terça-feira, 31 de maio de 2011

Elites silenciosas

1 – Se existe uma elite intelectual em Mogi Mirim, aparentemente ela está em repouso. E não é de hoje. Já faz tempo que não se exprime naquilo que toda elite intelectual tem como sua maior virtude: a capacidade da reflexão e da produção de ideias. Nessa matéria, a cidade não tem sido feliz com os que deveriam ser os intérpretes de seus fenômenos e faróis de seu horizonte. Daí a profunda decadência política em que a terra “nascida da bravura dos paulistas” vem sendo mergulhada. A “bravura dos paulistas”, sinceramente, não está sendo correspondida. Não tem havido paralelo. Diante do que é forçoso reconhecer que a bicentenária cidade está entregue à própria sorte. E esta nem sempre é generosa.

2 – Lembro, por exemplo, que Mogi Mirim tem quatro ex-prefeitos vivos: Romeu Bordignon, Ricardo Brandão, Luiz Netto e Paulo Silva. A ausência de Romeu é compreensível em face de problemas que o acometeram. A omissão dos outros três é imperdoável. Não que precisassem ou precisem se candidatar de novo. Mas, não parece ser atitude cidadã o quanto se conduzem marginalmente em relação ao cotidiano da cidade. Penso que, quem governa a cidade seja por qual tempo for – pouco ou muito –, jamais deixa de ter responsabilidades em relação a seus concidadãos. Até pela experiência adquirida, deveriam fazer o exercício da crítica, fornecer contribuição para reorientar eventuais rumos e suscitar debates para emergirem lideranças de fato empenhadas com o futuro da terra sobre a qual todos vivem. Mas, qual o que...

3 – As vezes me pego convencido de que cultivo sonhos irreais, sem qualquer chance de se fazerem concretos. De um lado, porque ilusórios mesmo. De outro, porque a política destes tempos não reserva mais lugar para voluntários e cidadãos que se doam à causas de interesse coletivo. Hoje, é toma-lá, dá-cá. Tudo muito objetivo, prático, pragmático e profissionalizado. Se não há vantagem na perspectiva imediata ou, no máximo, de médio prazo, “tô fora”.

4 – Sonhador, iludido ou inocente, pouco importa o rótulo que melhor a mim se aplique. Tenho noção de vou levando essas convicções cada vez mais para as proximidades do túmulo e cada para mais distante da realidade. Sequer convido qualquer um que seja para solidarizar-se comigo nessas ideias que, certamente, a alguns ouvidos soam estúpidas. Faço o que parece ser a minha tarefa enquanto cidadão, mais do que enquanto jornalista. São reflexões e alguns maus humores que nascem da inconformidade de ver uma cidade com história tão rica dominada pelo silêncio do ‘não é comigo’.

5 – Para arrematar, voltamos sempre àquele ponto de partida: sempre que os bons, justos, honestos e bem intencionados se omitem, alarga-se espetacularmente a porta de entrada dos oportunistas e espertalhões. Não ganham todos com isso. Ganha uma ínfima minoria. A maioria paga o preço.

sábado, 28 de maio de 2011

O burrinho da Tefal

1 – Os meus contemporâneos haverão de lembrar do burrinho da Tefal. Era figura presente em um comercial televisivo de uma frigideira. Tefal era a marca. O produto era apregoado como última modernidade. A frigideira, conforme a peça comercial ia demonstrando, apresentava uma série de virtudes, entre as quais a de não grudar a frita no fundo. Ante tantas evidências, entretanto, o burrinho insistia: “não acredito”. Foi um grande sucesso da publicidade brasileira.

2 – E por que essa recordação? Porque estão tentando nos transformar no burrinho da Tefal ao contrário. Se ele pintasse no cenário político de Mogi Mirim, nestes tempos de grosso sofisma e desbragado cinismo, repetiria à exaustão: “acredito, acredito, acredito”. Isto é, se fiaria docemente nas versões tão cândidas quanto falsas que têm se espalhado ultimamente. Hoje, ante a evidência do resvalo para a mentira, querem nos fazer crer na sinceridade de discursos que não encontram a menor sustentação na sinceridade.

3 – Certamente, haverá muitos burrinhos da Tefal no círculo próximo do trombeteador. Possivelmente, muitas velhinhas de Taubaté. A bondosa anciã, como se lembram os da época, mesmo com evidências absolutamente contrárias, acreditava em tudo que os militares diziam. Acreditava com uma boa fé e uma ingenuidade de criança de parque infantil. Mesmo em extinção, esses personagens ainda sobrevivem. Não só para crer nas patacoadas embutidas em proclamações de autenticidade semelhante à de uma nota 13 reais, mas também para aplaudir. Para fazer a corte. Para estender os tapetes. Naturalmente que não de graça.

4 – Eu não consigo compreender como certas pessoas, de boa reputação e respeitabilidade, não se constrangem diante de situações desconfortáveis. Como, por exemplo, servir de moldura para ato partidário dentro do Gabinete do Prefeito, em flagrante agressão às normas legais. Como, por exemplo, sem enrubescer a face, ouvir juras de bom-mocismo da boca de quem passou a vida vilipendiando oponentes ou a qualquer um que tenha se metido à aventura de atravessar-lhe o caminho. Como não se constranger com conversões marcantemente de ocasião. Não consigo compreender.

5 – Compreendo, entretanto, a que estágio se quer levar a cidade. Ao estágio da ignorância consentida, da simploriedade que leva a crer em tudo quanto parta do Olimpo. Parece haver um esforço no sentido de emburrecer a cidade. Não há dúvida, por outro lado, estar ocorrendo um desmedido deboche para com os mogimirianos, tratados como incapazes de discernir entre e verdade e a mentira, a sinceridade e o cinismo, o legítimo e o falso. Querem nos fazer burrinhos da Tefal ou velhinha de Taubabé ao contrário. Vão todos silenciar?

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Salada de frutas

1 – É uma boa notícia, para os meus valores de avaliação, o retorno Leila Ferracioli Iazzetta à política, agora em fase de entronização no PSB. Como vereadora, exerceu mandato qualitativo, com inteligência e cérebro, longe do discurso inconsequente, óbvio e oportunista. Não bastasse isso, teve a atitude corajosa de renunciar ao mandato e atender convite do prefeito Jamil Bacar, de corrente política contrária ao seu partido, o PT, para desenvolver um projeto na área de Promoção Social. Se voltar à Câmara, inegavelmente elevará o nível da casa.

2 – Inevitavelmente, os fatos dos últimos dias, que já produzem consequências, vão deixar sequelas. As feridas ainda estão abertas, latejantes. A alguns, os episódios causaram surpresa. A muitos, apenas mais um capítulo previsível no contexto de uma novela de quinta categoria. Penso que, do mesmo modo que restarão marcas desse enredo burlesco, ficarão exemplos para a história que não honrarão as melhores tradições de Mogi Mirim. O toma lá, dá cá nunca esteve tão em alta, subvertendo toda ordem de conduta minimamente ética que deve prevalecer na ciência em que a política se caracteriza como instrumento do fazer para o povo. O grave é imaginar que não é tudo, nem é caso finito. Virá mais por aí. Com toda certeza virá.

3 – Algumas coisas revelam certo sentido incompreensível ou, no mínimo, estranho. Estapafúrdio, como dizia antigamente o locutor de futebol Haroldo Fernandes. Os cidadãos que olham as coisas pelo prisma da normalidade terão pensado, como eu, que presidentes de partidos são eleitos pelo voto, em convenções ou reuniões dos respectivos diretórios. De repente, informa-se que o prefeito ofereceu a presidência do PSDB a determinado personagem. Há um componente interessante nisso: o absoluto desprezo pelos componentes do diretório da agremiação, todos feitos fantoches de um só que pode ungir o ocupante do cargo principal. Cultivo certa curiosidade em saber como se sentem os trinta e tantos tucanos que integram – ao menos formalmente – a direção da sigla. Sentem-se confortáveis? O ‘faz de conta’ não os incomoda? Acho que não. Acho que levam na boa, respondendo mansamente com amém às ordens do tucano-mor.

4 – Os semáforos do centro da cidade foram reparados. Não em consideração à minha crítica, que não tem peso algum na esfera suprema do poder. De qualquer modo, valeu a providência. Já posso atravessar as ruas sem precisar andar com um olho no peixe e outro no gato. Agora, só está faltando mesmo a Prefeitura fazer certo esforço para reparar os buracos que herdou da concessionária ‘roque santeiro’ da zona azul: a que foi sem nunca ter sido. Eles estão vivíssimos da silva, espalhados democraticamente e surpreendendo-nos especialmente à noite. Dá um jeitinho, vai Fábio Mota. Acho que rende uns votinhos no ano que vem, se é que você, mesmo sem ter exercido um só dia do atual mandato, pretende se candidatar de novo.

sábado, 21 de maio de 2011

Nas profundezas da podridão

Com toda certeza, a história se incumbirá de não permitir que se apaguem os deletérios vestígios da interferência do sr. Carlos Nelson Bueno no quadro político-partidário de Mogi Mirim. São marcas muito profundas que, parafraseando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, jamais se viu nesta cidade. A balbúrdia foi ‘enriquecida’ pelos capítulos dos últimos dias, em que a dissimulação das verdadeiras intenções não conseguiu esconder a astúcia no que ela tem de pior. Mas, os astutos sempre contam com ingênuos.

Eleito pelo PDT no primeiro mandato e já pelo PSDB no segundo, o atual Prefeito Municipal de Mogi Mirim adotou métodos políticos em que se somam a brutalidade do peso do governo e a força coercitiva irresistível do holerite. Assim construiu e assim vem sustentando seus dois governos. Em ambos, ao contrário de aliados, coleciona escravos que se deixam aprisionar pela incapacidade de agir com independência, pela docilidade de se oferecer a quem elegem grão-senhor e aproveitadores que nunca faltam em todo lugar, em toda hora.

Posto diante do espelho, o quadro de auxiliares reflete um monstro, juntando água e óleo como se houvesse alquimia capaz de produzir liga entre elementos tão díspares. Na verdade, o governo é o prefeito, porque o conteúdo político-programático da equipe não conta. E se contasse seria uma tragédia, considerando a confusão ideológica abrigada sob o manto da administração municipal por obra de interesses que em nada dizem respeito à sociedade.

Interessa cooptar, ampliar os tentáculos, por para dentro tantos quantos seja possível para exercer a hegemonia partidária. Raramente um governo conseguiu transformar tantos adversários em fiéis. Na história mais remota da política partidária de Mogi Mirim, isto era absolutamente impossível, uma vez que, ao menos do ponto de vista político, a definição era nítida e inflexível.

O sr. Carlos Nelson Bueno trouxe para Mogi Mirim – o que era absolutamente dispensável para a história da cidade – os métodos que adotou em Mogi Guaçu para acantonar adversários, agregando partidos à esquerda à direita. Um dia, claro, a esperteza engoliu o esperto. Mas, não lhe faltou quem estendesse novo tapete e eis que os métodos vieram na bagagem desde quando atravessou a divisa.

Na obra mais recente, o sr. Carlos Nelson Bueno levou à erosão o partido em que foi buscar lugar para aproximar-se do governo do Estado, num processo bruto, impositivo e imperial. Se PSDB passasse a adotar a identidade de PCNB cairia como uma luva perfeita e justa. Por que é hoje senão o Partido do Carlos Nelson Bueno?

PDT, PMDB e PTB são hoje siglas completamente despersonalizadas pela dependência e subserviência com que se relacionam com o governo municipal. Alguns haverão de recordar que o PPS foi quase tomado de assalto quando estava na iminência de cair nas mãos do então vereador Jonas Araújo Filho. A independência de todos é zero, a capacidade de interferir e decidir é nenhuma. Mas, Carlos Nelson Bueno não é culpado isoladamente por essa situação de terra arrasada. A vassalagem também responde por um tanto, contribuindo para levar a política local às profundezas da podridão.
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Editorial de O POPULAR na edição de 21 de maio de 2011

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Gabinete do Prefeito é usado para fim partidário

Na entrevista coletiva desta quinta-feira, para falar sobre a reaproximação com a vereadora Maria Helena Scudeler de Barros, o prefeito Carlos Nelson Bueno voltou a usar o gabinete para tratar de assuntos de interesse do seu partido, o PSDB.

O episódio já fora verificado no ano passado, quando o Gabinete do Prefeito foi usado pela a Executiva do PSDB para manifestar apoio ao deputado federal Silvio Torres.

No caso desta semana, estavam presentes vários membros da direção da sigla, como o ex-presidente Benedito Sechinato, o Pito, e o vice-presidente Milton Antonio Vital, que exerce a presidência interinamente em substituição a Sidney Carvalho, que renunciou ao posto.

Foram convocados e também compareceram o vereador Osvaldo Quaglio, Miriam Rossanez, Geraldo Magela Brites, Luiz Rocha e o ex-vereador Vanderlei Andrade.

Sechinato, Rocha e Vital, que ocupam cargo na estrutura da Prefeitura, estavam em horário de serviço. A entrevista coletiva foi realizada a partir das 10h00.

No ano passado, o Gabinete do Prefeito foi usado para a Executiva Municipal do partido declarar apoio à candidatura à reeleição do deputado Silvio Torres.

O ato foi tão explícito que terminou noticiado no blog de Carlos Nelson na Internet, inclusive com fotografias do evento.

Na quarta-feira desta semana, a reunião dos membros do PSDB foi fotografada pelo fotógrafo Ismael Silveira Junior, da Assessoria de Comunicação da Prefeitura. A assessora Vivian Cardoso acompanhou parte da coletiva.

Na terça-feira, a convocação da entrevista coletiva já fora feita através da Assessoria de Comunicação da Prefeitura, ignorando que Carlos Nelson trataria do tema como membro do PSDB e não como prefeito municipal, já que não é nessa condição que é filiado à sigla, mas como eleitor comum.

O uso de repartições públicas é permitido pela legislação para a realização de convenções, como fez o próprio PSDB, recentemente, ao utilizar a Câmara Municipal para eleger sua nova direção.

A entrevista desta quinta-feira não se encaixa no dispositivo e o procedimento, se não foi ilegal, ao menos foi imoral e antiético. Outros partidos não desfrutam da mesma facilidade.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Casa de Maria...Joana

1 – Não foi obviamente para salvar interesses do partido que a família Scudeler de Barros montou a farsa dos últimos dias. Foi obviamente para salvar interesses individuais. Em momento algum esteve em causa o interesse de Mogi Mirim, mas o interesse em relação ao poder em Mogi Mirim. As atitudes protagonizadas caracterizaram monumental exemplo de farsa, falsidade, cinismo e deboche. Só deu certo porque Carlos Nelson, precavidamente, decidiu não pagar o preço. Temeu que a hipótese da desfiliação de Maria Helena para juntar-se a Paulo Silva através da via do PV pudesse ter alguma veracidade. Daí, num rasgo de falsa humildade, chamou a vereadora e o filho para conversar, derretendo-se em generosidade.

2 – O primeiro resultado de tudo é o seguinte: do pouco do PSDB que ainda restava em pé, agora não resta mais nada. Aprisionado por interesses da altura de rodapé, o partido acabou. Tornou-se um ente desfacetado, inchado de dependentes do dinheiro público. Deixou de ser um partido para pensar, como jamais Carlos Nelson desejou mesmo. Afinal, quer um partido homologatório, do amém, em que as instâncias internas sejam apenas para inglês ver. Os que a ele se reaproximam agora também não almejavam coisa muito diferente, desde que satisfeitos em terem de volta o naco expropriado quando o prefeito cometeu o primeiro estupro à sigla.

3 – Nesse processo, credibilidades foram atiradas no lixo. O processo foi sustentado na mentira. E, segundo velha sabedoria, cesteiro que faz um cesto, faz um cento. Não imagino como essas vozes vão fazer interlocução com terceiros no campo político sem que sejam olhados com desconfiança. Do mesmo modo, serão será acreditados quanto fizerem juras de amor e oferecerem compromissos à cidade? Se, num episódio interno, a mentira foi a estratégia encontrada para chegar aos resultados pretendidos, de que modo não será num cenário mais amplo de interesse. De cima de um palanque, por exemplo. Credibilidade é muito difícil de construir, mas fácil de destruir.

