quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Aridez governista

1 – Nas proximidades de completar sete anos, o governo instalado em 2005 não conseguiu projetar uma única liderança que seja capaz de brilhar sem que seja pelas luzes emanadas de seu rei. Não foi capaz ou não quis. A segunda hipótese não é de ser desconsiderada. Mas, o fato é fato. Se fosse necessário escolher hoje um nome inquestionavelmente viável, com cacife para peitar e levar a sucessão, a dificuldade seria imensa. Gerson e Flávia Rossi, que parecem disputar a primazia ao menos por enquanto, estão muito longe do que seriam lideranças com raízes fincadas e rebanho minimamente consolidado. Fazem enorme esforço, todavia não com o resultado suficiente.

2 – E por que não? Porque não basta querer. É preciso reunir dotes de liderança, produto não disponível no mercado dos recursos postiços. Nomes viáveis se constroem por ações e iniciativas afirmativas, daquelas em que o personagem se põe à frente ao contrário de servir de escora. E, entre os auxiliares de Carlos Nelson, não há um único caso em que alguém tenha ao menos insinuado por o pescoço para fora. Por falta de dotes de liderança ou por medo das reações superiores, sabendo-se que a cidade é governada com mãos pesadas. Há dias, Nelson Victal do Prado me disse ter ouvido do prefeito que a escolha do candidato à sua sucessão será feita a partir de uma pesquisa de opinião pública. Ora, nada mais explícito quanto à sombra em que se escondem sobre todos os subalternos, potenciais ou não candidatos à cadeira do chefe. Aliás, a escolha da vice em 2008 não foi diferente. Flávia ganhou o bilhete premiado porque entre os pretendentes não havia um só que tivesse reunido credenciais para a posição.

3 – Por mais que seja arriscado dizer e por mais que aborrecimentos possam sobrevir, o fato é que o terreno governista não foi devidamente adubado ou, de origem, é mesmo pouco fértil. Não possui favorito algum e nem um único nome que possa costurar os desejos e ambições do grupo político, compreendido todo o arco partidário que cerca o governo. Qualquer nome que se fale produz reação contrária. Aliás, é por isso mesmo, por falta de nome um nome minimamente consensual, que torça o mínimo de narizes, é que tem voluntários se lançando em sacolada. Todo mundo está se achando representativo o bastante para pleitear lugar na boleia da caravana.

4 – De todo mundo, a má vontade com que analisa o quadro carlosnelsista não significa que a situação está liquidada, sem chances ou em dificuldade muito grande. Dilma era nacionalmente uma desconhecida. Lula a pegou pelas mãos e a apresentou ao Brasil. Tucanos a trataram com deboche, imaginando uma eleição com favas contadas em face da dianteira que Serra livrava. O resultado está aí. Por que não seria possível que se processasse aqui o mesmo fenômeno? Pode acontecer. A questão apenas está em saber se Carlos Nelson terá, no plano da sucessão local, a mesma capacidade de Lula em transferir prestígio e voto à sua desconhecida candidata na disputa nacional. Lula estava com prestígio. Muito prestigio.

Nenhum comentário: