domingo, 30 de novembro de 2008

Não era mosca morta

Até os analistas mais reputados, com altíssimo índice de audiência e leitura, davam com favas contadas a conquista do título pelo São Paulo, neste domingo, diante do Fluminense.

Não li ou ouvi uma única previsão que fosse, de que o São Paulo corria o risco de não vencer o Pó de Arroz carioca. Pois todo mundo queimou a língua.

Penso que o erro esteve em esquecer que o adversário do time de Muricy não era uma mosca morta, mas o Fluminense, de Fernando Henrique, Thiago, Conca, Arouca e Washington, entre outros.

O Fluminense é um belíssimo time, que só desceu aos riscos do rebaixamento por um erro estratégico da direção, enquanto disputava a Libertadores, e pela arrogância de Renato Gaúcho.

De todo modo, ganhar era a obrigação do São Paulo, já que jogando com casa lotada. Foi incompetente. E acho que deu o pontapé no balde. Acho que nos próximos dias vão ter duas festas no Sul: do Internacional, com o título da Sul-Americana, e do Grêmio, com o Brasileiro.

No caso do Grêmio, não é idéia que me agrade, como são-paulino que sou. Mas, é um fantasma que me incomoda.

sábado, 29 de novembro de 2008

Lá e cá

A Itália vai aplicar um imposto específico sobre todos os materiais e manifestações artísticas relacionados à pornografia. É a medida com a qual o governo comandado pelo conservador Silvio Berlusconi pretende enfrentar a crise econômica.
Aqui, onde a crise ainda nem se manifestou explicitamente, vão pagar o pato os contribuintes do Imposto Predial e Territorial Urbano. Que vão dos magnatas aos miseráveis.

Espremendo o conta-gotas

1 – Se tentei entender as condutas adotadas pela nova diretoria do Mogi Mirim, sob a batuta de Rivaldo, hoje compareço para dizer que se afigura absolutamente nonsense essa esdrúxula providência de internar jogadores no clube e sonegar a sua identificação, a pretexto de que ainda não estão oficialmente contratados. No rol das tolices que testemunhei em quase quatro décadas de carreira profissional, nada jamais chegou próximo.

2 – O governo municipal bateu no peito como primata diante das inúmeras ações e contestações do Ministério Público a atos e iniciativas de sua lavra. Agora, termina no beija-mão, discutindo acordos para obter soluções que poderiam ter sido abreviadas na origem.

3 – Jamais vi investidor – ou especulador? – imobiliário algum temer e tremer diante do peso dos impostos, especialmente do IPTU. Não será agora, portanto, por mais que seja cruel a mão do fisco municipal, que eles vão dobrar a espinha ou pedir água. Pensar nisso é operar puerilmente ou usar o argumento como areia nos olhos dos incautos.

4 – A importância de certas personalidades se revela na ausência. Nesse lufa-lufa entre a Prefeitura e Santa Casa, faz muita falta um Arthur de Azevedo. Nem sempre foi compreendido, mas o mérito de amante da cidade e apaziguador de conflitos jamais lhe poderá ser negado.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Maldade pós-eleitoral

Não figurava em qualquer expectativa que, antes ou depois da eleição, fosse gestada a proposta de correção dos valores imobiliários para efeito de cobrança do IPTU, o mais direto de todos os tributos pagos pelos contribuintes. Menos ainda se desconfiava que a correção pudesse vir no calibre em que foi gestada.

Não há maldade em si no fato de se atualizar o valor venal dos imóveis, o que é da prerrogativa e da responsabilidade de quem governa. Hora ou outra isso deve e precisa mesmo ser feito. O silêncio com que tudo foi engendrado, a forma e a hora em que o projeto foi encaminhado à Câmara é que deu tinturas de maldade pós-eleitoral à iniciativa.

Se aumento de imposto nunca é recebido com aplausos, imagine-se quando isso sinaliza com índices que superam o dobro da situação vigente. A reação é natural. E inevitavelmente vem acompanhada de componentes políticos e emocionais. É manjar para os críticos e os oponentes. E nessa esteira vêm os excessos de manifestações.

Objetiva e racionalmente olhada, a proposta enfiada na goela dos vereadores contém algumas nuances contestáveis. A primeira quanto ao encaminhamento em si, exigindo apressamento na votação. O que parece ser proposital. O prolongamento da discussão tenderia a originar demandas de pressão sobre a base legislativa, podendo convencer um ou outro, por convicção ou por medo, a se opor à matéria.

Não era de interesse do governo municipal, assim, que a questão fosse discutida. Como a Câmara peca pela renúncia à independência, está sendo feito conforme o figurino previamente traçado no andar de baixo. O outro aspecto questionável está no peso do embrulho. De uma só vez, decidiu-se por corrigir defasagem de anos – parece-me cinco.

Neste caso, também fico a imaginar que a decisão foi estrategicamente proposital. A atualização gradual dos valores dos imóveis representaria a produção de dores a cada ano que fosse adotada. O prefeito optou por sofrer tudo de uma vez só, com certeza apostando na máxima de que o povo não tem memória e, daqui a um ano, terá esquecido a penada que levou.

Eis o quadro, segundo meu modesto juízo. A maldade está feita. Não creio em reversão na segunda votação, que corresponde ao julgamento do mérito da proposta. A primeira é quanto à legalidade, pela qual já passou. E não há perspectiva de algum dos integrantes da banda de música governista vá desafinar no segundo concerto, afinada que está, por obrigação, com a partitura urdida no Gabinete do Prefeito.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Lembrando Antonio Maria

É uma falácia total essa conversa de que a imprensa tem o dever de criticar o poder naquilo que ele não faz ou faz errado e de reconhecer os seus acertos, divulgando seus feitos.

Quem assume o poder o faz com o compromisso de fazer. Portanto, fazer não é mais do que a obrigação. Portanto, fazer não contém aspecto excepcional para, por si só, virar notícia. E notícia, como dizem os manuais desde Gutemberg, é o excepcional.

Não fazer ou fazer mal é o excepcional. Não só é notícia, num sentido amplo, como exige da imprensa a obrigação de denunciar à sociedade, inclusive para que esta se mova na defesa dos seus direitos.

Reconheço que somos extremamente generosos com o poder. O que não satisfaz o poder. Por isso, quando se defronta com a notícia ruim – para ele – tenta plantar cercas para isolar a imprensa do contato com ele. Nítida tentativa de garroteamento.

Os controlares do poder pensam que, cerceando o acesso, tiram o oxigênio da imprensa. Bobagem monumental. Antonio Maria, grande jornalista, letrista e compositor, cunhou frase célebre na década de 40, ao ser jogado em uma masmorra da ditadura de Getúlio.

Sob suas unhas, os capatazes do regime enfiaram fiapos de madeira, para impedi-lo de escrever. Ao receber a filha na cela e diante do espanto dela, disse em relação aos autores da agressão: “Bobos. Eles não sabem que os jornalistas não pensam com os dedos”.

Mutatis, mutandis, a frase se aplica a caso recente. No seguinte sentido: eles não sabem que os jornalistas não dependem do poder.

sábado, 1 de novembro de 2008

O poder da palavra

Sou um incorrigível viciado no debate de idéias. Gosto de uma prosa, de uma discussão, de confronto de pensamentos. E gosto porque vejo nisso um instrumento eficaz de enriquecimento humano.

Dos confrontos, independente de vencidos e vencedores, sempre se leva alguma coisa. Claro que em sendo suficientemente humilde. Porque há – e os conheço de sobra – os arrogantes, que não se movem um milímetro de suas pétreas posições. Mesmo que erradas e, às vezes, até despropositais.

É assim que imagino as relações sociais, quando elas se põem no campo das divergências. Faço isso teimosamente há anos, aqui hoje, ontem em outros cantos, mesmo que ciente da irrelevância do que penso e, por isso mesmo, do traço que alcanço do ponto de vista de leitura.

As guerras, que tantos prejuízos vêm produzindo milenarmente à humanidade, são fruto da intolerância, da incapacidade para o diálogo e, principalmente, da recusa a praticá-lo. Tenho como convicção que não há divergência alguma que não possa ser superada pela força da palavra e dos argumentos, que são os combustíveis do diálogo.

Na profissão que adotei, aprendi desde o primeiro minuto que essa concessão a escutar é princípio elementar, basilar. Vivemos permanentemente no centro do conflito, no olho do furacão. Seja porque mexemos com fatos, seja por que lidamos com interesses. Confesso que é difícil dar braçadas em mar tão bravio. Mas, é preciso aprender a fazê-lo. E fazê-lo.

Quando constato condutas opostas, me aborreço muito. Mais do que isso: me decepciono. A cada episódio, perco uma porçãozinho da réstia de esperança que o velho peito de mais de 60 anos ainda teima em cultivar. E perco porque imagino que a sociedade é um ente em evolução, que se aprimora com o avançar dos tempos. Esse avanço espetacular, entretanto, não tem se revelado suficiente para escoimar da nossa convivência o espírito da truculência e da brutalidade.

Ora, em tal circunstância cumpre tentar trazer para a civilidade os que ainda habitam a escuridão da ignorância. Descer ao fosso seria contrariar a lei natural da evolução e devolver o mundo aos seus primórdios, quando litígios eram resolvidos pelo peso da força e pelo esmagamento do litigante.

Se é impossível resgatar para a claridade aqueles que insistem em viver nas trevas, cumpre aprender a conviver com eles. Ao contrário da desforra, da vingança, da retaliação e da represália, devem ser tratados com tolerância e compreensão, ainda mais quando a vida já lhes deu tempo suficiente para a resignação.

É assim que os trato, com a consciência de que, no fundo, todos somos seres humanos, com virtudes e defeitos, mesmo que muitos destes últimos, por teimosia ou megalomania, se esforcem em não se enxergarem e não se corrigirem.