4 – Sob certos aspectos, os fatos dos últimos dias parecem ter conduzido à chamada “vitória de Pirro”, quando o vencedor não leva coisa alguma. É o que me parece. A falsidade e o cinismo da relação mentirosa entre os oponentes de ontem não deixam dúvidas de que essa não é uma aliança consolidada. Suspeito que o final de setembro seja o prazo para novo desenlace. A repentina e mentirosa generosidade de Carlos Nelson tem prazo de validade. Agora, ele não poderia ser arriscar a perder membros renomados da sigla, o que certamente lhe criaria dificuldade na relação com as instâncias estaduais do PSDB. Além do mais, Maria Helena e Paulo juntos seriam uma bela dor de cabeça para 2012. Sendo assim, Carlos Nelson precisava amarrar a mãe e o filho até a data última de filiação partidária – nos primeiros dias de outubro próximo – em condições de disputar o pleito do ano que vem. Depois, tudo voltará a ser como antes na casa de Maria Joana em que foi transformado o PSDB de Mogi Mirim.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Coisas do cotidiano

1 – É desagradável ser necessário enfatizar, mas é inevitável. Jornalista e jornal não são culpados pela notícia. Não são agentes do fato. Fatos costumam contrariar interesses. Portanto, é preciso saber lidar com eles, especialmente quem se mete na vida pública ou nela pretende ingressar. É de provincianismo brutal essa reação de derrubar os beicinhos, torcer o narizinho, ficar de mal, agir com má vontade ou vingativamente porque a notícia não agradou. É tudo bobagem, além de ser uma cabal demonstração da incapacidade de convivência em cenário que não seja o próprio quintal. É coisa atrasadíssima, que imaginei já ter sido extirpada da bicentenária Mogi Mirim. Cometi engano.

2 – Já vai para mais de uma semana que os semáforos da esquina da praça com a rua Conde de Parnaíba e da esquina da Chico Venâncio com o Jardim Velho apresentam avaria. Há momentos em que o pedestre – que é o meu caso – não sabe o que fazer. Certamente não custará grande sacrifício nem investimento de grande porte dar uma olhadinha e promover os reparos necessários. Os mogimirianos pagam muito bem por isso e para uma série de inutilidades.

3 – Não sei quem se engana mais. Se é Carlos Nelson com João Manoel e Maria Helena. Ou se Maria Helena e João Manoel com Carlos Nelson. Se há um tecido completamente esgarçado, sem qualquer chance de recuperação, é o da relação entre os três personagens. Só ingênuos acreditariam na sinceridade de uma conversa dos três. Porque, de fato, é recíproco o sentimento de aversão que permeia a sua convivência. Acordo em tal clima me parece soar tão falso quanto nota de 30 reais.

4 – A conversa que flui agora a partir de fontes do governo municipal procura caracterizar auxiliares diretos do prefeito como vítimas, resvalando para a condição de mártires. Estão se estressando sob o peso de denúncias, algumas transformadas em procedimentos judiciais em andamento. São coitados, que se oferecem em imolação pelo povo e têm como paga a detratação. Ora, ora, meus queridos. Diria o sábio e inesquecível Vicente Matheus que ‘quem entra na chuva é para se queimar’. Os bons enfrentam as dificuldades sem choros e lamúrias e provam sua bondade. Seria maldade, por exemplo, revelar que o ministro Antonio Palocci bombou seu patrimônio em 20 vezes desde 2006? Se não é suspeito, é ao menos estranho. Ele que prove que é tudo limpo. Transferindo, é o que se aplica em todos os casos, em todas as esferas. Sem lágrimas, até porque em muitas vezes falsas.

5 – Por último, é sempre oportuno lembrar que a política é mesmo um antro de crueldade. As relações nem sempre marcadas pela ética e pela retidão. Adversários são transformados em inimigos, a quem, se for possível, muitas vezes se quer abater pelas costas. Madre Tereza de Calcutá jamais se filiaria a partido político. Se me entendem...

sábado, 14 de maio de 2011

A causa é boa

1 – A bola da vez, agora, atende pelo nome de Corpo de Bombeiros. Não faz pouco tempo que a cidade almeja possuir uma unidade da corporação, a despeito de possuir a sua Brigada de Incêndio, aliás com excelentes serviços prestados. O serviço oferecido pelo Estado, entretanto, desfruta de melhor estrutura, semelhante à qual o Município não é capaz de oferecer. Lembro que, em seus longos tempos de vereança, Marilene Mariottoni se interessou pelo assunto, mas não conseguiu avançar o suficiente. Agora, a perspectiva é concreta. Haverá quem diga ser desnecessário, ainda mais quando a cidade já conta com alguma coisa na área, que é a Brigada. Mas, bombeiro é algo assim: sua importância se enfatiza pela ausência.

