sábado, 13 de outubro de 2012

Ainda uma interrogação

1 – Eu sempre cultivei dúvidas em relação a Gustavo Stupp. Por vezes, expressei tais angústias ao próprio. Há seis meses, disse-lhe no parapeito que separa o plenário das galerias na Câmara: “não sei o que você pensa”. Em outra ocasião, já no encaminhamento da campanha, nova impertinência de minha parte. “Quem é o seu grupo político?”, indaguei, explicando que, isoladamente, é muito difícil que qualquer candidato vença uma eleição. Mas, se tive dúvidas, também tive convicções. Há três anos, quando João Luís Teixeira estava longe de converter-se stupiano de primeira linha como agora, adverti o vereador durante conversa na Praça Rui Barbosa: “preste atenção neste rapaz”, afirmei. Stupp já exprimia forte dose de obstinação. Em outra oportunidade, privei de uma hora de conversa com o pai de Gustavo, Sérgio. Disse-lhe que, a meu juízo, faltava um foco político definido ao filho, que se atirava em disparos para todos os lados. Espaventado – como diria minha avó Gidica de alguém irrequieto.

2 – Uma semana depois da eleição, não me parece que o prefeito eleito é muito diferente do que o vereador. Acho compreensível, porque não se muda uma personalidade do dia para a noite – e isto ele vai precisar fazer para levar a bom termo a enorme responsabilidade que vai enfrentar a partir de 1º de janeiro próximo. E foi esse Stupp que venceu a disputa pela Prefeitura. Sem tirar nem por. Um Stupp nem tanto ao mar, nem tanto a terra. Nem situação, nem oposição aguda. Navega em um meio termo. Como fez na campanha. Se encarnou em certa medida o sentimento de decepção e desencanto para com a atual administração, pouco se ocupou de atacar Carlos Nelson. Houve quem tenha optado por essa via na expectativa de capitalizar os votos dos descontentes. Ernani Gragnanello e Orivaldo Magalhães, por exemplo. Até Flávia Rossi andou flertando com essa estratégia. Gustavo Stupp fez outra coisa: ao invés do ataque ao status quo, preferiu a promessa. Desse modo fez sua peculiar oposição. E tenho sérias suspeitas de que isso, em determinadas camadas sociais, acabou funcionando.

3 – Considero, portanto, que Stupp nem melhorou nem piorou em relação à forma como o leio politicamente desde que o conheço. Assim, não penso que venceu porque foi mais sensato do que era antes. Muito ao contrário, foi autenticamente o mesmo, irrequieto, espaventando. Propondo coisas que nenhum concorrente, por mais apelativo que pudesse ser em busca do voto dos mogimirianos, ousaria fazer. Particularmente, eu ainda não consigo digerir a tal de tarifa social de R$ 1. Pode ser consequência da minha curteza intelectual. Mas, muito seguramente, o aceno colou. A internet grátis para todos também. Todavia, me atrevo a especular que esses acenos soaram como devaneios no centro da cidade, comprometendo sua credibilidade e jogando essa faixa do eleitorado no colo de sua principal oponente. Não sei dizer, mas talvez esses tenham sido movimentos calculados de Gustavo Stupp. Perder no eleitorado teoricamente conservador para ganhar na camada mais popular, aquela que se move pelas esperanças que se lhes oferece.

4 – Bom, o fato é que Gustavo Stupp é o prefeito eleito. Ganhou a disputa num sistema em que não é exigida a maioria absoluta dos votos – metade mais um. Basta ser o mais votado entre todos os concorrentes. Por isso mesmo, aliás, vai governar em minoria. Não foi o escolhido de 65% dos eleitores que fizeram opção nominal. Aqui, permito-me dar uma puxada na brasa para a minha sardinha. Há meses afirmei minha convicção de que a eleição seria decidida por tendência e não por individualidades. Houvesse tendência situacionista e iria para a Prefeitura alguém com esse perfil. Houvesse tendência oposicionista e iria, como vai, alguém com esse perfil ou que tenha defendido teses ao menos próximas disso, como Stupp. Ora, somem-se os votos de Stupp, Ernani e Magalhães e se vai verificar que ao redor de 70% dos eleitores queriam algo que não fosse a repetição do que está aí em fase de extinção. A tendência venceu. Sendo assim, concluo então que é prematuro erigir Stupp à condição de uma nova liderança política. Concordo que seja um fenômeno pela rapidez com que chegou ao pódio. Como liderança ele vai ter que se construir no exercício do mandato. O que não é fácil, porque quem tem a caneta na mão também vive sob a frágil proteção de telhado de vidro.

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