limpas. Não há escândalos conhecidos que os envolvam. Mas, de digladiam, o que não costuma agradar certa fatia do eleitorado, avessa a esse tipo de conduta agressiva. Marina trafega em faixa própria, martelando um discurso que, se não encanta, também não assusta.

5 – Para quem votaria em Dilma por absoluta rejeição a votar em Serra, Marina é, portanto, o caminho. É difícil que, mesmo se beneficiando desse movimento, vá a um provável segundo turno. Mas, não é desprezível considerar que haverá segundo turno exatamente por ‘culpa’ de Marina. Mais um pouquinho e a soma dela com Serra e com os do subsolo pode ser o bastante para tirar das mãos de Dilma o troféu para o qual ela já arrumava lugar na estante. Tudo vai depender do grau que o terremoto da semana alcance na Escala Richter.

sábado, 11 de setembro de 2010

Inquietações para o pós-eleição

As campanhas eleitorais não revelam. Ao contrário, escondem. Confrontados com temas críticos, os candidatos escorregam pelas laterais para não sofrerem arranhões. Seja do lado governista, seja do lado oposicionista.

A eleição presidencial está resolvida. Se não for no primeiro, Dilma Rousseff vai vencer no segundo turno e receberá a faixa de Lula.

E então, pergunta? O que pensa Dilma? Que soluções tem em mente para as encruzilhadas inevitáveis e as crises tão certas quando a sucessão do dia pela noite?

Fará um governo de mera continuidade ao atual? Não creio que inverterá rumos, mas terá que possuir seu próprio receituário para a condução do país num cenário em que governar é, cada vez mais, uma tarefa internacionalizada.

Inquieta também saber que, por ter indicado o vice-presidente, o PMDB deverá agir com muito maior voracidade no abocanhamento de cargos, o que é algo muito perigoso. O DNA do PMDB é suficientemente conhecido.

Michel Temer disse, embora depois tenha tentado conversar, que o próximo será um governo de quatro mãos. Terá Dilma Roussef o jogo de cintura e, quando necessário, a autoridade suficiente para conter a volúpia do maior cotista do consórcio?

Tenho dúvidas. Só isso: tenho dúvidas. Ou: não tenho certezas. As circunstâncias em que Dilma Rousseff vai chegar ao Palácio do Planalto são muito especiais. Chegará pelo amparo de um presidente com espetacular aceitação popular. Jamais deve ter imaginado a hipótese de, um dia, se tornar a chefe da Nação.

A questão, pois, é saber como se conduzirá quando Lula sair de cena (ou não sairá) e se perceber diante da responsabilidade de escolher soluções e adotar decisões por aquilo que sua cabeça recomenda.

Tomara que tudo que esteja escondendo em sua campanha seja um virtuoso cabedal de sabedoria que surpreenda os brasileiros a partir de janeiro. Para o bem.

Quando conversar não é perda de tempo

Conversar é o meu esporte preferido. Não tive o tempo que gostaria, mas pude trocar algumas impressões com o candidato ao Senado pelo PV, Ricardo Young, na redação de O POPULAR, que visitou na quinta-feira, dia 9.

Passamos por alguns temas em velocidade de Fórmula 1. Necessariamente, nem divergimos, nem convergimos. Nem ele me pediu o voto, nem eu me comprometi nesse sentido.

Penso que esse tipo de decisão não se toma a partir da primeira impressão. É por isso que existem as campanhas: para ouvir, refletir e optar. Mas, não posso esconder minha confissão: foi agradável e proveitoso conversar com um personagem que jamais houvera visto na minha frente.

Tenho para mim que as conversas são úteis quando me locupletam, ocupam o vazio das minhas carências. E o breve diálogo com Young foi produtivo nesse sentido.

O varejo esteve longe de suas abordagens, assim como as picuinhas comuns à política em época de caça ao voto. Não nos ocupamos de voto.

Para este pobre escriba, foi uma rara ocasião estar diante de alguém com visão de país e com preocupações de nação, quando o cotidiano é composto de questões periféricas.

Ricardo Young sabe que não vai ser senador. Pelo menos desta vez. Assim, pareceu-me alguém entregue a uma tarefa de longo prazo. Alguém disposto a sair por aí para inocular ideias e compartilhar reflexões, sacerdócio de que este país tanto se ressente.

Findo o rápido encontro, pensei: está aí alguém que, como candidato a deputado federal, se elegeria com certeza. E que, no Congresso, ofereceria importante contribuição à nacionalidade. Ao menos, torço que não desista ao final dessa primeira experiência.

As voltas que a política dá

Ao se afastar da Prefeitura de São Paulo para assumir o governo do Estado, José Serra deixou em seu lugar o vice Gilberto Kassab. Portanto, o favor que Kassab lhe houvera feito, levando o DEM à coligação na eleição para governador, estava pago. E bem pago.

Veio a eleição municipal. Geraldo Alckmin lançou-se candidato à prefeitura paulistana. Kassab à reeleição. Serra largou Alckmin sozinho pedindo carona na beira da estrada. Kassab se reelegeu.

Vieram agora as eleições gerais. Serra e Geraldo novamente na disputa. O primeiro à presidência, o segundo a governador.

Pois bem. Quando começou a perceber que era um paciente quase terminal, uma vez que até no seu estado está perdendo para Dilma Rousseff, o que fez Serra?

Foi agarrar-se ao pescoço de Geraldo Alckmin, tentando beber da água que jorra generosamente em favor do candidato a governador.

Geraldo deve estar rindo por dentro. Ainda mais porque, com o fracasso de Serra, o PSDB estadual vai cair em seu colo.