sábado, 22 de outubro de 2011

Sete anos inúteis

1 – Passei o dia de ontem me remoendo, tentando elaborar ideias, buscando desesperadamente um foco para esse interminável confronto, agora levado às penúltimas consequências por uma das partes. A direção da Santa Casa cumpriu o que parecia ser pressão em busca de uma correspondência por parte da Prefeitura. Suspendeu os plantões de especialidades no Pronto Socorro para usuários do SUS. Eu assisti a algumas crises aqui, outras em Mogi Guaçu, na relação entre o Poder Público e o hospital. Não me lembro de radicalização semelhante. E temo, sinceramente como cidadão, pelas consequências que possamos testemunhar.

2 – Atendendo a convite, há duas semanas conversei longamente com Ronaldo Carvalho, diretor executivo da Santa Casa. Como depois fui ouvir também na Câmara, fez exposições irrepreensíveis aos olhos e aos ouvidos de um leigo da mais alta patente, como eu. Aliás, parece que muita gente que está lidando com o tema, inclusive por dentro do âmbito, não detém conhecimento assim muito melhor que o meu. Aos argumentos do hospital, a Prefeitura responde com suspeitas. Não vi até aqui documento qualificado suficientemente para contestar com autoridade as razões que se produzem dentro no nosocômio (bom e moderno sinônimo, não é mesmo?).

3 – Isto significa estar definitivamente consolidado que a Santa Casa tem razão e a Prefeitura está errada? Em absoluto. Como o inverso é verdadeiro. Acredito que, no estágio em que as coisas chegaram, hoje só uma coisa é certa: cada qual das partes acha que tem razão. Neste momento preciso advertir ao incauto leitor que estas linhas que me mortifico (empresto aqui verbete da dialética de Mauro Adorno) para escrever não vão servir para coisa alguma. Como já disse, estou tratando de assunto sobre o qual repousa minha mais espetacular ignorância. E por que me meti a isso? Porque estou estupefato com a altura a que as coisas chegaram. Não consigo conceber que, por desinteligência de seres humanos, seres humanos possam ser recusados na porta de um hospital.

5 – A ideia que me convence é de que se deixou que a carruagem fosse longe demais. A rigor, a rigor, as relações entre as duas partes, durante o atual governo municipal, sempre foram exemplarmente ruins. Prefeitura e Santa Casa vêm se conduzindo como componentes de uma dupla em que cada um se põe de costas para o outro, porque não se toleram. Dia desses, em conversa com Admar Maia, ex-diretor de Saúde, fiz referência a essa ideia, que está longe de ser uma mera figuração. É real.

6 – Ora, sete anos depois eis que se vem falar em auditoria nas contas da Santa Casa, para ver o destino dado aos recursos de origem pública. E por que, se era esse o caso desde antes, já não se adotou tal providência? Tudo o que, de novo, se discute hoje e dá causa à extrema medida do hospital poderia ser matéria vencida, página virada. Que as partes me perdoem pela ignorância: quando sete anos não foram suficientes para por ordem nessa relação, ambas foram incompetentes.

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