1 – Vencido o segundo turno das eleições municipais, analistas se debruçaram a examinar os ganhos e as perdas dos partidos políticos ao final das decisões dos eleitores. A partir daí, tomaram-se os números para efeito das avaliações, como se eles, simplesmente eles, pudessem explicar o avanço desta ou daquela corrente partidária, ideológica, programática ou filosófica em face dos prefeitos eleitos. O raciocínio, com perdão da minha pretensão em querer contrariar gente muito melhor qualificada, é falso. Ou no mínimo duvidoso. Na maioria dos casos, os candidatos é que, individualmente, foram os vencedores, sem arrastarem consigo o mínimo de coloração partidária.
2 – Vou até começar por aqui, onde venceram as eleições o PDT de Gustavo Stupp e o PPS de Gerson Rossi Junior. Alguém será capaz de dizer que a vitória deles foi uma vitória do trabalhismo-popular-socialista? Ou não seria mais real pensar que foi uma vitória, como especulei aqui algumas vezes, oriunda da insatisfação que feriu de morte o atual governo municipal, levando junto sua candidata? Portanto, concluo que não foram o PDT e o PPS – e nenhuma das outras siglas agregadas – que venceram as eleições, mas os candidatos pelos encantos individuais que fizeram chegar aos eleitores. Ora, o raciocínio vale para outras praças, inclusive São Paulo, a maior cidade do país. Vejam o esdrúxulo de o PT se aliar ao PP de Paulo Maluf para reconquistar a Prefeitura da Capital do Estado. Há dose de petismo na vitória, mas nada autoriza a considerar que São Paulo se expressou petista em essência e em substância. Os paulistanos expressaram, isto sim, um evidente e sonoro anti-serrismo, até mais do que uma rejeição ao PSDB em si.
3 – O PSB conseguiu resultados excepcionais, jamais obtidos antes. Porque o partido cresceu no conceito das camadas sociais e, portanto, foi derrubando inimigos pelo caminho? As vitórias consagraram um socialismo em marcha acelerada? Absolutamente. O PSB surfou na onda do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, uma réplica política muito bem acabada do velho Miguel Arraes. Ele espalhou representações do partido, se aproveitou de dissensões locais aqui e ali e foi construindo um quadro de candidaturas com densidade eleitoral. Várias delas terminaram vitoriosas. Agora, dizer que o socialismo do PSB vai ‘governar’ xis por cento do país é de uma bobagem irritante. Inclusive porque, sob o ponto de vista ideológico, não há corrente alguma que esteja sobrepondo domínio em qualquer parte do país.
4 – Como não espantar que se afirme que o PSD “cresceu” não sei quanto em face dos resultados das últimas eleições? O PSD não pode ter crescido simplesmente porque nada tinha por conquista original, através do voto. A eleição do último dia 7 é seu primeiro teste e, do mesmo modo, não importando os números que somou, em nada eles simbolizam adesão ao que poderia ser o conteúdo programático da sigla, nascida para servir aos sonhos do ainda prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Haveria mais para dizer do PMDB, aquele do “se há governo, estou dentro”. E do PSDB. E de outros. Mas, acho serem suficientes estas mal digitadas linhas para sintetizar a ordem do meu pensamento: o nosso quadro partidário, de há muito e hoje sem qualquer exceção, é de uma falsidade oceânica. Deplorável. É grande uma farsa. Uma monumental mentira. É um rosário de siglas já vencendo a fronteira das três dezenas. Bem disse o cientista político Antonio Lavareda, após a votação de segundo turno no domingo passado: em nenhum país do mundo haverá tantas correntes ideológicas capazes de povoar tantos partidos como os existentes no Brasil. Esse excesso de oferta e essa carência de conteúdo é tudo que pode servir aos políticos que se aboletam nelas ou tomam as siglas de assalto para a satisfação de seus projetos pessoais, quase sempre nefastos aos interesses coletivos. Acho que um dia muda. Mas, não tenho esperança de que isso aconteça ainda no limite do meu tempo.