quarta-feira, 28 de julho de 2010

Eleição e televisão

Concordo inteiramente com César Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, que os debates entre candidatos não tem caráter definidor das eleições. O máximo a que se prestam é a erodir candidaturas, quando surpreendidas no contrapé das pegadinhas.

Uma resposta impensada, um gaguejamento diante de uma questão inesperada, uma traição de memória ou confissão que não deveria ser feita. O autor paga o preço. Já ao contrário disso, o desempenho exemplar, bem comportado, com respostas estruturadas, quase nunca alavancam votos na quantidade suficiente para desequilibrar a disputa.

Por uma razão simples: o formato e as limitações de tempo não permitem que os confrontos revelem conteúdo substancial, capaz de esclarecer e de convencer. Na verdade, na verdade, são grandes shows televisivos que servem às emissoras para se lambuzarem em seu próprio mel.

Dizer o que se vai fazer com o país e do país em conta-gotas de dois minutos, três minutos, é atribuir aos candidatos uma capacidade de síntese ausente no ser humano. A discussão acaba transitando pelas beiradas, no que diz respeito ao conteúdo, e desviada para os ataques e acusações. Assim, resumo: debates no máximo servem para desconstruir. Não edificam.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Não foi melhor assim?

Um pouquinho de bola, de vez em quando, é inevitável. Como não meter o bedelho na escolha do novo treinador da Seleção Brasileira? É Muricy Ramalho. Como ele, eram favoritos Felipão e Mano. Aliás, Mano era favoritíssimo.

Mas, não vai ser Muricy. Ele foi escolhido pelo presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Mas, o Fluminense não o liberou. Pois vou dizer o seguinte: não considero Muricy um técnico brilhante. É um respeitável treinador. Seus times obedecem sempre a um mesmo padrão. As equipes que monta, em geral, são previsíveis.

Não ser brilhante não significa não ser competente. Fosse diferente e não teria ido com o São Paulo a três títulos brasileiros. Digo ido porque é falacioso dizer que levou. Mas, não nos esqueçamos que, fora disso, perdeu tudo.

Daí me arriscar a dizer que talvez a seleção tenha se livrado de um sério risco. Muricy é bom em competições longas. Mas, péssimo nos mata-matas. Não ganha um. E Copa do Mundo o que é senão um mata-mata de quatro jogos, após a fase inicial? Talvez tenha sido melhor assim.

sábado, 17 de julho de 2010

Pedágio, o bode na sala

1 – Claro que a remoção do futuro pedágio de Mogi Mirim para Santo Antonio de Posse não resolve. Ameniza alguns efeitos, mas no essencial permanece a mesma coisa. O absurdo está em instalar outro posto de cobrança com tanta proximidade, ainda que desdobrando a tarifa. A medida é notoriamente política, para fazer alguns agrados. Como é inevitável em casos semelhantes, não consegue evitar a criação de outros incômodos.

2 – Daqui a pouco, quem vai de Mogi Mirim a Santo Antonio de Posse pela SP 340 terá que pagar. Entre Mogi e Holambra, Mogi e Jaguariúna idem. Quem estuda em faculdade de Jaguariúna terá custo adicional. Os proprietários rurais de Mogi Mirim, que ficarão livres da tarifa para se moverem dentro do município, não escaparão de pagar pedágio. Os exemplos iriam longe. É dispensável relacioná-los todos.

3 – É curioso que o deputado Barros Munhoz tenha sido o porta voz da ‘boa nova’. Por fatores: a) não ocupa cargo algum na estrutura administrativa do Estado; b) disse que a decisão foi tomada pelo governador Alberto Goldman na noite de quinta-feira, mas a entrevista coletiva foi convocada já na tarde de quinta-feira; c) a prerrogativa de fixar local de pedágio não é do governador, mas da Artesp; d) a Artesp não é subordinada ao Palácio dos Bandeirantes – ou não deveria ser – como a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) não é subordinada ao Palácio do Planalto.

4 – Acho que essa história ainda não acabou. E o que mais estranho mesmo é o fato de os tucanos botarem um bode na sala exatamente às vésperas da eleição. Para qualquer lugar que levarem o bode, ele vai feder. E deixará resquícios do odor mesmo de onde for removido.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lá não como cá

Por extrema coincidência, assisti na segunda-feira a uma sessão da Câmara de Americana, transmitida através do canal de televisão da Assembléia Legislativa. Às vezes, vejo também o que se passa pela Câmara de Campinas.

No caso de Americana, de início, um dado interessante: são 13 vereadores. Mas, brutalmente me espantou o nível da discussão. Brutalmente no sentido positivo.

Discutia-se projeto de permuta de imóveis para a instalação de uma empresa na cidade – lá empresas se instalam –, com todos os contornos que casos dessa natureza costumam conter.

A surpresa: o altíssimo nível de discussão, com sucessão de argumentos prós e contras, em posições muito bem definidas e estruturadas, mas sem rompantes, gritarias, ataques, ofensas e ironias. Sem emocionalismos e sem bazófias. No mínimo, sem agredir os tímpanos.

Pode ser que eu tenha tido sorte de acertar o dia em que todos estavam calmos e bem comportados. Não me pareceu.

sábado, 10 de julho de 2010

Inevitavelmente...

1 - ... não tem como, hoje, não tratar de Copa do Mundo. Era previsível a queda do Brasil tão tenramente? Sim e não. O futebol brucutu do time de Dunga não era assim tão reles que não fosse capaz de superar aos finalistas de amanhã. Era menos favorito, na prática, do que na teoria. O Brasil é sempre apontado com provável campeão e, na África, isso se repetiu. Mas, foi pelo histórico. De qualquer forma, mesmo não jogando grande coisa, não seria surpresa se estivesse na final de amanhã. O problema maior, a meu parco juízo, é que não jogou o futebol brasileiro.

2 – Sob o risco de sofrer uma saraivada de contestações, digo o seguinte: Copa do Mundo não exprime supremacia. Estou inteiramente de acordo, nesse meu raciocínio, com o excelente comentarista Paulo Calçade: o campeão de amanhã não seria o mesmo em agosto. O Mundial é muito momento, oportunidade, um pouco de sorte, uma pitada de erros de árbitros e certa dose de virtude. Como negar virtudes à Espanha e à Holanda? Mas, vença um ou outro, não significará que detêm a supremacia do melhor futebol do mundo. Serão legítimos campeões, sem dúvida. Supremacia, de verdade, o Brasil já teve em alguns instantes. Não tem mais, porque crescentemente a modalidade vem sendo burocratizada. O que foi a seleção de Dunga senão burocrática, formal, chata e previsível?

3 – E os árbitros? Alguns decidiram jogos em favor de uns e em prejuízo de outros. Alguns não decidiram, mas protagonizaram erros danosos às duas equipes que estavam em campo. Pois bem. Foi o bastante para reacender a discussão de que o futebol precisa, urgentemente, incorporar o recurso tecnológico da imagem para corrigir as falhas daqueles que, como meus contemporâneos, eu chamava de apitadores. A discussão é longa. Prefiro outra via de análise. É impossível que a qualidade da arbitragem, hoje, seja pior do que nas décadas retrocedentes – 90, 80, 70, 60... Impossível porque as condições de formação dos árbitros e auxiliares, como em todas as atividades humanas, são hoje muito mais aprimoradas e os próprios profissionais desfrutam, nesta nossa era, de qualificações intelectuais muito mais ricas. Dirá o leitor: e daí?

4 – Daí que os erros sempre existiram, eventualmente até mais grosseiros dos que foram observados na África do Sul. Quem não se lembra do gol de Rivelino contra o São Paulo, em que a bola ingressou na meta pelo lado externo da rede? Ali já foi possível, com o velho videoteipe, aferir o erro. Na Copa da África, em cada partida disputada a relação era absolutamente desigual: o árbitro com dois olhos para decidir e 40 câmeras de televisão, ainda mais com o recurso do slow motion, para mostrar o erro. Daí, e concluindo, digo: os árbitros estão perdoados.