2 – As regras para que Mogi Mirim venha a ser dotada do serviço, talvez até com hierarquia de comando regional, implicam instituir uma taxa para custear a manutenção do órgão. Tal exigência, na verdade, nem é nova. Já existia quando a vizinha Mogi Guaçu obteve a instalação do Corpo de Bombeiros em um dos governos de Carlos Nelson, antes que ele atravessasse a fronteira. É possível que interferências políticas tenham driblado a exigência, jamais adotada. Agora, os comandos da corporação não abrem mão. Ou a taxa ou não tem bombeiro do Estado.

3 – Defender instituição de taxa não é algo que cause aplausos. É tarefa incômoda, desagradável, politicamente não muito correta. Mas, exercer mandato é, de vez em quando, se defrontar com missões pouco simpáticas. Como agora. O que pega é o fato de a sociedade já estar escorchada de tantos tributos que paga, da hora que levanta até o momento em que se entrega ao repouso merecido. Portanto, falar de taxa equivale a falar de corda em casa de enforcado. Mas, no caso presente, me parece que vale o sacrifício.

4 – De um lado, pelo ganho que a cidade obtém. O serviço de combate a incêndio é, entre aqueles prestados pelo poder público, um dos mais eficientes e respeitados pela população. Não se subordina a injunções políticas. Não há bombeiro nomeado por indicação de vereador, deputado ou senador. Os soldados são profissionais e como tal agem. Aliás, raridade na esfera pública no Brasil. Portanto, aquilo que for pago para a manutenção da corporação será, com toda segurança, aplicado no estrito interesse da mesma.

5 – Por outro lado, a quantia a ser recolhida pelos contribuintes se afigura irrisória. Dirão: mas o bolso do contribuinte já não aguenta mais. No caso, como já disse linhas acima, vale o sacrifício pela importância do serviço e a segurança no emprego dos recursos. Aliás, este é o melhor tipo de tributo (se tributo pode ser alguma coisa agradável): os recursos têm destinação direta, ao contrário do IPTU, por exemplo, do qual um naco vai para os salários de acólitos e puxa-sacos nomeados à vontade da autoridade de plantão. Como está acabando o espaço, resumo: a causa é boa.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Dúvidas ficam no ar

01 – Fui privilegiado com muitas lições do mestre Jorge França Camargo. Uma delas: as decisões tomadas em plenário, independente dos favoráveis e contrários, são sempre da Câmara Municipal. Quando uma lei é aprovada, é a Câmara que aprova. O contrário é verdadeiro. Portanto, na segunda-feira, a Câmara decidiu não investigar as denúncias sobre problemas no Departamento de Serviços Municipais, de autoria do ex-assessor Maurício Gusmão. Sendo assim, considero – do alto da minha insignificância, ao contrário dos que se manifestam do porão de sua sabedoria – que a maioria levou o Legislativo a um equívoco.

02 – O leitor vai dizer: mas este assunto de novo? Pois é. Que fazer se os fatos nos conduzem a certas inevitabilidades. Os argumentos de parte de alguns que rejeitaram a constituição da Comissão de Investigação são de pobreza espantosa. Um, porque o autor do requerimento era Robertinho Tavares, que teria sido informado das irregularidades há bom tempo, silenciando a respeito. Outro, sob a desculpa de que há sindicância instaurada na Prefeitura e, se esta não levar a nada, aí é o caso de enfiar a mão na cumbuca. Deus do céu. Isto é colocar explicita e confessadamente a Câmara a reboque do Executivo.

03 – Acho até que a Câmara acertou ao não entrar no caso do cartel das empresas prestadoras de serviços de assessoria em área de pessoal, uma vez já existir amplo e caudaloso processo nas mãos da promotora Cristiane Correa de Souza Hillal. Para acompanhar o andamento do processo não é preciso comissão, mas apenas interesse e iniciativa. No caso de segunda-feira, não havia uma só razão que recomendasse a rejeição da comissão. É preciso ser justo com a maioria, que mandou o caso para a sepultura. A minoria não se entusiasmou com o caso. Votou pela aprovação do requerimento de Robertinho ao que parece fazendo a obrigação. Certas condutas humanas são mesmo cercadas de mistérios insondáveis.

04 – Então, vamos aguardar? Vamos aguardar o nada. Porque desse ventre emprenhado nada vai sair. Joga-se com o esquecimento, apostando na versão segundo a qual o brasileiro – e o mogimiriano não escapa – é curto de memória. Em parte é verdadeiro. Eu pensava em ser óbvio que os legisladores se interessassem não necessariamente em condenar, porque de resto não é essa a única finalidade de qualquer investigação. Ela se destina a esclarecer. Fez-se, portanto, a opção contrária, meio como se fosse jogar para debaixo do tapete.

05 – Minha avaliação pode ser a mais improcedente de todas, mas entendo que o mal está feito. A dúvida foi lançada, alcançando personalidades do governo. E permanecerá pairando. Com grande chance de ser exumada na campanha eleitoral do ano que vem. O que será péssimo. Porque péssima foi a decisão de nada esclarecer. Finalizo com uma interrogação: seria estratégico, sob o ponto de vista político, manter a incerteza no ar? Aconselho meus botões a ficarem em silêncio.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Temática casual

1 – Quem ocupa cargo público, seja em que esfera for, precisa ter uma compreensão exata de sua função, das responsabilidades, das obrigações e dos deveres. Tem todo o direito, por exemplo, de não gostar do que o jornal publicou e tudo o mais. Não tem o direito de querer ser o proprietário do cargo e de operá-lo segundo suas vontades, humores ou preferências pessoais. Esse negócio de mi-mi-mi, de não-me-toques, não-me-reles é coisa de ontem, de muitos ‘ontens’, além de insuportavelmente arbitrária. Quem quer comer manjarzinho todo dia deve escolher profissão que proporcione essa benesse e esse conforto.

2 – Mudando de pato para ganso, a saída de Sidney Carvalho do cenário político sugere, a mim pelo menos, que Gerson Rossi deverá mesmo, a qualquer hora, tomar o caminho do PSDB. Por mais que Sidney afastasse a hipótese, era nome considerado nos arraiais tucano-oficiais para 2012. Excluído, vejo subir intensamente a cotação do chefe do Gabinete do Prefeito. Hoje, a meu juízo, é o candidato. Não vejo concorrência no oficialismo. Nem de sua prima, Flávia. A única condição, agora, é de que Gerson abandone o PPS, que aliás preside, e ingresse no PSDB.

3 – É uma questão a me parecer óbvia. O prefeito não poderá apresentar um candidato à sua sucessão que não seja do PSDB, que é o seu partido e o que domina o Estado há quase duas décadas. Poderá aliar-se e é o que fará para a indicação do vice – ou da vice? Mas, obrigatoriamente, a candidatura à Prefeitura terá que sair do tucanato, até por uma questão de honra para quem terá governado por oito anos, parte deles como filiado ao PSDB. Não ficaria muito legal a Carlos Nelson empunhar a bandeira de outro partido em sua sucessão, o que poderia ser interpretado como fragilidade do PSDB. Estão reunidos, então, os ingredientes para Gerson Rossi cobrir-se com a plumagem tucana.

4 – E por que é preciso Gerson arribar? Porque, com Sidney Carvalho definitivamente fora do páreo, o PSDB está inteiramente desprovido de alternativas viáveis. Como não dizer que, em tese, Maria Helena poderia ser o nome, considerando experiência anterior e o montante de votos que recebeu. Todavia, a vereadora faz parte da ala abominada por Carlos Nelson & Cia. A ala maldita, que o governismo não quer ver sequer pintada de ouro. Há menções a Osvaldo Quaglio. Pode ser no máximo para vice, o que se inviabiliza na medida em que a cabeça da chapa caiba aos tucanos. Resumindo, os rios correm para Gerson Rossi, que foi alvo de um mais do generoso elogio de Carlos Nelson. Foi, mais do que isso, um elogio sinalizador.

5 – Descortinado esse panorama, acho que a oposição pode, com razoável antecedência, começar a mover suas peças. Ou reunir-se em torno de alguém com efetiva capacidade catalisadora ou sair amalucadamente pelas ruas a apregoar nomes para todos os gostos e entregar o prato e os talheres para a situação fartar-se em mais um banquete eleitoral.